Um regresso às aulas afónico

Passaram 11 meses e nada mudou: os alunos e os seus representantes continuam sem ser ouvidos, sem estar à mesma mesa de decisão que os restantes intervenientes, quando são tomadas decisões que os afetam diretamente e cujas repercussões serão sentidas acima de tudo por eles.

A pandemia que nos preenche todo o espaço do dia está entre nós há 11 meses e vivemos o regresso ao ensino remoto em modo dejá vu, sem que nada neste longo inverno tenha realmente mudado.

As escolas têm feito um trabalho de superação, entre adaptações e mudanças radicais, na forma como prepararam o espaço escolar para receber os alunos, nas vias pessoalíssimas e individualizadas com que comunicam agora com os encarregados de educação e estudantes, no desdobramento dos professores para dar a atenção possível aos seus alunos – no trabalho de acompanhamento que é feito fora de horas para garantir que se atenuam desigualdades, que todos vão tendo os meios necessários, que se tiraram as dúvidas todas ou a garantir aos alunos que encontram neles um porto seguro num momento exigente... As escolas e universidades têm estado na nossa linha da frente, enquanto jovens. Têm servido de amparo, enquanto nos lançam também para um mundo novo, que ainda ninguém sabe bem qual será.

Os professores foram tudo isto e continuarão a ser, mais uma vez. Mas, se poucos foram os jovens que se atreveram a questionar a interrupção do ensino presencial ou a necessidade do ensino remoto nesta fase, muitos são os que questionam a forma como está a ser feito. Por diversos motivos, como o facto de a primeira experiência não ter corrido bem, a falta dos meios prometidos que tardam em chegar a todos, a falta de disponibilidade dos pais para apoiar no percurso educativo remoto – porque teletrabalho não são férias –, a falta de competências tecnológicas dos docentes e alunos, ou as privações sociais com impacto na saúde mental.

Importa transformar o ensino remoto num verdadeiro ensino à distância, adequando as ferramentas de aprendizagem e avaliação, clarificando os calendários, diminuindo a composição das turmas, e garantindo que as plataformas utilizadas oferecem proteção de dados.

Passaram 11 meses e nada mudou: os alunos e os seus representantes continuam sem ser ouvidos, sem estar à mesma mesa de decisão que os restantes intervenientes, quando são tomadas decisões que os afetam diretamente e cujas repercussões serão sentidas acima de tudo por eles. Não basta falar com os sindicatos dos professores, com as associações dos pais, ou dos diretores, é preciso ouvir os jovens. 

Esta semana demos um novo passo no ensino remoto, e mais uma vez os jovens não foram incluídos, não lhes foi partilhada informação ou responsabilidades. Neste processo, os jovens não foram questionados nem ouvidos.

A co-gestão tem de ser uma atitude. Tiram-nos tudo, mas não nos tiram a nossa voz.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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