Joann Lublin: “Escolha o seu parceiro de vida com sabedoria, especialmente se deseja ter filhos”

Com cada vez mais desafios no mundo do trabalho, a colunista do Wall Street Journal, que publicou recentemente um livro nos EUA, defende que as empresas devem ter políticas mais amigas das famílias.

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Reuters/ERIN COVEY CREATIVE

A vida é feita de equilíbrios, dirá qualquer pai ou mãe que trabalhe. É tudo uma questão de saber como equilibrar as responsabilidades entre o trabalho, a casa e a família, sem que tudo se desmorone. Agora, a pandemia tornou esse malabarismo ainda mais complicado. Mas não impossível, defende Joann Lublin, colunista do Wall Street Journal, que acaba de publicar o livro Power Moms: How Executive Mothers Navigate Work and Life (numa tradução livre: Mamãs Poderosas: Como É Que as Mães Executivas Navegam entre o Trabalho e a Vida Pessoal), nos EUA.

Em entrevista à Reuters, a especialista defende que as empresas devem ser mais amigas das famílias e terem políticas de promoção da natalidade. O teletrabalho veio para ficar, acredita, e este pode ajudar as famílias a conseguirem conciliar os filhos com a carreira. Para as mulheres tem conselhos muito práticos, como escolher com “sabedoria” seja o companheiro de vida, seja o local do trabalho e, já se sabe, rodearem-se de pessoas boas, que as ajudem a progredir.

O que está a acontecer com o emprego feminino neste momento?
A pandemia teve um efeito muito severo sobre as mulheres trabalhadoras. O impacto da perda de empregos caiu sobre os ombros das mães que trabalham. As mulheres colocam um fardo pesado sobre si mesmas e a responsabilidade de cuidar dos filhos e da casa ainda é delas.

Quais considera serem as próximas tendências na área do emprego?
Há uma boa lição desta experiência horrível que estamos a viver: o trabalhar em casa. Antes, muita gente pensava que era algo impossível, mas agora há dados que sugerem que é possível e que pode funcionar. Por isso, é preciso mantermos esta experiência, mesmo quando pudermos regressar aos locais de trabalho, sobretudo para não penalizar os pais que trabalham em casa.

Como chegou ao título do seu livro, Mamãs Poderosas?
A inspiração veio depois de escrever o meu primeiro livro sobre mulheres executivas, chamado Earning It. Então, descobri que muitas dessas CEO de alto nível tinham filhos. Isso fez-me pensar, em comparação com a onda actual de mulheres mais jovens em cargos executivos, sobre o que mudou ao longo dos anos, o que é melhor e o que continua igual? Para este livro, entrevistei 86 mães executivas, igualmente divididas entre boomers (nascidas depois da Segunda Guerra e até às que nasceram na década de 1960) e gerações mais jovens, como a Geração X (nascidas entre 1960 e 1980) e millennials (ou Geração Y, nascidas depois de 1980). Na verdade, até entrevistei filhas de boomers, para descobrir como era crescer com uma mãe poderosa.

O que mudou?
Os empregadores agora entendem que, se quiserem atrair os melhores e mais brilhantes, precisam de ter práticas mais amigas das famílias. Isso não acontecia com a geração boomer, porque as mães que trabalhavam não eram vistas como estando comprometidas com as suas carreiras. Outra mudança é que as mães da Geração X tendem a ter cônjuges altamente envolvidos, ou seja, homens que “entendem” e se comprometem com a carreira das suas companheiras e estão dispostos a partilhar a parentalidade com elas. A terceira mudança é que o avanço tecnológico permite que se trabalhe a partir de casa.

Como é que os empregadores podem ajudar os pais que trabalham?
O local de trabalho deve ser acolhedor para as mães e pais que trabalham. O compromisso das administrações das empresas é fundamental para reconhecer a parentalidade como uma parte importante da vida dos seus funcionários. As administrações precisam de proporcionar o máximo de flexibilidade e licenças remuneradas, além de dar outros benefícios como pagar a creche. Mas é preciso haver um modelo exemplar; caso contrário, os pais não tirarão proveito dessas políticas.

Neste período, os pais estão esgotados, porque estão em teletrabalho e em casa com os filhos. Que conselhos tem para eles?
Tire uma folga. Perdoe-se a si mesmo. Aceite o facto de que as coisas nem sempre vão resultar. Faz parte ser imperfeito. E certifique-se de estar em comunicação com pessoas que estão no mesmo barco — antigamente não existiam redes sociais, mas agora é possível encontrar muitas pessoas com ideias semelhantes, que estão a passar pelo mesmo e que podem ajudar-se entre si.

Quais são as lições que as Mamãs Poderosas devem tirar do seu livro?
Três lições importantes: escolha o seu parceiro de vida com sabedoria, especialmente se deseja ter filhos. Em segundo lugar, escolha o seu empregador com sabedoria; valerá a pena, se for um local de trabalho que tenha políticas amigas da família. Em terceiro, escolha os seus mentores com sabedoria, pessoas para a aconselhar e orientar em momentos-chave da sua carreira.

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