SATA vai cortar salários dos trabalhadores e espera ser sustentável a partir de 2022

Plano de reestruturação da empresa pública açoriana foi apresentado esta quinta-feira. Será ainda negociado em Bruxelas devido ao auxílio de estado de 133 milhões para a companhia, já aprovado pela Comissão Europeia.

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Rui Soares (colaborador)

A transportadora área açoriana SATA prevê um corte de 10% no salário fixo dos trabalhadores e quer poupar 68 milhões de euros até 2025 na redução de custos operacionais. O objectivo é que a empresa, que se arrasta em prejuízos desde 2012, comece a dar lucro a partir de 2022.

As linhas gerais do plano estratégico de reestruturação da SATA 2021-2025 foram apresentadas esta quinta-feira na delegação da Assembleia Regional em Ponta Delgada. Primeiro, numa exposição que juntou o presidente do governo regional, José Manuel Bolieiro, aos líderes parlamentares do PSD, PS, CDS-PP, BE, PPM, Chega, PAN, IL, partidos com assento no parlamento açoriano. Depois, aos jornalistas.

Antes da exposição, Luís Rodrigues, presidente do conselho de administração do grupo de aviação desde Novembro de 2019, ressalvou que a exposição estaria organizada para a apresentação que irá decorrer em Bruxelas, onde o plano ainda vai ser negociado, no âmbito do auxílio de Estado de 133 milhões à companhia.

Depois, apresentou as razões para a situação dramática da empresa, que registou 53 milhões de euros de prejuízo em 2019, mas que até viu as receitas aumentarem nos últimos anos. “Apesar de crescimento interessante de receitas, os resultados não tem seguido mesmo caminho”, assinalou Luís Rodrigues, que também destacou que os prejuízos não estão relacionados com a taxa de ocupação que ronda sempre os “70%, 80%”.

Os resultados negativos da SATA devem-se ao “desequilíbrio entre custos unitários” na empresa, ou seja, receita de cada passageiro a bordo e o valor que cada passageiro comporta para a empresa. O que também é explicado com a pouca utilização dos aviões. “Os aviões da Azores Airlines voam metade do que aquilo que deviam”.

Identificados os problemas, serão quatro os pilares da estratégia para os tentar resolver: a “reestruturação da frota”, a “eficiência operacional”, as “negociações com os fornecedores” e a “agilização do trabalho”.

A frota vai ser reduzida em 20%, o que não deverá ter impacto nos aviões propriamente ditos da companhia, uma vez que o pretendido é acabar com o recurso a outras companhias para realizar os voos da SATA nos períodos da época alta.

Redução de salários e saídas

Para a redução de custos, a SATA pretende cortar em 10% o salário fixo dos trabalhadores que recebam mais de 1200 euros. O valor já é o resultado das negociações com os sindicatos e comissão de trabalhadores, uma vez que a proposta inicial da administração previa um corte de 20%.

“Acabámos por acordar numa redução directa de 10% sob o salário dos trabalhadores e depois cada grupo acorda em disponibilizar uma flexibilização sobre um conjunto de regras que permitam menor custos principalmente na época alta”. A companhia também está “disponível” para conseguir a saída de mais 100 trabalhadores de “forma faseada” até 2023. Este ano, 48 funcionários já abandonaram a empresa com recurso à reforma antecipada, avançou ainda.

Com tudo isso, as metas da empresa são claras: poupar 68 milhões de euros até 2025 para inverter a crise da companhia. Em 2021, a transportadora deverá registar 28 milhões de prejuízo, mas 2022 deverá ser o ano para estabilizar os resultados. Primeiro com um resultado próximo do zero, onde a estimativa optimista pode ir até a um lucro de três milhões. Em 2023, o objectivo é ter um lucro de 18 milhões euros. “As iniciativas confluem para que 2023 seja de facto um ano de inversão e que a alteração se torne sustentável a partir daí”.

Mas para esse caminho de estabilidade, Luís Rodrigues aponta à responsabilidade do accionista, ou seja, do governo açoriano, em representação da região autónoma. As obrigações de serviço público deverão ser devidamente financiadas e a reestruturação de empresa não é possível sem uma injecção de capital, cujo valor não quis avançar.

“Não é possível a partir de agora voar rotas com prejuízo. Todo o prejuízo com obrigações de serviço público têm de ser compensadas por uma entidade, seja Governo da República ou governo regional”, afirmou.

Nos últimos anos, o plano de reestruturação da SATA tornou-se um dos segredos mais bem guardados dos Açores. Ainda num período pré-covid, o plano da companhia aérea já era tema de intenso debate na política regional, com o governo açoriano, então liderado pelo PS, a adiar a divulgação pública do plano perante as queixas inglórias dos vários partidos da oposição.

Algumas coisas mudaram desde desse tempo. A começar pelo próprio plano de reestruturação, que teve de ser modificado devido à inevitável crise provocada pela covid-19. Também o executivo regional mudou de cor, 24 anos depois, com o PSD a subir ao poder com a ajuda de CDS-PP, PPM, IL e Chega.

Num processo paralelo ao auxílio de Estado, a Comissão Europeia iniciou ainda uma investigação às injecções de capital feitas pelo governo açoriano à companhia, num processo que deverá culminar com a transportadora a devolver 73 milhões à região.

Esta quinta-feira, o plano de reestruturação da SATA viu a luz do dia e vai agora ser apresentado à Comissão Europeia até 18 de Fevereiro. Agora, ver-se-á se o plano resistirá às negociações em Bruxelas.

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