Moradores arregaçam mangas perante ameaça de subida do rio Douro

Desde o aviso na madrugada desta quarta-feira, que indicava a subida das águas do rio Douro até à zona ribeirinha do Porto, poucos moradores conseguiram descansar. Na preia-mar das 02h, as águas subiram até à zona do Postigo de Carvão e Cais do Ouro, na Ribeira, mas não chegaram a Miragaia.

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LUSA/ESTELA SILVA

Com o rio Douro a ameaçar galgar as margens da zona ribeirinha do Porto, moradores arregaçaram as mangas para se entreajudar num sobressalto que, dadas as condições meteorológicas e abertura de barragens, poderá durar até ao fim-de-semana.

Desde o aviso de que, na preia-mar da madrugada desta quarta-feira, as águas do rio Douro poderiam subir à zona ribeirinha do Porto, poucos foram os moradores que conseguiram “deitar a cabeça na almofada”.

“Foi uma noite muito sobressaltada, sempre a vir ver à janela como é que estava”, recordou à Lusa Nocas da Ribeira, como é conhecida no local onde vive desde que nasceu. À semelhança de tantas outras noites, Nocas da Ribeira, de 46 anos, deitou os filhos e foi para a rua “ver quem precisava de ajuda”.

“Temos tirado arcas dos armazéns e tudo o que há ainda para eles [moradores] sobreviverem e, mais tarde, poderem fazer-se à vida”, contou, comparando a subida das águas do rio a um “relâmpago”. “Às 22h30 [de terça-feira] não havia água e, de repente, já estava tudo cheio”, descreveu.

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Na preia-mar das 02h00, as águas do rio Douro subiram até à zona do Postigo de Carvão e Cais do Ouro, na Ribeira. A água não chegou a Miragaia, mas os moradores ficaram em desassossego.

“Passamos bem, mas sempre à espera do pior”, admitiu à Lusa Jorgelina Santos, de 75 anos, que volta e meia, durante a noite, lá “ia espreitar à varanda”. Durante a tarde de terça-feira, quando o aviso amarelo das autoridades chegou, Jorgelina Santos arrumou o armazém onde guarda os “edredons e outras coisas de Verão”. “Quando chove muito, já estamos à espera disto”, confessou a moradora em Miragaia há 52 anos.

Para José Avelar, de 81 anos, a noite foi “tranquila”. O morador, que já assistiu a muitas cheias do rio Douro, acredita que nesta quarta-feira “a água não vem”. “Já houve aqui muitas cheias, mas já vieram prevenir que não ia haver cheia hoje. Não há problema nenhum, a água não vem”, assegurou.

A perspectiva das autoridades era de que a preia-mar desta tarde fosse “igual ou inferior” à da madrugada, o que se veio a comprovar. As águas do rio Douro não alagaram a zona da Ribeira, nem de Miragaia, e a maré começou a baixar pelas 14h30, prevendo-se que assim continue “paulatinamente” nas próximas seis horas, disse à Lusa Santos Amaral, comandante da Capitania do Porto do Douro.

“Em termos de caudal, espera-se uma melhoria gradual. Todavia, pouco significativa porque há muita água ainda acumulada”, afirmou. A previsão de chuva, tanto em Portugal como em Espanha, e a reabertura das barragens espanholas vai levar a que a situação se prolongue “ainda por alguns dias”.

“Tive notícia, há cerca de meia hora, que em Espanha reabriram as barragens. Portanto, significa que vai chegar mais água ao rio Douro”, assegurou o comandante, acrescentando que a análise será feita na quinta-feira de manhã.

A análise, que dependerá da quantidade, duração e intensidade da chuva, poderá ditar se o dispositivo de operações montado nas zonas ribeirinhas do Porto permanece até “sábado ou domingo”. “Amanhã faremos uma avaliação e, se chegarmos à conclusão de que estas cotas se vão manter, manteremos todo o dispositivo instalado”, garantiu Santos Amaral.

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Já o presidente da junta do centro histórico do Porto, que se encontrava na zona da Ribeira a auxiliar os moradores, disse recear que, se “nada for feito”, se possa vir a assistir a “uma cheia identifica à de 1909”. “A construção de barragens de retenção é fundamental, isso de deitar a culpa aos espanhóis já não funciona”, afirmou António Fonseca.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro sob aviso amarelo devido à agitação marítima com ondas de oeste/noroeste com quatro a cinco metros até às 18h desta quarta-feira.

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