Ângela Crespo e o combate do sistema imunitário contra a covid-19

As diferentes vacinas foram um dos assuntos da conversa. Por que razão a russa – a Sputnik V – parece resultar melhor do que a vacina inglesa, da Universidade de Oxford? As pessoas vacinadas podem transmitir o vírus da covid-19?

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A investigadora Ângela Crespo Mark Sijka

Na mais recente edição do podcast quinzenal do PÚBLICO “Assim Fala a Ciência”, que tem o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos e é co-organizado por mim e pelo físico Carlos Fiolhais, tive o gosto de conversar com Ângela Crespo, uma bióloga que fez o seu doutoramento na Universidade de Coimbra, na área da imunologia humana materno-fetal, tendo nesse âmbito realizado trabalho de investigação na Universidade de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos. Desde 2016 que é investigadora no Boston Children’s Hospital, onde tem estudado os linfócitos NK (natural killer cells), que causam a morte de células infectadas e de células tumorais. Ângela Crespo procura entender o papel dos linfócitos NK na protecção do feto relativamente a infecções virais e bacterianas. Recentemente tem-se dedicado a investigar os processos de inflamação associados à covid-19.

Conversámos sobre a imunidade adquirida para a covid-19 após infecção viral e após a vacinação. Muito se tem falado de anticorpos, que são proteínas com a forma de um “Y”, que o nosso sistema imunitário usa para neutralizar invasores. Mas o sistema imunitário tem outros componentes, como os linfócitos B, que produzem os anticorpos, e os linfócitos T, que causam a morte de células infectadas. Ambos dão origem a linfócitos B e T de memória, que podem multiplicar-se durante décadas no nosso corpo, contribuindo para uma imunidade duradoura.

As variantes mais recentes do SARS-CoV-2, o vírus da covid-19, têm levantado grande preocupação, por serem mais transmissíveis e por parecerem, pelo menos algumas, ter a capacidade de iludir o sistema imunitário. Perguntei à minha entrevistada como é que as novas variantes podem afectar a imunidade adquirida para a covid-19, tanto por infecção anterior como por vacinação.

Falámos depois das diferentes vacinas. A inglesa, da Universidade de Oxford, e a russa – Sputnik V – baseiam-se na mesma tecnologia: ambas usam um adenovírus (vírus que causam constipações e sintomas parecidos com os da gripe) modificado para apresentar a proteína da espícula do SARS-CoV-2, que está à superfície do vírus, ao nosso sistema imunitário. No entanto, a vacina russa tem uma diferença importante: usa adenovírus diferentes nas duas tomas, o que parece resultar melhor. Perguntei-lhe porquê. Quis também saber se as pessoas vacinadas podem transmitir o vírus da covid-19.

Falámos ainda sobre alguns medicamentos usados para tratar a covid-19. Ângela Crespo explicou porque é que o remdesivir (um antiviral desenvolvido para tratar o vírus do ébola) deve ser dado numa fase inicial da doença, ao passo que a dexametasona (um anti-inflamatório e imunossupressor) só deve ser usado numa fase adiantada. Por fim, foi interessante ouvir a descrição do seu trabalho de investigação dos processos inflamatórios provocados pelo SARS-CoV-2: tal como muitos outros cientistas, Ângela Crespo passou a dedicar-se ao estudo do novo problema global.

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Este programa tem o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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