Como sobreviver a um novo confinamento

Voltei a fazer o desporto de eleição de confinamento: atletismo. Algo que já estava na minha rotina, logo o foco era correr todos os dias e melhorar os tempos. O boost de endorfina ajudava a minha sanidade mental.

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Como sobreviver a um novo confinamento? Como é que os jovens estudantes estão a lidar com a situação? Dia 15 de Janeiro começou o pesadelo que todos pensávamos que não ia voltar. Enfim, nada a fazer ou a reclamar, simplesmente acatar.

Quando ouvi de novo a palavra “confinamento” mentalizei-me. Desta vez vai ser diferente para mim. Vou ser organizada e fazer do “fel mel”. Comecei por estabelecer uma rotina. O meu primeiro objectivo foi aprender espanhol, portanto estabeleci um plano, começar a fazer um curso online. No primeiro dia cumpri escrupulosamente a meta. Porém, não passei do primeiro dia. A antítese da minha autodisciplina.

Segundo passo, fazer algo diferente. Optei por juntar-me à moda do ioga, e até ao dia de hoje consegui adoptar esta rotina. Sinto que é uma forma de meditação activa. Não obstante, o ioga só ocupa 30 minutos das 24 horas que tem um dia.

Por isso, voltei a fazer o desporto de eleição de confinamento: atletismo. Algo que já estava na minha rotina, logo o foco era correr todos os dias e melhorar os tempos. O boost de endorfina ajudava a minha sanidade mental. Contudo, correr todos os dias tem consequências. E, no final das primeiras três semanas, já não sentia as minhas pernas. Solução: tinha de fazer uma pausa.

O dilema existencial, de procura de entretenimento continua porque ainda falta ocupar as restantes horas do dia. Desenhei, escrevi, li e cozinhei. Na cozinha, aprendi que fazer sopa caseira é a coisa mais simples do mundo, descobri o mundo do pão caseiro e o universo das detoxes matinais: o meu favorito é muito simples, só tem pepino, espinafres, gengibre e kiwi.

Mas também precisamos de exercitar o cérebro. Foi então que decidi virar-me para a Política. Cheguei a mudar de ideologia, e a concluir que as ideologias oferecem “cabeça sem coração”. Portanto, adoptei uma abordagem pragmática, ou seja, usar o raciocínio para agir, acção certa em prol do caso concreto. Mas esta liberdade de inferir acções deve ser balizada pelas nossas limitações, falhas geológicas, idiossincrasias pessoais.

Contudo, estar constantemente atenta aos meios de comunicação social torna-se frustrante. Dei por mim a avaliar a média de casos novos de covid-19 de cada país comparando com o caso de Portugal, a analisar detalhadamente a percentagem de população vacinada em todo o mundo e tornar inteligível os motivos que justificam números tão elevados. O jornal PÚBLICO acabou por tornar-se a minha “nova rede social”. Todos os dias lia os artigos e títulos como se fossem uma janela aberta para a sociedade.

Falava com os meus amigos da Rússia, Egipto, Ucrânia e Hong Kong que me perguntavam por que razão é que Portugal ainda estava em confinamento, quando eles já caminhavam para a normalidade. E eu ficava sem resposta. A culpa é de todos nós.

Tenho concluído que, em geral, este segundo confinamento tem sido mais difícil para a generalidade dos estudantes. Apesar de já estarmos mais habituados, e termos aprendido no primeiro formas de lidar com ansiedade e stress de estarmos fechados em quatro paredes, ninguém esperava voltar.

Ainda nem metade do pesadelo passou, há dias melhores e outros piores. Neste momento, dou imensa importância à meteorologia e sinto uma necessidade de estar a par do tempo. Um pequeno raio de sol é susceptível de mudar o meu humor.

Esta é uma altura em que de novo podemos ser procrastinadores, podemos voltar a sentirmo-nos inúteis. Não há outra solução e nem resposta simples. Esta é a primeira grande adversidade que a minha geração cruza caminho. Mas uma coisa tenho a certeza: quando terminar, vamos estar mais unidos enquanto povo e, quiçá, seja isso que voltará a trazer união a Portugal.

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