Chegou o momento da redenção. Benfica precisa de um all-in na Liga Europa

Poderá ser o sucesso europeu a separar uma época aceitável de um total descalabro de Jorge Jesus e Luís Filipe Vieira. É com o corpo a balançar neste abismo que o Benfica encara 180 minutos de futebol frente ao Arsenal. Os primeiros 90 são já nesta quinta-feira (20h, SIC), em Roma.

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Jogadores do Benfica treinam antes da partida frente ao Arsenal LUSA/TIAGO PETINGA

Em período de Carnaval, a Liga Europa assumiu também a sua máscara. Deixou de ser apenas uma competição europeia para se mascarar, perante o Benfica, de barco salva-vidas. Na temporada em que fez o maior investimento de sempre no plantel, o clube “encarnado”, a 13 pontos do líder da I Liga, o Sporting, já só vê o título nacional como uma quimera.

Com o primeiro objectivo praticamente aniquilado pelos sucessivos tropeções, o Benfica tem, em linguagem de póquer, de fazer um all-in na Liga Europa – nem um triunfo na Taça de Portugal será per si música para os ouvidos benfiquistas.

Porquê tanta pressão? Porque, dirão os adeptos “encarnados”, se fosse para vencer apenas a Taça de Portugal – algo que nem é líquido que aconteça –, então não teria sido necessário ir buscar Jorge Jesus. E muito menos gastar 105 milhões de euros em contratações. E será o sucesso europeu a separar uma época salva de um total descalabro de Jorge Jesus e Luís Filipe Vieira.

É com o corpo a balançar neste abismo que o Benfica encara 180 minutos de futebol frente ao poderoso e teoricamente favorito Arsenal. Os primeiros 90, a serem jogados em Roma, por culpa das restrições de voos, são já nesta quinta-feira (20h, SIC), em jogo dos 16 avos-de-final da Liga Europa.

Apesar deste contexto, Jorge Jesus recusou o epíteto de “tábua de salvação” atribuído pela imprensa. “Não há tábuas de salvação. Entramos nesta prova sempre com a intenção de chegar o mais longe possível. Não se trata de tábua de salvação, mas sim do projecto de ir o mais longe possível na competição”, apontou, na conferência de imprensa de antevisão da partida.

O que esperar do Arsenal?

O Arsenal é, por estes dias, uma equipa totalmente imprevisível. A equipa teve um período mau no início de Dezembro (duas vitórias em sete jogos), depois encarrilou, com cinco triunfos em seis partidas, antes de uma nova fase instável – chega a este encontro com o Benfica depois de apenas duas vitórias nos últimos seis jogos.

É difícil prever que Arsenal irá a Roma, em matéria de capacidade, mas é possível prever alguns padrões de comportamento. É a equipa mais fraca da Liga inglesa no jogo aéreo e também surge no pelotão traseiro da Liga Europa nesse capítulo. Apesar disso, o Arsenal é uma equipa de concede poucos remates aos adversários, factor que ajuda a que a equipa tenha uma defesa pouco batida.

Ofensivamente há um dado curioso. Das 48 equipas da Liga Europa, o Arsenal é das que maior variação de jogo tem – 40% pela esquerda, 24% pelo meio e 36% pela direita. Este detalhe dificultará, por certo, a preparação do jogo por parte do Benfica, que não poderá focar-se em anular apenas uma via ofensiva dos ingleses.

Ainda assim, Jorge Jesus não teve pudor em assumir que Aubameyang e Lacazette são focos de atenção especial. “Vai ser importante que a equipa esteja bem estruturada defensivamente, para poder anular os dois jogadores da frente, individualmente muito fortes”, delineou. E avançou a possibilidade de alterar a matriz habitual da equipa em função deste adversário.

“Podemos não ser aquela equipa com tantos avançados, como normalmente somos no campeonato português. Sabemos que a equipa do Arsenal tem um ataque poderoso, com muita qualidade individual. Portanto, temos de fazer algum equilíbrio para que as coisas se tornem mais fáceis”, apontou.

Com o português Cédric consolidado como lateral-esquerdo, apesar de ser destro, Jorge Jesus terá uma decisão interessante para tomar: manter do seu lado direito um extremo de movimentos interiores, como Rafa ou Pedrinho, que facilitam a vida ao destro Cédric, ou optar por um jogador destro do lado direito (repetindo a experiência com Everton nesse corredor), forçando Cédric a ter de defender por fora, com o seu pé esquerdo mais exposto.

Mais do que esta opção particular, a grande dúvida no Benfica será perceber se o sistema de três centrais, que Jesus apontou como solução para as competições europeias, será já uma realidade. Se for, Lucas Veríssimo poderá estrear-se como jogador do Benfica, num trio com Otamendi e Vertonghen.

Talvez David Luiz e Cédric tenham ajudado neste capítulo. Mikel Arteta, treinador do Arsenal, assumiu que falou com o brasileiro (que reencontrará o Benfica) e o português sobre os “encarnados”. “Estou sempre interessado na história de como foram treinados lá. É sempre útil ter jogadores que conhecem tão bem o adversário e esse campeonato”.

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