Testar, testar, testar em massa, para uma luz ao fundo do túnel

Testar bem e testar rápido. Uma equação complicada de colocar em prática, mas em relação à qual os especialistas convidados pelo PÚBLICO a debater o assunto esta sexta-feira estão de acordo. Será essa a solução para estar à frente da curva do vírus e, assim, evitarmos um confinamento mais prolongado da população portuguesa. A entrada das farmácias em cena é mais do que desejável, é imperiosa.

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Daniel Rocha

A ministra da Saúde, Marta Temido, já o tinha anunciado no Parlamento nesta quarta-feira: em breve, vai ser possível fazer um teste rápido à covid-19 numa unidade de saúde, numa farmácia, ou até mesmo em casa, sem necessidade de prescrição médica. Num dia em que foi anunciado pela Direcção-Geral da Saúde que Portugal ultrapassou a barreira dos 15 mil mortos pelo coronavírus, o PÚBLICO convidou três oradores com diferentes experiências nesta temática para debater “Como pôr Portugal a testar em massa?” no seu Hora do Público, um dos formatos da nova aposta do jornal nos streamings em directo, o Ao Vivo.

Foi consensual entre os convidados a ideia de que é necessário testar mais e mais portugueses, não apenas para que as autoridades sanitárias tenham a real consciência do número de infectados, mas também para que possam ser adoptadas medidas adequadas ao controlo da pandemia e que permitam a diminuição dos óbitos e do número de internados em Unidades de Cuidados Intensivos. E mesmo até para perceber quem é assintomático mas pode ser fonte de contaminação.

Pedro Ribas de Araújo, impulsionador do movimento cívico INFO

COVID-19 e da petição pública por um milhão de testes por semana, defende que o país está a “relativizar os assintomáticos”, pelo que a solução passa por testar cada vez mais” até ser atingido o número acima defendido. E dando corpo ao argumento defendido por todos os intervenientes, acrescentou: “Temos uma rede notável de laboratórios, que têm feito um trabalho extraordinário ao longo destes meses e temos, também, uma rede de farmácias que pode ser muito útil.” Como até agora, ambos os sectores têm ficado de fora da equação em termos de testagem, Ribas de Araújo alerta para a necessidade de “procurar outras soluções”. “Apenas temos de garantir que a testagem é feita em locais credíveis”, sublinhou.

Uma tese igualmente defendida por Luís Menezes, CEO da Unilabs Portugal, e por Duarte Santos, membro da direcção da Associação Nacional de Farmácias e ex-presidente do Grupo Farmacêutico da União Europeia. Luís Menezes considerou ser imperioso “fazer mais do que 120 mil testes PCR [testes moleculares, que dizem se há infecção por SARS-CoV-2] por semana” e defendeu ser “necessário chegar aos 200 mil testes por semana, incluindo os testes rápidos [mostram se o vírus está presente no momento do teste e são menos fiáveis, podendo fornecer mais falsos negativos], para ajudar a matar as cadeias de transmissão”.

O alargamento dos locais onde vai ser possível efectuar os testes ainda está em fase de definição técnica, pela Direcção-Geral da Saúde (DGS). A intenção do Governo de fazer chegar a locais de risco como as escolas ou sectores de actividade com alta exposição social, como fábricas e construção civil, agrada a Duarte Santos, para quem é “importante colocar todos os agentes a trabalhar em conjunto, para potencializar as sinergias existentes”.

Já Luís Menezes referiu que o Governo, através do “Ministério da Economia, ajudado pelos fundos europeus, tem um papel crucial, já que tem de haver medidas de apoio para a testagem rápida nas empresas”. “Criar um patamar de testagem dá esperança às pessoas, à economia e às unidades de saúde”, adiantou.

Pedro Ribas de Araújo sublinhou a necessidade de haver rastreamentos em massa, embora admita que o processo possa ser “difícil”. “Faz sentido, por todos os motivos ligados à saúde pública. São necessárias medidas ambiciosas, pró-activas e não reactivas, para que Portugal ande à frente do vírus e não atrás”.

Num debate moderado pelo director-adjunto do PÚBLICO David Pontes, foi ainda dado o exemplo da Dinamarca, que também teve o seu pico de testes por alturas do Natal. Se em Portugal houve uma média de 4,05 testes por cada mil habitantes, naquele país nórdico a média foi de 23,71. A opinião dos oradores convidados pelo PÚBLICO foi unânime: o elevado número de testes na Dinamarca tem sido fulcral para travar as cadeias de transmissão. “Temos de fazer mais testes para matar as cadeias de transmissão”, sintetizou Luís Menezes.

Ao longo do debate houve interacção com quem estava a assistir em directo e houve mais de um leitor a referir o exemplo da Alemanha. Paula Cristina Silva perguntou porque não são feitos em Portugal os testes de saliva que naquele país já fazem nas escolas. “Não há consenso europeu nesta matéria e não creio que estejamos atrasados nesta matéria. Neste momento, temos de utilizar as ferramentas mais eficazes, que nos garantam maior fiabilidade nos resultados”, respondeu Duarte Santos.

Esta sexta-feira, a ministra da Saúde garantiu que a os laboratórios privados dariam resposta a um aumento da testagem, seguindo a norma da DGS, quer através dos métodos já utilizados, quer através de novas metodologias que pudessem surgir. A directriz da DGS determina que todos os contactos de um infectado devem ser testados, sejam eles considerados de alto ou de baixo risco. E o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, frisou, esta quinta-feira à noite, num discurso à nação, que será necessário um esforço adicional dos portugueses, pelo menos, até à Páscoa em termos de confinamento. Para que a curva decrescente do número de óbitos, de pessoas internadas e de contágios mantenha a sua tendência, ou seja, continue a descer. Os testes estarão, também, na primeira linha deste combate ao SARS-CoV-2.

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