Candidatos que disputam passagem à segunda volta no Equador em desacordo quanto à recontagem de votos

Movimento indígena que apoia Yaku Pérez está a planear novas manifestações para denunciar o que diz ser a fraude eleitoral que visa impedir o seu candidato de chegar à segunda volta.

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Apoiantes de Yaku Pérez, na semana passada, numa concentração em frente ao Conselho Nacional Eleitoral Reuters/STRINGER

A incerteza voltou a tomar conta do controverso processo de contagem dos votos das eleições presidenciais equatorianas. Teme-se o regresso dos protestos às ruas do país sul-americano, que ainda tem fresco na memória a tensão das manifestações de Outubro de 2019.

Uma semana depois da primeira volta das eleições presidenciais, tudo parecia encaminhado para que os votos em várias províncias voltassem a ser contabilizados. O objectivo é apurar qual foi o candidato com o segundo maior número de votos a 7 de Fevereiro, que ganhou direito a disputar a segunda volta com o ex-ministro Andrés Arauz, candidato escolhido pelo antigo Presidente, Rafael Correa, a 11 de Abril.

O lugar é disputado praticamente voto a voto pelo ex-governador e líder indígena Yaku Pérez e pelo conservador Guillermo Lasso, que tenta chegar à presidência pela terceira vez. Na última actualização, os dois estavam separados por pouco mais de 20 mil votos, com vantagem para Lasso, mas Pérez tem apresentado denúncias de fraude e exige uma recontagem em algumas províncias.

No fim-de-semana passado, os dois candidatos tinham chegado a acordo ao fim de uma maratona negocial para que fossem contados todos os votos na província de Guayas e metade noutras 15 regiões.

Porém, escassas horas depois, o acordo caiu por terra depois de Lasso ter exigido que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) concluísse a primeira contabilização e certificasse os resultados, e só depois é que se procedesse à recontagem. Pérez não reagiu bem à adenda feita pelo conservador e voltou a insistir nas denúncias de fraude. “Por que se volta atrás na recontagem dos votos? O que fez você e o CNE que não querem que o Equador saiba?”, questionou o líder indígena, dirigindo-se directamente a Lasso.

No meio do impasse, a direcção do CNE não conseguiu aprovar os procedimentos legais que autorizam a recontagem. O próximo passo é a certificação oficial dos resultados da primeira volta nos próximos dias, explicou a presidente do organismo, Diana Atamaint, que devem colocar Lasso na segunda volta.

Porém, a porta não fica fechada a uma futura recontagem, com a possibilidade de os candidatos poderem contestar os resultados fixados, mas o cenário de uma solução consensual entre os dois candidatos parece agora afastado. “Lamentavelmente, não se deu resposta ao pedido, nem se aprova, nem se nega”, disse Atamaint, referindo-se ao acordo para a recontagem.

A ausência de uma solução que ponha fim à incerteza arrisca reacender a crispação política no Equador. Pérez disse que pretende apresentar um novo programa de acção face à indecisão no CNE e o movimento indígena está a convocar os seus apoiantes para novas manifestações.

Em cima da mesa está a possibilidade do regresso do cenário de revolta de Outubro de 2019, quando o Equador ficou paralisado durante várias semanas por causa de manifestações contra o fim dos subsídios para os combustíveis. Um sinal de que as ruas podem voltar a levantar-se foi dado pelo reforço da segurança policial em torno do edifício onde está sediada a CNE, em Quito, desde terça-feira.

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