EUA anunciam novas sanções contra líderes do golpe na Birmânia

Manifestações continuam nas principais cidades do país, enquanto os generais detiveram mais membros do partido de Suu Kyi e responsáveis da comissão eleitoral que supervisionou as legislativas.

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Funcionários dos caminhos-de-ferro juntam-se aos protestos em Rangum NYEIN CHAN NAING/EPA
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Biden anunciou novas sanções contra os generais birmaneses MICHAEL REYNOLDS/EPA
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Um grupo de engenheiros manifesta-se em Rangum MAUNG LONLAN/EPA

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aprovou uma ordem executiva para impor novas sanções aos militares responsáveis pelo golpe na Birmânia, enquanto os generais lançaram outra vaga de detenções denunciadas pela Liga Nacional para a Democracia (NLD), o partido de Aung San Suu Syi. Entre os detidos está Kyaw Tint Swe, um dos mais próximos colaboradores da líder civil do país, detida desde o golpe de dia 1.

Na Birmânia o dia começou como os anteriores, com multidões a marcharem pacificamente em Naypyidaw, capital e bastião do Exército, e Rangum, a maior cidade e capital comercial do país.

Um grupo de manifestantes concentrou-se junto ao Banco Central em Rangum, pedindo aos funcionários públicos e trabalhadores de outras áreas para deixarem de ir ao trabalho e se juntaram à campanha de desobediência civil que desde o fim-de-semana foi sendo engrossado por professores, médicos, enfermeiros, bombeiros, funcionários de repartições públicas e até alguns polícias.

Apesar da violência que já foi usada contra manifestantes – e que fez vários feridos, incluindo a jovem Mya Thwate Thwate Khaing, que os médicos dizem estar em morte cerebral depois de ter sido atingida na cabeça por uma bala de metal, na terça-feira, em Naypyidaw – muitos birmaneses continuam à procura de formas bem-humoradas de protestar, sublinhando a natureza pacífica do movimento.

Em Rangum, depois do desfile de jovens mulheres em vestidos de noiva e vestidos de “princesas da Disney”, um grupo de homens e rapazes saíram vestidos com mini-saias. “Não tiramos as nossas saias até termos de volta a democracia”, lia-se num dos cartazes que transportavam.

Horas antes, o Presidente norte-americano anunciou que a ordem que assinou permite “sancionar imediatamente os líderes militares que dirigiram o golpe, os seus interesses económicos, assim como os seus familiares próximos”. Washington vai identificar os primeiros alvos ainda esta semana e adoptar medidas para impedir que os generais possam aceder aos fundos no valor de mil milhões de dólares do governo birmanês nos Estados Unidos.

“Também vamos impor controlos rígidos às exportações. Vamos congelar os bens que beneficiam o governo e manter o nosso apoio ao sistema de saúde, aos grupos da sociedade civil e a outras áreas que beneficiam directamente o povo da Birmânia”, descreveu Biden na Casa Branca. “Estamos prontos a adoptar medidas adicionais e vamos continuar a trabalhar com os nossos parceiros internacionais para pedir a outras nações que se juntem a nós nestes esforços”, disse ainda o Presidente, que tem no golpe birmanês a primeira crise de política externa do seu mandato.

Empresas dos militares

Entre os alvos dos EUA estará com grande probabilidade Min Aung Hlaing, que enquanto chefe do Estado-Maior General liderou o golpe e assumiu o poder, assim como outros generais. Vários, incluindo Min Aung Hlaing, já enfrentam sanções impostas por Washington em 2019 devido ao massacre e perseguição à minoria muçulmana rohingya. Outras opções passam por punir empresas que são propriedade dos militares, que têm investimentos no sector bancário, telecomunicações, têxtis, jóias ou cobre.

Na sexta-feira, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU vai discutir uma resolução redigida pela União Europeia e pelo Reino Unido a condenar o golpe e a exigir acesso urgente ao país do relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos na Birmânia, Thomas Andrews. Diplomatas ouvidos pela agência Reuters esperam que tanto a China como a Rússia, que têm relações com as Forças Armadas birmaneses, tentem enfraquecer o texto antes da votação.

Desde o dia do golpe que Suu Kyi e mais de 150 pessoas, entre deputados, responsáveis locais e activistas dos direitos humanos, estão detidos. Andrews denunciou entretanto que “centenas de detenções arbitrárias” têm sido registadas no país, com muitos dos detidos mantidos em lugar incerto e sem acesso a advogados ou familiares.

Segundo Kyi Toe, membro do comité de informação da NLD, o ex-ministro Kyaw Tint Swe e outras quatro pessoas ligadas ao governo derrubado foram levadas das suas casas durante a última noite. Os principais responsáveis pela comissão eleitoral que supervisionou as legislativas de Novembro também foram presos, diz este responsável do partido de Suu Kyi. A NLD venceu as eleições com maioria absoluta e os generais alegam que houve fraude para justificar o golpe.

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