Morreu o investigador Luís Salgado Matos
Luís Salgado Matos tinha como temas de investigação principais a história do Estado, das Forças Armadas e da Igreja.
O investigador jubilado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa Luís Salgado de Matos, que nasceu em Lisboa em 1946, morreu na segunda-feira à noite no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, confirmou ao PÚBLICO o antigo presidente da Câmara de Lisboa João Soares, que já havia lamentado a morte do amigo na rede social Facebook.
“Acabo de receber a notícia triste da morte do meu velho amigo Luís Filipe Salgado Matos. Conhecemo-nos há muitos, muitos, anos. Fomos contemporâneos no Colégio Moderno e na FDL. Seu pai era grande amigo do meu avô João Soares. Salgado Matos foi um dos numerosos estudantes universitários presos pela PIDE em 1965”, escreveu no Facebook o também antigo ministro e dirigente socialista, sublinhando ainda o papel de “respeitado especialista em Igreja e Forças Armadas” e “autor da interessante biografia de Gonçalves Cerejeira”.
O investigador, que morreu vítima de doença prolongada, debruçou-se sobre temas como o Estado, a Igreja e as Forças Armadas. Escreveu, entre outras obras, A Separação do Estado e da Igreja (2011), e a biografia Cardeal Cerejeira (2018). Foi também colunista no PÚBLICO (1998-2006), tendo publicado ainda, em anos posteriores, outros artigos de opinião no jornal.
O currículo disponível na página do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa recorda, entre outros aspectos do percurso académico, que era licenciado em Direito e doutorado em Sociologia Política pela Universidade de Lisboa.
“Procurou sempre articular a investigação académica com a observação participante; foi membro do Governo de Transição de Moçambique; em tempos recentes, foi consultor do ministro da Defesa Nacional Júlio Castro Caldas e do Presidente da República Jorge Sampaio”, lê-se ainda.
“É uma figura totalmente anómala no pensamento político português e em geral, sobretudo porque sempre procurou pensar contra a corrente. Era um homem que punha em causa as normas e que provocava polemicamente e provocatoriamente tudo o que eram ideias estabelecidas e o conformismo intelectual. De uma maneira pouco comum em Portugal, onde o conformismo é regra e onde os que se opõem à regra criam, normalmente, um novo conformismo. Ele rejeitou isso até ao fim”, diz ao PÚBLICO o também amigo Amadeu Lopes Sabino, considerando que Luís Salgado Matos era ainda um “católico heterodoxo”.
Numa nota enviada à imprensa pelo escritor, em nome de um grupo de amigos, pode ler-se que Luís Filipe Salgado de Matos foi um “jurista, investigador no domínio da ciência política, intelectual original e polémico, incontornável no pensamento português na transição dos séculos e da ditadura para a democracia”.
Os amigos recordam igualmente que foi dirigente estudantil, tendo sido preso pela PIDE e condenado pelo Tribunal Plenário (1965-1966) e que seria, posteriormente, redactor d’O Tempo e o Modo (anos 1960) e da Seara Nova (anos 1970), secretário de Estado da Economia no Governo de Transição de Moçambique (1974-1975), director do Jornal do Comércio (1975-1976), presidente do Instituto Português de Cinema, presidente da administração do Teatro São Carlos, administrador do Porto de Lisboa (1983-1993), consultor do ministro da Defesa Nacional (2000) e do Presidente da República (2001-2006).
“Na vasta obra ensaística, com relevo especial para os domínios das relações entre o Estado e a Igreja e do papel político das Forças Armadas”, destacam O Estado de Ordens (2004), Como Evitar Golpes Militares (2008), e também A Separação do Estado e da Igreja (2011) e Cardeal Cerejeira (2018). É ainda autor de Dra Helena (1990), prémio de manuscritos do Diário de Notícias. E lembram que “animava ultimamente dois blogues, O Economista Português e Estado e Igreja”.
Quanto à data e local das cerimónias fúnebres, “serão proximamente anunciados”.
Notícia alterada: acrescenta-se que Luís Salgado de Matos foi também colunista no PÚBLICO.