Israel mostra que vacinas resultam, mas têm limites

Campanha de vacinação em Israel começa fase mais difícil, quando jovens adultos não parecem tão motivados para tomar a vacina, assim como muitos na comunidade árabe israelita e ultra-ortodoxa.

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Israel abriu a possibilidade para serem vacinadas todas as pessoas com mais de 16 anos para tentar manter o elevado ritmo de vacinação ABIR SULTAN/EPA

Israel parece um paradoxo: o país com o ritmo mais rápido de vacinação é ainda um país a tentar sair, com dificuldades, de um terceiro confinamento nacional, e com o número de casos a permanecer teimosamente altos.

O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu – que está em campanha eleitoral para as legislativas de Março – veio esta terça-feira apresentar alguns dados sobre a eficácia das vacinas, sublinhando que mais de 97% das mortes no país nos últimos 30 dias foram de pessoas que não tinham recebido qualquer dose da vacina.

Israel começou uma campanha de vacinação a 20 de Dezembro e rapidamente ganhou um ritmo invejável. Aproveitando esse ritmo e a população de apenas 9 milhões de habitantes, Netanyahu, que espera colher os frutos da vacinação na noite eleitoral de 23 de Março, negociou com a Pfizer para que o país servisse de laboratório em tempo real de como se comporta a vacina.

Neste momento, 24,9% da população recebeu as duas doses da vacina (40,91% a primeira), mas apesar disto, e de estar num terceiro confinamento, os números de infecções e hospitalizações demoram a baixar. Esta terça-feira foram anunciados mais 3951 casos de infecção nas 24 horas anteriores, e havia 1088 pessoas hospitalizadas em estado grave. Por outro lado, tinham morrido 21 pessoas, o que já era uma diminuição (o dia com mais mortos de toda a pandemia foi 20 de Janeiro com 101, o país tem um total de 5191 óbitos).

Os números totais não contam, no entanto, a história toda: um estudo apresentado esta segunda-feira indica que a campanha de vacinação parece ter tido um efeito nas infecções, hospitalizações, e doença grave entre os maiores de 60 anos (o primeiro grupo etário a ser vacinado): seis semanas após o início da campanha, o número total de casos de infecção tinha baixado 41% comparado com as três semanas anteriores, as hospitalizações descido 31% e os casos críticos 24%. Segundo o estudo, o efeito das vacinas foi visível mesmo tendo em conta factores de redução de transmissão como o confinamento, explica o New York Times.   

“Dizemos com cautela: começou a magia”, declarou no Twitter Eran Segal, do Instituto Weizmann, um dos autores do estudo sobre a acção das vacinas.

Mas Eran Segal e o co-autor do estudo Uri Shalit salientaram que há ainda problemas, um dos quais a desaceleração do ritmo de vacinação, sublinhando que chegar aos últimos 10-15% que falta vacinar nesta faixa etária não vai ser fácil. “A preocupação agora é que entre a população de risco ainda há alguns sectores como os árabes israelitas ou os ultra-ortodoxos em que estão a ser vacinadas percentagens muito mais baixas”, declarou.

Tem sido entre os árabes israelitas e os ultra-ortodoxos que as regras são menos respeitadasas escolas religiosas ultra-ortodoxas estão a funcionar, e no fim-de-semana milhares de pessoas saíram à rua para o funeral de um rabino.

Por outro lado, em todas as comunidades, jovens adultos, que poderiam agora teoricamente vacinar-se, não estão a acorrer aos centros de vacinação com tanta pressa. Os centros estão a operar abaixo da capacidade: o ritmo de 120 mil vacinas diárias baixou para apenas 65 mil, o que levou as autoridades a abrir a possibilidade de ser vacinado a todos os maiores de 16 anos. Isto não levou ao aumento esperado, deixando à vista uma maior relutância dos mais novos em tomar a vacina, diz o diário Haaretz.

Isto é um problema porque para obter imunidade de grupo (estima-se que quando 70% da população estiver vacinada), Israel precisaria de vacinar todos os maiores de 16 anos, já que os restantes 30% têm menos de 16 anos e a vacina não está ainda autorizada nessas idades.

Ainda assim, especialistas como Michel Thieren, da OMS, dizem que o “objectivo imediato” ainda não é a imunidade de grupo, mas sim evitar casos graves de doença e mortes.

O terceiro confinamento de Israel começou tecnicamente a ser aliviado no domingo (o primeiro dia útil da semana na região) com a reabertura de negócios que servem uma só pessoa (cabeleireiros ou barbeiros), restaurantes em regime de take-away, o fim da proibição de se afastar mais do que um quilómetro do domicílio ou de visitar a casa de outra pessoa.

Mas o Governo decidiu adiar a reabertura das escolas, que deveria ter começado de forma faseada esta terça-feira, para quinta-feira e apenas nas zonas de menor incidência (no fim do primeiro confinamento, a reabertura rápida das escolas foi um factor que concorreu para a segunda vaga).

“Vai ser muito gradual nos próximos meses” a retirada de restrições, disse Nadav Davidovitch, director da Escola de Saúde Pública da Universidade Ben-Gurion e membro do organismo de aconselhamento do Governo, à Associated Press. “As vacinas são muito importantes, mas não vão resolver todos os problemas.”

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