Fotografia

Da cassete ao joystick: uma viagem ao passado pela tecnologia vintage dos anos 80 e 90

Quantos filmes domésticos, recheados de memórias pessoais, jazem numa fita de VHS ou Hi8? Quantos jogos de computador Amstrad, a verde e negro, poderemos voltar a jogar? Precious Things, da fotógrafa portuguesa Anabela Pinto, propõe uma viagem ao passado (não tão remoto) que fará vibrar quem cresceu nos anos 80 e 90​.

Sea of Possibilities ©Anabela Pinto
Fotogaleria
Sea of Possibilities ©Anabela Pinto

Quem cresceu nos anos 80 e 90, como a fotógrafa Anabela Pinto, fê-lo rodeado de VHS, cassetes, disquetes, rolos fotográficos, máquinas de filmar, telefones com fios, joysticks, televisores analógicos com antenas rudimentares objectos que se tornaram obsoletos com o avanço tecnológico das últimas décadas e que são, mormente, desconhecidos de quem nasceu no século XXI. Existe entre a autora da série fotográfica Precious Things e esses objectos vintage uma relação de intimidade que remete para a sua infância e que a confronta, de certo modo, "com a sua própria mortalidade". Afinal, o tempo passa e vamos guardando, em casa, coisas que perdem a sua utilidade e, por isso, uma razão de existir. Será mesmo assim?

Quantos documentos e imagens poderão estar contidos numa disquete que dificilmente poderemos "reabrir"? Quantos filmes domésticos, recheados de memórias pessoais, jazem numa fita de VHS ou Hi8? Quantos jogos de computador Amstrad, a verde e negro, poderemos voltar a jogar? "Os objectos do passado contêm uma dimensão mitológica", explica Anabela ao P3, através de videoconferência. "Eles estão ligados às nossas origens e fazem parte dos elementos a partir dos quais construímos a nossa identidade." A presença dessas peças no ambiente doméstico "cria novas paisagens visuais e (...) molda os nossos rituais quotidianos", refere na sinopse do projecto que desenvolveu, entre 2018 e 2020, no âmbito do mestrado em Fotografia Artística pela Royal College of Art, em Londres, e que já esteve em exposição na capital inglesa, em Paris, na vila de La Chaux-de-Fonds, na Suíça, e em Los Angeles, nos Estados Unidos.

E são essas paisagens do interior doméstico, sob luz azul, marcadamente televisiva e artificial, que Anabela Pinto recria para propor uma visita a um passado não tão remoto, recheado de kitsch e nostalgia. Para realizá-las, teve de passar horas em buscas, em sites de vendas de objectos usados, uma vez que nem todos faziam parte do seu espólio pessoal. E investir algumas libras. "Pensei que depois poderia vender os objectos, mas ganhei apego e não vendi nada  o que também diz muito da relação com os objectos."

A simbiose humano-máquina está no centro desta série fotográfica. A tecnologia funciona, na era digital, como uma extensão da mente e do corpo humanos. Numa sociedade marcadamente consumista onde o "culto da tecnologia" impera, "o desejo materialista está intimamente ligado à procura da felicidade", refere a fotógrafa natural da Figueira da Foz. "Os objectos que consumimos canalizam, reflectem e alimentam as emoções de quem os utiliza." Consumimos para sermos felizes? Guardamos os objectos que nos fazem ou fizeram felizes? Guardamos memórias em objectos? Anabela Pinto não pretende, com as fotografias de Precious Things, responder a estas perguntas. Deixa-nos, apenas, imagens que são pontos de partida para reflexão.

Quality Time
Quality Time ©Anabela Pinto
Answering Machine
Answering Machine ©Anabela Pinto
Tell Me Something Good
Tell Me Something Good ©Anabela Pinto
Joysticks
Joysticks ©Anabela Pinto
Mara on the Phone
Mara on the Phone ©Anabela Pinto
Woman in the Window
Woman in the Window ©Anabela Pinto
Stereo
Stereo ©Anabela Pinto
Untitled
Untitled ©Anabela Pinto
Blue Shower
Blue Shower ©Anabela Pinto
Totally Wired
Totally Wired ©Anabela Pinto
Movie Night II
Movie Night II ©Anabela Pinto
TV Dinner
TV Dinner ©Anabela Pinto