Testagem continua nos lares e arrancou nas escolas de acolhimento

Pessoal docente e não docente das escolas de acolhimento, bem como os estudantes com 15 ou mais anos que frequentam diariamente estes estabelecimentos de ensino, começaram a ser testados na semana passada. Nos lares, os utentes ainda não estão a ser testados com a mesma regularidade que os funcionários.

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Nos lares, os testes aos utentes continuam a ser feitos apenas quando há casos suspeitos Daniel Rocha

O reforço da testagem à covid-19 deverá fazer-se notar nas próximas semanas, com a anunciada intenção do Governo de testar em massa os portugueses, mesmo aqueles que tenham tido contactos considerados de baixo risco. Nas escolas e nas estruturas residenciais para idosos, essa intensificação já se faz sentir, embora os utentes destes espaços só estejam a ser testados se houver um caso suspeito. 

“A experiência na minha escola é que, de facto, vale a pena testar regularmente. Detectou-se uma assistente operacional que estava positiva, mas assintomática. Ficou imediatamente em casa. Ela não tinha sintomas e se não fosse o teste, não se teria detectado”. O caso, relatado por Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, aconteceu na semana passada, no Agrupamento de Escolas General Serpa Pinto, em Cinfães.

Foi nessa altura que parte dos funcionários das escolas de acolhimento do concelho, e alunos com idade igual ou superior a 15 anos, que frequentam estes espaços diariamente, foram sujeitos a uma primeira ronda de testes. O mesmo está a acontecer nas restantes escolas do país. “A minha escola ia fazer os testes de antigénio esta terça-feira, mas foi adiado, certamente seremos chamados em breve. Mas sei que o processo está a andar, ainda que esteja a abranger um pequeno leque de profissionais [que está ao serviço nas escolas]”, diz também Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas. 

O que os dois dizem desconhecer é a periodicidade com que estes testes serão feitos e quando serão testados os professores e pessoal não docente que ainda não foi. O Ministério da Educação (ME) também diz desconhecer os detalhes da operação, que está a ser articulada com a Direcção-Geral de Saúde (DGS). A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) ajuda a esclarecer estas dúvidas.

Numa resposta enviada ao PÚBLICO, a ARSLVT confirma que a testagem arrancou na semana passada e está a ser feita por equipas da Cruz Vermelha. O que está previsto é que “cada pessoa seja submetida a três colheitas com intervalos de sete dias”, esclarece, em resposta escrita. Assim que as escolas reabrirem, acrescenta a mesma fonte, deverá ser retomado o plano de rastreio na comunidade escolar anunciado em Janeiro.

Nessa altura e dias antes do encerramento, por duas semanas, dos estabelecimentos de ensino, o Governo tinha anunciado que iria avançar com uma campanha de rastreio à covid-19 destinada a alunos e trabalhadores das escolas situadas “em concelhos identificados com incidência cumulativa a 14 dias superior a 960 por 100 mil habitantes.”  

O encerramento das escolas, um dia depois desta operação ter arrancado, interrompeu o processo, mas pouco depois o ME dava conta que “o processo de testagem prossegue nas escolas de acolhimento para filhos e outros dependentes dos trabalhadores de serviços essenciais e que servirão refeições aos alunos abrangidos por apoio no âmbito da Acção Social Escolar.” No comunicado de 25 de Janeiro, o ME esclarecia que “serão priorizadas, tal como definido no plano inicial, os estabelecimentos de ensino localizados em concelhos de risco extremamente elevado.”

É esta operação que está em curso desde a semana passada — a ARS Centro confirma que o processo naquela zona também arrancou na semana passada e continua esta semana —, ainda que os representantes das direcções escolares afirmem ter pouca informação sobre ela. Filinto Lima disse desconhecer, por exemplo, a periodicidade da testagem e Manuel Pereira também dá conta da ausência de detalhes. 

Segundo a orientação conjunta da DGS e da Dgeste (Direcção-Geral de Estabelecimentos Escolares), para a campanha de rastreio à covid-19 nas escolas de acolhimento, deverão aplicar-se as regras definidas no plano de Janeiro, com excepção dos alunos. Este documento estipula que serão testados “apenas os de idade igual ou superior a 15 anos, que pretendem frequentar diariamente as actividades nas escolas de acolhimento, devendo ser garantida sob compromisso de honra, pelos encarregados de educação, essa assiduidade diária (salvo casos devidamente justificados, naturalmente).” 

A orientação diz ainda que, em relação ao pessoal docente e não docente “deverão ser testados, de preferência num mesmo dia, todos os que estarão escalados para, pelo menos, as três semanas seguintes.”

Utentes ainda sem testagem regular

Nos lares, a testagem regular e independente da presença de surtos, começou mais cedo e também está em curso. Desde Outubro que são realizados testes PCR periódicos a grupos de funcionários, em articulação com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, e promovidos pelos centros distritais de segurança social, mas um despacho interministerial de 8 de Janeiro prevê o alargamento desses testes também aos utentes de “estruturas residenciais para idosos (ERPI), unidades de cuidados continuados integrados da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCI) e outras respostas dedicadas a pessoas idosas e pessoas com deficiência”. Sempre que estes testes sejam antigénio, a operação deve ser articulada com a Cruz Vermelha, define-se no documento. 

Lino Maia, da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS) confirma que os testes aos funcionários estão em curso e que a operação tem decorrido “bem”. “Neste momento, não me posso queixar. É evidente que queremos sempre mais, mas não está a funcionar mal”, diz. O responsável pela CNIS diz que esta tem “um acordo com a Cruz Vermelha” e que brigadas desta instituição vão, regularmente, aos lares, realizar os testes. 

No caso dos utentes, contudo, a testagem regular ainda não estará em curso. O padre Lino Maia diz que a informação que tem é que a testagem só os abrange quando é detectado um caso positivo.

Manuel Lemos, da União das Misericórdias Portuguesas, também diz que o processo está a correr “de forma razoável e que têm sido feitos muitos testes em IPSS [instituições particulares de solidariedade social] e misericórdias.” O essencial, para este responsável, é que não se pare. “É muito importante que se continue a fazer estes testes, porque permite antecipar a descoberta de casos”, diz.

João Ferreira de Almeida, da Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso também indica que está a decorrer sem sobressaltos a testagem semanal de 25% dos funcionários de cada espaço, posta em prática desde Outubro, e salienta que há outras soluções. “O meu lar é muito pequeno e optei por fazer os testes através de uma colaboração com a câmara [de Oeiras]. Em vez de testar 25% dos funcionários a cada semana, estamos a testar todos uma vez por mês, o resultado é o mesmo”, diz. No caso dos utentes, refere, os testes também só estão a ser feitos se existirem “casos suspeitos”.

A ministra Ana Mendes Godinho disse, esta quarta-feira, numa audição da Comissão de Trabalho e Segurança Social, que foram realizados “mais de 230 mil testes à covid-19” a funcionários de lares. A responsável pelo Ministério do Trabalho e Segurança Social estimou que esta testagem terá evitado “mais de 730 surtos da doença”.

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