A economia abutre

Os Estados-membros julgaram por bem, a meio da maior catástrofe sanitária da História da Humanidade, fazer uma experiência: deixar que uma estrutura que nem sequer tem uma Direção-Geral da Saúde e que não dispõe de funcionários, nem de pessoal médico especializado, lidere o processo mais complexo de vacinação em massa.

Sabemos, hoje, que a Comissão Europeia foi tão ludibriada pelas multinacionais farmacêuticas como são enganadas as clientes pseudo-chiques que perguntam à vendedora do mercado se o peixe é fresco. Como bem alerta a sabedoria popular: “Quem paga adiantado é sempre mal servido.”

Ora, esses burocratas de Bruxelas – que apregoam as virtudes da boa governação e do escrúpulo orçamental – decidiram mesmo “alimentar um burro (ou vários) a pão de ló”. Começaram por fazer jorrar 9,5 mil milhões para financiar a investigação de antirretrovirais e de uma vacina, na esperança de reporem a normalidade perdida. Fingindo que não sabiam que as multinacionais farmacêuticas se limitam a pilhar o saber científico universitário, comprando os direitos de patentes de medicamentos e de vacinas descobertos por centros de investigação científica independentes.

Não satisfeitos, decidiram ceder a uma manobra mediática de chantagem nunca antes vista. Será que ninguém achou estranho que, apenas um dia antes da assinatura de um contrato de compra e venda de vacinas com a Comissão Europeia, a farmacêutica Pfizer tenha decidido divulgar – decerto, por extraordinário acaso – que a sua vacina tinha gerado anticorpos a 90% dos indivíduos testados?!? E que, apenas uma semana depois, a Moderna tenha vindo divulgar que a sua taxa de sucesso ainda era superior, atingindo 94,5%?!? Será que continuei eu a ser o único que ficou estupefacto por ver a Comissão Europeia – pressionada pelo “bruááá” mediático – a apressar-se a celebrar contratos de fornecimento das vacinas com estas duas multinacionais farmacêuticas?!?

Pergunto eu: alguém acredita que a divulgação daqueles dados – sempre revestidos de uma aura de pseudocientificidade –, a apenas alguns dias do fecho dos contratos, não se inseriu numa estratégia macabra daquelas farmacêuticas, com vista a forçar a União Europeia a assiná-los?... Afinal, depois da esperança (artificialmente) implantada nas mentes, qual seria o político europeu que teria coragem de dizer que, afinal, não cede às exigências dessas multinacionais?!?

Desde cláusulas contratuais que impedem a divulgação dos termos incluídos nos contratos, até à exigência de inclusão de cláusulas de isenção de responsabilidade, em caso de danos provocados pelas vacinas, até à estocada final: o incumprimento reiterado dos prazos de fornecimento de vacinas.

Afinal, não foram as multinacionais farmacêuticas quem alegou estar preparadas para garantir uma vacinação em tempo recorde? Obviamente, encontrando-se o dinheiro já nas suas contas bancárias, torna-se mais rentável produzir e exportar vacinas para outras paragens: Estados Unidos da América, Inglaterra, Índia, Israel, Canadá, Austrália. Enquanto isso, as percentagens de população vacinada nos países da União Europeia são risíveis. Incluindo em Portugal. Fizeram-se cerimónias difundidas em tempo real apenas para os telespetadores verem.

A ingenuidade europeia é incrível. E explosiva.

Por alguma razão, aliás, durante mais de 70 anos, os tratados europeus nunca conferiram poderes à União Europeia para intervir em matéria de saúde pública, salvo em matéria de ações de incentivo e de complementaridade (cfr. artigo 6.º do TFUE). Ora, os Estados-membros julgaram por bem, a meio da maior catástrofe sanitária da História da Humanidade, fazer uma experiência: deixar que uma estrutura que nem sequer tem uma Direção-Geral da Saúde e que não dispõe de funcionários, nem de pessoal médico especializado, lidere o processo mais complexo de vacinação em massa.

Esta ingenuidade só se compara à fixação dos principais decisores políticos mundiais com a “estética da crise”. Começaram por afirmar que nem sequer era necessário usar máscara, pois tal “apenas daria uma falsa sensação de segurança”. Obviamente, não se tratava de uma opinião científica. Mas apenas de uma estratégia para esconder que, apesar de haver relatos de uma epidemia desconhecida, desde dezembro de 2019, ninguém se preocupou em adquirir equipamento de proteção individual para o Serviço Nacional de Saúde. Resultado: havia que garantir que não se gerava uma corrida às máscaras cirúrgicas, assim se privando o pessoal de saúde deste instrumento fundamental de segurança.

Logo depois, os “estilistas da crise” passaram a recomendar-nos máscaras sociais. Pseudo-razão científica: filtram adequadamente o ar e protegem terceiros, sem necessidade de esgotar as máscaras cirúrgicas. Razão efetiva: a paragem da indústria têxtil exigia uma reconversão imediata, com vista a estancar a crise que se avizinhava. Progressivamente, quando a indústria já tinha assegurado a produção em massa de máscaras cirúrgicas, os “estilistas da crise” passaram a recomendar-nos máscaras cirúrgicas. Pretexto? A necessidade de certificação (sempre a burocracia, até quando estamos prestes a morrer!).

Nas últimas semanas, a “estética da crise” passou a conviver com responsáveis políticos a assumir o bico de pato. Sem nenhuma explicação – mas com a força indutora do medo gerado nos outros –, surgiram as máscaras FFP-2, que visam a filtragem de aerossóis nocivos. A desculpa? Nenhuma. Mas, pior do que recomendar, é deixar insinuado. A insinuação é a de que as novas variantes do vírus são tão intrusivas e agressivas que só as FFP-2 nos protegem da danação.

Não digo mais. Sobre esta sucessiva variação de roupa de rosto (algum de nós, alguma vez, pensou ter de introduzir este vestuário no seu roupeiro?...).

Digo, apenas, que há por aí muito industrial a enriquecer à conta da informação privilegiada que retira dos círculos de poder. A cada nova moda mascarada, as linhas de produção voltam ao bulício frenético dos “Tempos Modernos”.

Porque a crise não é para tod@s.

Se ainda não deram por isso, a Terra é redonda. E, ainda por cima, como demonstrou Isaac Newton, a gravidade força todos os objetos que nela existem a agarrar-se-lhe à crosta terrestre.

Incluindo o dinheiro. Que não vai a lado nenhum.

Simplesmente, muda de bolsos.

Que isso suceda, sem escrúpulos, perante a maior crise humanitária que já presenciámos, ao longo da nossa vida, isso é que é inadmissível.

Era bom que não nos deixássemos anestesiar, com a normalidade da morte. E com a normalidade das adversativas que pregam, a cada dia, o Apocalipse.

Porque, depois da morte, vem sempre a predadora (economia) abutre.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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