ONU vai perguntar aos Emirados o que se passa com a princesa Latifa

A filha do emir do Dubai conseguiu enviar alguns vídeos a amigos a partir do cativeiro. As pessoas querem ver se “ela está viva e bem”, diz o Governo britânico.

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A princesa Latifa numa imagem de uns um dos vídeos obtidos pela BB BBC
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O pai da Latifa, Mohammed bin Rashid al-Maktoum, na recepção ao Papa Francisco, em Fevereiro de 2019 TONY GENTILE/Reuters

A filha do emir do Dubai, que tentou fugir do emirado em 2018 mas foi obrigada a regressar à força, enviou em segredo uma série de vídeos aos amigos entre 2019 e 2020 – até que o ano passado, o telefone que usava deixou de receber mensagens. Preocupados com a segurança da princesa Latifa e face ao seu silêncio, os amigos decidiram agora divulgar as imagens que a BBC e a Sky News transmitiram na terça-feira à noite.

Os vídeos são gravados na casa de banho da villa do Dubai onde se encontra, “transformada numa prisão”, a única divisão cuja porta pode ser trancada. “Todas as janelas estão trancadas. Há cinco polícias lá fora e dois dentro da casa. Nem sequer posso ir lá fora apanhar ar fresco”, diz Latifa num vídeo de Abril de 2019. “A minha vida não está nas minhas mãos”, afirma, dizendo ter medo de “nunca mais ver o sol”.

As Nações Unidas dizem que vão fazer perguntas sobre a sua detenção aos Emirados Árabes Unidos (UAE, na sigla em inglês) – o pai da princesa é o xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoum, vice-presidente dos Emirados e líder do Dubai. “Vamos certamente levantar estes novos desenvolvimentos com os UAE”, diz o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville. “Outras partes do sistema de direitos humanos da ONU com mandados relevantes poderão também envolver-se depois de terem analisado o novo material”, admite.

Um porta-voz do Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenções Arbitrárias disse entretanto que poderá ser aberta uma investigação depois da análise aos novos vídeos da princesa Latifa.

“Estamos muito preocupados”, afirmou já esta quarta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab. Descrevendo os vídeos como “profundamente perturbadores”, mostrando “uma jovem mulher em angústia profunda”, Raab garante que o Reino Unido vai seguir quaisquer desenvolvimentos que venham das Nações Unidas “de muito perto”. “A um nível humano as pessoas querem ver que que está viva e bem”, acrescentou.

A verdade é que o emir Rashid al-Maktoum faz parte do establishment britânico: amigo da família real, passa bastante tempo nas suas várias residências no Reino Unido, onde os seus cavalos entram frequentemente em corridas.

E há quase um ano, um tribunal de Londres deu como provado que o xeque ordenou o rapto de duas das suas filhas, Latifa e Shamsa. A irmã de Latifa terá sido sequestrada na rua em Cambridge, quando tinha 18 anos, em 2000. Já Latifa, como a própria descreve nos vídeos, foi drogada e raptada de um barco ao largo da Índia, poucos dias depois de ter fugido, em Fevereiro de 2018.

O tribunal julgava as queixas feitas pela ex-mulher do xeque, a princesa Haya bin al-Hussein, irmã do rei da Jordânia, que em Abril de 2019 viajou com os filhos para o Reino Unido e abriu um processo de divórcio onde pedia a guarda dos filhos, dizendo temer pela sua vida e precisar de proteger a filha, Jalila, então com 12 anos, que estaria prometida em casamento ao príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman.

Os vídeos de Latifa foram divulgados pela sua amiga, Tiina Jauhiainen, que a ajudou a fugir, pelo primo materno Marcus Essabri, e pelo activista dos direitos humanos David Haigh, todos envolvidos na campanha Free Latifa.

Entrevistada pelo programa Panorama da BBC, Jauhiainen conta como viu na declaração do tribunal sobre Latifa “um grande progresso”. Mas Latifa continua no Dubai e agora nem recebe as suas mensagens. “Como já passou muito tempo, decidimos divulgar algumas destas provas”, explica. “Houve algumas noites sem dormir a pensar nisso mas é tempo de fazer alguma coisa.”

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