Centros de estudo esperam que o ensino à distância ajude a retomar um “ano positivo”

Procura por explicações aumentou no 1.º período, depois de as famílias terem percebido falhas nas aprendizagens provocadas pelo primeiro confinamento. As últimas duas semanas foram de “stand-by”.

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Os responsáveis pelos centros acreditam que esta paragem forçada não os vai penalizar Paulo Pimenta

Não são apenas as escolas que regressam esta segunda-feira ao ensino, ainda que à distância. Também os centros de explicações esperam que esta seja uma semana de retoma, depois de 15 dias em “stand-by”. Até à suspensão das aulas, este estava a ser “um ano positivo” para os explicadores, com um aumento de procura motivado, em boa medida, pelos impactos negativos que o primeiro confinamento teve sobre as aprendizagens dos alunos.

Até à suspensão das aulas presenciais, a 22 de Janeiro, as explicações estavam a ter “mais procura do que noutros anos”. “Tivemos um aumento de 20%”, precisa Leonor Sousa, que dirige o Centro de Estudos da Boavista, no Porto. A primeira justificação para este crescimento tem a ver com o “medo” das famílias, devido à situação sanitária. Entre ter os filhos num ATL depois do horário das aulas ou inscrevê-los numa explicação individual, muitos pais preferem a segunda opção. “Pelo menos estão em contacto com muito menos gente”, argumenta.

Por outro lado, as famílias começaram desde cedo a identificar os impactos negativos que quatro meses de ensino à distância, no ano lectivo passado, tiveram nos conhecimentos dos alunos. O aumento de procura das explicações notou-se “logo após os testes do 1.º período”, conta José Carlos Ramos, director de franchising da Explicolância, uma cadeia de centros de estudos que opera em nove concelhos, quase todos do Sul do país.

“Os pais perceberam que havia lacunas de aprendizagens”, prossegue o mesmo responsável. “Especialmente no 1.º ciclo, há alunos em situação muito complicada. Para as crianças do 1.º e 2.º ano, há perdas que podem mesmo ser irreversíveis.” Tradicionalmente, são os alunos do 3.º ciclo e, sobretudo, do ensino secundário quem mais procura os centros de estudos. Este ano, há estudantes bem mais novos a procurar este tipo de apoios, referem ao PÚBLICO as várias empresas do sector contactadas.

Este estava a ser “um ano positivo”, sintetiza o director da Explicolândia. “Dava para minimizar impactos do ano passado.” No início do primeiro confinamento, a procura dos centros de estudo sofreu uma redução significativa, que levou ao despedimento de professores e colocou em risco a sobrevivência dos negócios. Os centros de explicações não foram incluídos na lista dos primeiros sectores a poder reabrir, no início do Verão, o que acentuou as suas dificuldades.

A situação das salas de estudo começou a melhorar com a aproximação dos exames nacionais, no final do ano lectivo, verificando-se um “boom” de alunos que procuravam preparar-se para as provas de acesso ao ensino superior, afirma Sandra Romão, directora-geral do grupo Da Vinci, que está presente em mais de 50 cidades do país, confirmando o “cenário positivo” vivido nos últimos meses pelo sector.

A 2.ª fase dos exames do ensino secundário aconteceu, excepcionalmente, em Setembro, levando a que Agosto, um mês em que habitualmente os explicadores pouco ou nada trabalham, tivesse sido muito preenchido. “Na segunda metade de 2020, estivemos a trabalhar ininterruptamente”, diz Sandra Romão.

Neste segundo confinamento, os centros de explicações foram das primeiras actividades a encerrar, ainda antes das escolas, mas conseguiram fazer “uma transição muito suave” para um modelo de apoio que é exclusivamente digital, segundo a responsável do grupo Da Vinci. “Beneficiámos da experiência de Março a Dezembro, em que introduzimos as aulas online, e do investimento que fizemos para ter as nossas próprias plataformas de contacto com os pais e os alunos”, acrescenta. “Tínhamos esse know how acumulado”, confirma José Carlos Ramos, da Explicolândia, que teve explicações totalmente online e um modelo misto, além da oferta de apoio tradicional, mesmo enquanto o ensino foi presencial nas escolas.

O “ponto-chave” para a procura nas próximas semanas serão as avaliações. No ano passado, muitos alunos desistiram do apoio dos explicadores porque houve “uma grande diversidade de modelos” de avaliação. Sem a pressão dos testes, os estudantes entenderam que o investimento num centro de estudos não se justificava. Como, este ano, há a expectativa de um regresso ao ensino presencial pelo menos no 3.º período, a situação pode ser mais favorável, confia.

Por isso, ainda que a suspensão das aulas presenciais nas últimas duas semanas tenha afastado os estudantes do contacto com explicadores, ninguém os dá como perdidos. “Esteve tudo um bocadinho em stand-by”, ilustra Leonor Sousa. Mas “pelo menos os que tínhamos em Janeiro devem voltar”.

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