CP recupera automotoras vintage para serviços turísticos na linha de Sintra

As composições metalizadas, construídas na Sorefame, que durante décadas foram a imagem de marca da linha de Sintra, vão voltar a circular entre aquela vila e o Rossio. “Os comboios históricos também servem para a CP ter uma relação de afectividade com os portugueses”, diz Nuno Freitas.

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Duas UTE (Unidades Triplas Eléctricas), datadas dos anos 60 e que saíram de serviço há 20 anos, vão voltar aos carris na linha de Sintra, mas agora como comboios históricos, destinados essencialmente aos turistas que visitam a vila e em viagens directas (sem paragens) desde o Rossio.

O modelo de negócio ainda não está definido e depende da recuperação do turismo após a pandemia. Se voltar a níveis próximos dos que existiam até há um ano, o presidente da CP, Nuno Freitas, acha que se justificará o lançamento de várias viagens diárias entre o Rossio e Sintra, fora das horas da ponta.

Mas não só. É possível que também façam algumas rotações em regime de exploração normal, aos fins-de-semana, sem aumento de preço, para que as pessoas possam experienciar viajar num comboio vintage.

“A ideia tem subjacente estabelecer uma relação afectiva e emotiva entre os portugueses e a CP”, diz o presidente da empresa. “Nós só tínhamos comboios históricos no Norte [na linha do Douro e no Vouga] e achámos que também deveríamos ter uma oferta desse tipo em Lisboa”.

Para Nuno Freitas, a principal missão da CP é prestar um bom serviço à população, “mas se a empresa quiser ter no futuro alguma força e perenidade, tem de criar empatia com os portugueses para que, se algum dia quiserem destruir a CP, as pessoas a defendam”. E nesse sentido, “os comboios históricos são uma excelente ferramenta para criar uma relação com o público”. Daí a aposta recente no Vouguinha para onde a empresa recuperou três carruagens “napolitanas” (construídas em Nápoles nos anos 30 do século passado) para reforçar a oferta de comboios turísticos.

Reabilitar as duas UTE não é difícil nem caro. As duas unidades faziam parte de um lote de dez que em 2005 foi preparado para ser vendido à Argentina, mas acabou por não seguir nenhum veículo porque os caminhos-de-ferro daquele país, tendo pago a sua remodelação, não pagaram o transporte marítimo.

Nuno Freitas estima que 100 mil euros bastarão para colocar as automotoras no seu estado original, tal como quando transportavam milhares de passageiros – a grande maioria de pé – numa altura em que a linha de Sintra era a mais sobrecarregada de toda a Europa.

As automotoras metalizadas da Sorefame podem não ter deixado muitas saudades a quem nos anos 80 viajava em condições degradadas na linha de Sintra. Mas foram a sua imagem de marca. Grande parte destas composições foi modernizada e faz hoje os serviços regionais na linha do Norte, mas algumas dezenas de veículos foram demolidos, em Agosto de 2017, no Entroncamento. Entre eles estava as UTE2001 que inaugurou a electrificação da linha de Sintra em 1957.

Agora no Entroncamento não se procede a demolições. Nas suas oficinas acabaram de se recuperar cinco automotoras eléctricas do serviço suburbano da linha de Sintra que estavam abandonadas. Três já foram injectadas na operação e duas deverão entrar ao serviço nas próximas semanas.

Desde que a actual administração da CP optou por recuperar material que estava encostado, as oficinas de Guifões, Contumil, Entroncamento e Barreiro já puseram em estado de marcha sete locomotivas eléctricas, três locomotivas a diesel, sete carruagens Schindler, quatro carruagens Sorefame, uma automotora Allan e cinco UQEs para suburbanos. Foram também recuperadas carruagens históricas de via estreita: um veículo de 1910 e três carruagens “napolitanas”. Ao todo, foram devolvidos aos carris 46 veículos.

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