Cumprir Acordo de Paris poderia salvar milhões de vidas

No estudo foram considerados nove países que representam metade da população mundial e 70% das emissões de gases com efeito de estufa.

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A subida do nível do mar é um dos impactos das alterações climáticas Adriano Miranda

Milhões de pessoas poderiam ser salvas em cada ano se os países aumentassem as medidas para cumprir os objectivos do Acordo de Paris e impedir o aquecimento global, indica um estudo divulgado esta quarta-feira, que tem 2040 como horizonte.

O estudo é da responsabilidade da revista científica britânica The Lancet, através da iniciativa Lancet Coutdown on Health and Climate Change (Contagem Decrescente em Saúde e Alterações Climáticas), e foi publicado agora na revista The Lancet Planetary Health.

De acordo com o documento, a adopção de políticas que dêem prioridade à saúde e que sejam consistentes com os objectivos do Acordo de Paris, de impedir que as temperaturas globais não subam mais de dois graus Celsius em relação à época pré-industrial, e de preferência menos de 1,5 graus, poderiam salvar vários milhões de vidas até 2040 em nove países.

Nos cálculos dos investigadores poderiam ser salvas 6,4 milhões de pessoas através de melhor alimentação, 1,6 milhões conseguindo ar mais limpo e 2,1 milhões promovendo o exercício físico.

Os países considerados para o estudo - Brasil, China, Alemanha, Índia, Indonésia, Nigéria, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos - representam metade da população mundial e 70% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

Segundo o Acordo de Paris, sobre redução de emissões, todos os países devem apresentar as suas contribuições nacionais (NDC, Nationally Determined Contributions) para a redução de GEE e limitar o aquecimento do planeta.

Essas NDC deviam ser actualizadas antes da próxima cimeira do clima (COP26) prevista para 2020, mas que foi adiada para este ano devido à covid-19. Até agora muitos países, incluindo seis do grupo dos nove em estudo, ainda não actualizaram as NDC (actualizaram 39 países e a União Europeia), sendo que, notam os autores, com as actuais metas há o risco de a temperatura aumentar mais de três graus.

Ian Hamilton, director-executivo da iniciativa The Lancet Countdown on Health and Climate Change, diz, citado no estudo, que os benefícios para a saúde de políticas climáticas ambiciosas têm um impacto positivo imediato, e acrescenta que “existe uma oportunidade de colocar a saúde na vanguarda das políticas relativas às alterações climáticas para salvar ainda mais vidas”.

Os autores do estudo fizeram estimativas tendo em conta as emissões de GEE geradas pelos sectores da energia, agricultura e transportes, as mortes anuais devidas à poluição atmosférica e factores de risco relacionadas com a dieta e inactividade física. E usaram três cenários diferentes, um com as actuais políticas decorrentes das NDC em vigor, outro cumprindo o Acordo de Paris e outro que analisa os benefícios adicionais de incorporar no segundo cenário objectivos de saúde explícitos.

“Os benefícios para a saúde do reforço dos compromissos das NDC são gerados tanto através da mitigação directa das alterações climáticas como através do apoio a acções para reduzir a exposição a poluentes nocivos, melhorar as dietas e permitir uma actividade física segura”, diz-se no documento.

E apesar de dizerem que alguns países reforçaram as suas ambições em termos de redução de emissões de GEE, alertam que mesmo assim, com base nesses anúncios de compromissos, “o mundo ainda não está no bom caminho para cumprir os objectivos do Acordo de Paris e enfrentaria 2,5 graus Celsius de aquecimento até final do século”.

A iniciativa Lancet Coutdown on Health and Climate Change é uma colaboração internacional para uma visão global da relação entre a saúde pública e as alterações climáticas e junta mais de 120 especialistas em diversas áreas, publicando todos os anos um relatório.

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