Quer ser astronauta? A ESA vai abrir as candidaturas

Desde 1978, a ESA apenas abriu candidaturas para astronautas três vezes. Este ano há aqui uma oportunidade para surgirem novos astronautas europeus. A ESA quer encorajar as mulheres a participar e vai também abrir candidaturas para o primeiro parastronauta.

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A astronauta Samantha Cristoforetti ESA

Pela primeira vez em mais de uma década, a Agência Espacial Europeia (ESA) procura novos astronautas e o concurso está aberto a todos os Estados-membros da organização, incluindo Portugal. O período de candidaturas será entre 31 de Março e 28 de Maio de 2021 e prevê-se que o processo de selecção esteja concluído em Outubro de 2022. Este ano, abrem-se também inscrições para o primeiro astronauta com algum nível de deficiência física. Os detalhes sobre estes processos foram anunciados esta terça-feira.

Todas as informações sobre o processo de selecção podem ser consultadas aqui. Resumindo, os requisitos para a candidaturas a astronautas são: ser cidadão de um Estado-membro da ESA ou de um país associado; ter um mestrado (ou um nível mais elevado) em ciências naturais, engenharia, matemática ou em ciências computacionais; ou uma experiência profissional de pós-graduação relevante de três anos. Também se pede que seja fluente em inglês; tenha forte motivação e capacidade de lidar com horários de trabalhos irregulares, viagens frequentes e longas ausências de casa, da família e de uma vida social regular. Ainda se indica que se deve ser flexível em relação ao local de trabalho, manter a calma sob pressão ou estar disposto em participar em experiências de ciências da vida.

A ESA avisa que só irá considerar as candidaturas submetidas no site da ESA Career entre 31 de Março e 28 de Maio. Depois, inicia-se um processo de selecção em seis etapas. Primeiro, há uma triagem (com várias rondas) com base nos documentos enviados e um questionário que foi preenchido na candidatura. Seguem-se testes cognitivos, técnicos, de coordenação motora e de personalidade. De seguida, há testes práticos, de psicometria ou de exercícios individuais e de grupo. Depois far-se-á a selecção médica. Por fim, há duas rondas de entrevistas: na primeira testam-se as competências técnicas e comportamentais e na segunda (e fase final do processo) os candidatos poderão ser entrevistados pelo director-geral da ESA.

A ESA planeia recrutar entre quatro e seis novos astronautas de carreira, o que implica que serão astronautas permanentes da ESA e que farão missões longas e mais complexas. Numa das conferências esta terça-feira sobre o processo, Frank De Winne, responsável pelo Centro Europeu de Astronautas, especificou que os astronautas de carreira participarão em missões de longa duração na Estação Espacial Internacional (ISS). No futuro, espera-se que participem em missões à Gateway – uma estação que se pretende colocar em órbita da Lua que será a base de apoio de robôs e astronautas na exploração do nosso satélite natural –, bem como à superfície da Lua.

Também se recrutarão astronautas de reserva, que não farão parte da equipa permanente da ESA, mas poderão ser seleccionados para projectos específicos ou vir a ter a oportunidade de se tornarem astronautas de carreira no futuro. “Isto é algo completamente novo”, realçou na conferência David Parker, director de Exploração Humana e Robótica da ESA.

Parastronauta e mulheres

Em paralelo, a ESA lança um projecto-piloto que prevê a escolha de um parastronauta, o primeiro astronauta com algum nível de deficiência física. Este projecto permitirá seguir uma carreira de astronauta “a uma parte da sociedade que foi até agora excluída do voo espacial”, já tinha anunciado a agência espacial. “É a primeira vez na história [que isto acontece]”, afirmou Jan Wörner, director-geral da ESA. Aqui, a ESA procura pessoas que sejam qualificadas profissional, técnica, cognitiva e psicologicamente para serem astronautas, mas tenham alguma deficiência física – o que as tinha impedido antes de serem astronautas.

Em comunicado, a ESA diz estar preparada para investir nas adaptações necessárias ao nível de equipamento especial para que essas pessoas possam viajar para o espaço e fazer parte de uma missão espacial. Quanto ao número de pessoas nestas condições a serem seleccionadas, refere-se que se “abrirá uma oportunidade de voo para um ou mais indivíduos”. David Parker disse que as questões sobre a concretização deste processo são muitas, mas que a ESA vai trabalhar com especialistas e explorar tecnologias médicas.

Desde 1978, a ESA apenas abriu candidaturas para astronautas três vezes. A última vez que a ESA procurou novos astronautas (e a primeira que Portugal pôde participar) foi em 2008. Foram seleccionados em 2009: Samantha Cristoforetti, de Itália; Alexander Gerst, da Alemanha; Andreas Mogensen, da Dinamarca; Luca Parmitano, de Itália; Timothy Peake, da Grã-Bretanha; e Thomas Pesquet, de França.

E porque procura agora a ESA novos astronautas? Esta foi uma das questões lançadas a Jan Wörner na conferência. “Precisamos de novos astronautas para assegurar uma continuação”, respondeu. “É tempo de procurar novos astronautas e acho que vamos encontrar os melhores.” Jan Wörner destacou que a diversidade é algo bem assente na ESA e que isso envolve, além das nacionalidades, diferentes géneros ou orientações. E lançou um desafio: “Queremos encorajar as mulheres a candidatarem-se.”

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