Associação de exibidores de cinema diz que sector já perdeu mais de 300 trabalhadores

2020 foi um dos piores anos de sempre para as salas portuguesas, de acordo com os dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual. “Não haverá muitos negócios que cumulativamente tenham perdido tanto como nós, ou seja, mais de 75% da receita total”, diz Paulo Aguiar.

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Darek Delmanowicz/Lusa

Entre 300 a 400 pessoas terão ficado sem trabalho com a redução de actividade e o fecho temporário das salas de cinema em Portugal desde o começo da pandemia, revelou à agência Lusa a Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC).

A estimativa é feita pelo exibidor Paulo Aguiar, da direcção da APEC, numa altura em que as salas de cinema estão novamente encerradas, situação que vigora já desde 15 de Janeiro, e quando se assinala quase um ano desde que foi decretado o primeiro confinamento geral no país, para conter a propagação da covid-19.

Segundo a APEC, entre 1500 a 1600 pessoas trabalham directa ou indirectamente no sector da exibição cinematográfica, mas a redução de actividade das salas de cinema e os dois períodos de encerramento temporário levaram a que “entre 300 a 400 pessoas possam ter deixado este negócio”. “Onde existiam possibilidades de não manter determinados contratos de trabalho, por exemplo, a termo, obviamente não foram renovados”, diz Paulo Aguiar.

Segundo dados do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), em 2020 os cinemas portugueses sofreram uma quebra de 75,55% em audiência e receitas face a 2019, ou seja, tiveram menos 11,7 milhões de espectadores e facturaram menos 62,7 milhões de euros.

“Se olharmos de uma forma transversal para a economia, não haverá muitos negócios que cumulativamente tenham perdido tanto como nós, ou seja, mais de 75% da receita total do negócio”, sublinha o exibidor.

Em Novembro, a Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP) alertava que mais de metade das salas de cinema poderia encerrar actividade se não houvesse mecanismos para apoiar o sector.

“Os apoios transversais à economia têm sido uma ajuda para nós conseguirmos que estes encerramentos não fossem já uma realidade. [Sem eles] a maioria já teria encerrado portas”, afirma Paulo Aguiar, dando como exemplo medidas como os regimes de layoff e o apoio extraordinário à retoma progressiva.

Ainda assim, o exibidor não descarta uma redução de 40 a 50% do mercado da exibição, que conta actualmente com 561 salas de cinema em Portugal, segundo dados do ICA divulgados em Janeiro.

“Há uma resiliência tremenda dos operadores no sentido de continuar a ter a maioria das suas salas abertas, mas obviamente não vai acontecer”, diz o responsável da associação, que alerta para uma possível reconfiguração geográfica da oferta de cinema do país.

“Nos meses de Outubro e Novembro fomos vendo que houve salas e complexos que foram encerrando temporariamente”, lembra Paulo Aguiar. Em alguns casos, em complexos com 15 salas só sete estiveram abertas, e noutros espaços com quatro ou cinco ecrãs optou-se por não abrir nenhuma sala.

No que toca à exibição cinematográfica, o primeiro período de confinamento ocorreu entre Março e Junho de 2020, mês em que as salas de cinema reabriram de forma progressiva e com restrições de lotação.

No final de 2020, com as medidas de recolher obrigatório decretadas em muitos concelhos, os exibidores tiveram de suprimir as sessões nocturnas, que representam cerca de 40% da receita diária. O mesmo aconteceu com as sessões de fim-de-semana à tarde e à noite, período que significa 60% do total da receita semanal, segundo contas de Paulo Aguiar.

“Depois, a proibição de consumo de produtos dentro de sala [como pipocas e bebidas] foi o ponto final na possibilidade de qualquer operador ter capacidade financeira razoável para poder operar”, disse.

Esta semana, a ministra da Saúde, Marta Temido, revelou que Portugal continuará no actual regime de confinamento até meados de Março, porque o país continua com “uma incidência extremamente elevada” de novos casos de contágio.

Nas últimas semanas, a APEC tem tido audiências, a pedido, com os partidos com assento parlamentar e com o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, para “conversar sobre as dificuldades do sector”.

Não obstante os apoios transversais provenientes da área da Economia, Paulo Aguiar lamenta que não haja apoios específicos da tutela, estando a associação a aguardar a regulamentação do programa Apoiar Cultura, apresentado em Janeiro pela ministra da Cultura, para perceber se a exibição será efectivamente contemplada.

A APEC representa 90% das empresas exibidoras de cinema em Portugal, como a Nos Lusomundo Cinemas (líder de mercado), a Cineplacec, a NLC - Cinema City, a UCI Cinemas e a Socorama.

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