Uma bastonária dispensável, a oposição inútil e uma boa ministra

Não sei se em tempos de guerra devem-se mudar ou não alguns generais. Os bons é que certamente não.

Desconheço se países como a Espanha, Reino Unido, Itália ou França têm uma espécie de bastonária da Ordem dos Enfermeiros do calibre da portuguesa. Pelo cargo que ocupa, trata-se naturalmente de uma senhora que faz parte do “malogrado” sistema, mas que se faz passar por uma lutadora contra o mesmo, “disparando” para todos os lados, ou não fosse ela uma militante do Chega e, ao que parece, presença assídua na Correio da Manhã TV e SIC. Daqui o problema não é o facto de se “atirar” a qualquer medida do Governo na gestão da pandemia desde março, criticando muitas vezes aquilo que também envolve a sua própria responsabilidade. O problema é que grande parte dos enfermeiros já não respeitam a forma e a postura desta bastonária que também esconde uma certa renúncia ao lugar. Noutro contexto qualquer era o que é, mas, no atual, é bem mais do que um pormenor.

Sei é que os casos graves e reveladores de certa chico-esperteza nacional no processo de vacinação não são uma novidade ou exclusividade do controlo da política. São mesmo transversais à nossa sociedade. Também não estamos isolados. Qualquer leitura mais atenta a publicações espanholas, francesas ou inglesas como o The Guardian dizem-nos exatamente isso e percebe-se que, nas últimas semanas, exemplos destes não têm faltado no processo de vacinação de outros países. Mas de que valerá isso para quem em Portugal, tal e qual esta bastonária, faz uma avaliação derrotista e completa ao plano de vacinação a partir dos mesmos? Haja paciência e bom senso que aguente!

Já o salvador da pátria do “meio milhão de zangados” responde a tudo isto da forma como sabe e através do populismo a que habituou o país: propondo pena dura para estes pequenos trafulhas. Mantendo-se, assim, longe do relevante e dos mínimos exigíveis. Ir, uma vez que seja, além do mero soundbyte. Noutro espetro, e através de uma consideração global à condução desta pandemia, o líder do PSD revelou maior sensatez quando referiu que não estava nos seus planos procurar fazer cair o Governo ou que tão pouco demitiria a ministra da Saúde, caso fosse primeiro-ministro. Contrariamente aos que apenas veem cálculo político nestas declarações, parece-me que Rui Rio não pôde verbalizar publicamente o que outros também pensam e ele não pode dizer: apesar dos erros, nem a direita e muito menos a extrema-esquerda prometiam ou pressupõem uma melhor gestão desta pandemia. Não se percebe então tanto chiqueiro político em determinados momentos, quando as piores decisões, e sobre as quais escrevi há três semanas, foram tomadas em consonância com todos os outros partidos. Apesar de os do centro-direita e direita até terem querido menos restrições no Natal e na passagem de ano! Pois bem, na realidade teria feito bem melhor ao país, ao PSD e ao próprio Rui Rio ter mantido a postura de cooperação política e a critica com critério que expressou durante a primeira vaga.

Tal como o tempo ditará determinados desfechos políticos, aí também me parece que poderá trazer outro em relação a Marta Temido e a todo o torrencial de críticas recentes. Sobretudo, quando ela foi a única que revelou algum desconforto e discordância pelas medidas de relaxamento no Natal. Talvez tenha faltado peso político. De todas as formas, agora que finalmente se começa a constatar um efeito de abrandamento no número de novos casos e de ligeira diminuição da saturação nos hospitais e do número de óbitos, quero acreditar que seja diferente. Para lá das variáveis que se colocam com cada decisão e de demasiados governos serem reativos aos indicadores por isso mesmo, parece-me que continuamos a ter uma ministra humilde, conhecedora, mas sem quaisquer verdades absolutas além das que o tempo se encarregou de confirmar. O que, dada a complexidade do vírus e de todas estas variáveis, recomenda-se. E sem qualquer tipo de subterfúgios ou falta de determinação, como transparece na entrevista que deu à revista Visão. Por mais que custe a alguns, é respeitada e ouvida transversalmente pelos profissionais da saúde.

Não sei se em tempos de guerra devem-se mudar ou não alguns generais. Os bons é que certamente não.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico​

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