Resposta ao coronel Rodrigo Sousa Castro

Pessoalmente felicito-o por se ter retractado, mas desta vez sou eu que me interrogo: e o pensamento que produziu o tweet também foi apagado?

Na sua resposta ao meu artigo “Há anti-semitismo em Portugal?”, publicado neste jornal no passado dia 11 deste mês, o coronel na reforma Rodrigo Sousa e Castro interroga-se longamente sobre as motivações que me levaram a escrever esse artigo, acabando por concluir que se trata de uma espécie de “libelo acusatório” do tipo da “Santa Inquisição” contra a sua pessoa, “ofendendo gravemente o [seu] carácter e fazendo tábua rasa de toda uma vida de serviço”.

Desta feita seria a minha vez de me ofender com as acusações do senhor coronel. Mas não me ofendem, porque não me atingem. Prefiro explicar-lhe pacientemente que a resposta às suas interrogações não estão em obscuros motivos da minha parte, mas tão-somente nas suas próprias palavras atingindo os judeus de uma forma geral e os “nazi-sionistas” também de uma forma genérica. Pessoalmente felicito-o por se ter retractado, mas desta vez sou eu que me interrogo: e o pensamento que produziu o tweet também foi apagado?

Também quero esclarecer que não pus nem ponho em causa o seu passado de combatente contra a ditadura e pela liberdade. O que eu disse é precisamente o contrário: é exactamente esse passado que lhe atribui uma responsabilidade perante o presente e que torna mais graves as suas palavras. Contrariamente ao que quer fazer crer, o passado de cada ser humano, tal como as condecorações, não os torna imunes e intocáveis para a eternidade. São o reconhecimento de um passado e não um seguro de garantia para o futuro. Este depende do que nós fazemos dele.

O senhor coronel prefere ir por outro caminho: o de questionar a minha autoridade moral pelo facto de nunca me ter visto “denunciar em tempo da ditadura a ostracização a que foi votado Aristides de Sousa Mendes”.

Não pude deixar de ler isto com um sorriso. Não só não era nascida no tempo em que Sousa Mendes regressou à pátria e não passava de uma criança quando ele morreu, como ao longo da minha vida adulta tenho defendido a sua memória, assim como dos outros “justos” portugueses que salvaram os perseguidos pelo nazismo. E, sim, senhor coronel, também eu, à minha maneira bem modesta e errando frequentemente nos caminhos, lutei contra a ditadura e pela liberdade. Mas isso o senhor não sabe, nem precisa de saber.

Termino, respondendo a mais uma acusação. A de não de “lamentar as injustiças dos actuais dirigentes israelitas contra o povo palestiniano”. Mais uma vez, não tem razão. Sou portuguesa, judia e sionista. Defendo a existência do Estado de Israel e discordo das políticas seguidas pelo seu Governo, e não é esta a primeira vez que o digo ou escrevo em público. Mas nunca reconhecerei a autoridade nem a idoneidade de quem quer que seja que se permita utilizar a expressão “nazi-sionista”. Ela revela simplesmente a ignorância do que foi o nazismo e o ódio engendrado por uma total cegueira ideológica.

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