“Isto amanhã está tudo estragado.” Comerciantes queixam-se de que chove dentro do Mercado de Arroios

Vendedores queixam-se de que chove dentro do espaço, molhando pessoas e alimentos, que acabam por se deteriorar com mais rapidez. Câmara diz que já fez vistoria ao local e que a obra para corrigir o problema será feita em articulação com a Junta de Freguesia de Arroios.

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Janelas no topo do edifício estão partidas, deixando entrar chuva Daniel Rocha/Arquivo

No Mercado de Arroios, em Lisboa, vendedores e clientes andam numa dança para evitarem os pingos da chuva. Há até, dizem os comerciantes, quem abra o guarda-chuva junto às bancas sempre que chove com mais intensidade. Esta terça-feira, após as primeiras horas da manhã com precipitação abundante, não houve senão outro remédio que cobrir as bancas com plásticos para evitar que frutas e legumes apodreçam mais rapidamente. “A gente anda aqui a nadar em água”, exaspera-se Beatriz Gomes, passando a mão pelas maçãs, pelos tomates e pelas cebolas cobertas de água. “Isto amanhã está tudo estragado.”

A água que se vai acumulando nas bancas e no chão entra directamente pelas janelas que estão danificadas no topo do edifício — a uma altura em que os comerciantes não conseguem chegar — dificultando a tarefa e tornando mais desconfortável a permanência de quem está a vender e de quem ali vai às compras. 

Há quatro anos, no final de Janeiro de 2017, o Mercado de Arroios foi reinaugurado depois de dois anos de obra e de um milhão de euros investidos. Remodelaram-se os postos de venda, substituiu-se o pavimento e pintou-se o interior. Foi ainda instalada uma nova rede de águas e introduzidas melhorias na mobilidade, como rampas e novos elevadores, prometendo uma nova vida para o mercado, que cumpria então nesse ano o seu 75.º aniversário. 

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Para impedir que as frutas e legumes se molhem e se estraguem mais rapidamente, os comerciantes têm de os tapar com plásticos DR

No entanto, essa nova vida que se projectava para o mercado, classificado desde os anos 80 como edifício com interesse cultural, nunca chegou a acontecer. Pelo menos para os comerciantes, que se queixam das más condições que têm para trabalhar, em particular das janelas que estão danificadas e que deixam entrar chuva. Segundo conta Beatriz Gomes, que ali vende há 27 anos, por conta das pingas que caem na sua banca, o computador estragou-se há uns meses. 

Segundo os vendedores, as janelas estão danificadas há já alguns anos, tendo ficado assim pouco depois da requalificação do mercado. “O que nos revolta são as condições para trabalhar”, queixa-se também Luísa Máximo, que vende de frutas e legumes no mercado há 49 anos. Além disso, o início deste ano trouxe também para alguns comerciantes um aumento no valor das taxas de ocupação que pagam mensalmente à Junta de Freguesia de Arroios. “Se tivessem melhorado as condições que temos para trabalhar eu compreendia [o aumento]”, irrita-se a vendedora.

De repente, um cheiro nauseabundo, a esgoto, começa a sentir-se junto às bancas. “Está a ver? Em dias de muita chuva é isto”, diz Arlindo Silva, também vendedor de frutas e legumes. Não sabe a origem do problema, mas diz que a junta sabe da situação — do cheiro e da chuva que entra pelas janelas —, uma vez que há técnicos da freguesia que, normalmente, ali dão apoio. Por tudo isto, afiança, os clientes têm-se afastado do mercado. “Os nossos produtos são bons e chamam clientes, mas com estas condições acabam por ir a outro lado”, nota o vendedor. 

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No início de Novembro, estes comerciantes, assim como os de alguns negócios da envolvente, protestaram contra as alterações ao estacionamento feitas na zona. E atribuem a perda de clientes dos últimos meses também a esse fenómeno, uma vez que é difícil estacionar ou parar o carro para ir ao mercado. 

Nessa altura, o PÚBLICO questionou a Junta de Freguesia de Arroios sobre as condições estruturais do mercado, tendo esta referido que é à Câmara de Lisboa que compete a resolução do problema. A junta “tem envidado todos os esforços para corrigir a situação, contudo, a intervenção para a solução definitiva é da Câmara Municipal de Lisboa e, nesse sentido, a junta tem informado, todos os meses, da urgência de obras no Mercado para a correcção desta questão, estando a aguardar uma resposta”, disse então o executivo liderado por Margarida Martins (PS). 

A Câmara de Lisboa diz agora já ter feito uma vistoria ao local, “verificando que há efectivamente entrada de chuva em determinados momentos, quando batida pelo vento”. “Para resolver esta questão de forma eficaz, e depois de estudadas diferentes soluções, foi já preparada uma intervenção adequada e duradoura, de substituição dos vãos afectados. Esta obra, a pensar tanto nos comerciantes como nas pessoas que frequentam o mercado, será implementada em articulação com a junta de freguesia”, nota o município, que se compromete ainda a avançar com os trabalhos o mais depressa possível. 

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