Protegido do ex-Presidente Rafael Correa passa à segunda volta nas presidenciais do Equador

Segundo e terceiros classificados nas eleições para escolher o novo chefe de Estado do Equador estão separados por escassas décimas. Candidatos de esquerda têm quase 70%. Segunda volta está marcada para 11 de Abril.

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O candidato Andrés Arauz fala aos apoiantes SANTIAGO ARCOS/Reuters

O economista Andrés Arauz já prepara a campanha para a segunda volta das presidenciais no Equador, enquanto os seus potenciais rivais vão ter de esperar até que seja contado o último voto. Com 97,52% dos boletins contados, o ecologista Yaku Pérez estava ligeiramente à frente do conservador Guillermo Lasso, um ex-banqueiro que concorre pela terceira vez à presidência. Arauz, apadrinhado pelo ex-chefe de Estado Rafel Correa, somava 32,21% dos votos; Pérez, 19,79%, e Lasso, 19,61%.

A surpresa da noite é o surgimento, em quarto lugar, de Xavier Hervas, da Esquerda Democrática, que alcançava 16,1% dos votos, quando as sondagens não lhe davam mais de 5%. Sublinhando a sua intensa campanha nas redes sociais a apelar a uma renovação da classe política, o diário El País escreve que os votos de Hervas “fortalecem a percepção de que a esquerda continua a ser a opção favorita do país andino”.

Mais de 13 milhões de equatorianos podiam decidir o sucessor de Lenín Moreno, que rompeu a linha de Correa, adoptando cortes no sector público e acordos com o sector privado. Com Moreno na presidência, Correa, que continua a ser o político mais influente no país, foi condenado a oito anos de prisão pelo Supremo Tribunal do país por participação num esquema fraudulento com empresas que pagavam para ser escolhidas em concursos públicos.

A partir da Bélgica, onde se encontra, o ex-presidente descreveu o processo como “ridículo”. Correa espera pela eleição de Arauz para poder regressar sem arriscar ser preso. O objectivo, como anunciava a candidatura, passa por “recuperar a pátria”.

Com 16 candidatos, as sondagens apontavam para que as eleições se decidissem entre um regresso ao “correísmo”, com Arauz, e a mudança para um modelo de tendência neoliberal, com Lasso. Mas os resultados indicam que entre os três movimentos de esquerda, incluindo Pérez, somam 70% do apoio dos eleitores.

As eleições seguem-se a quatro anos de crise económica que a pandemia de covid-19 agravou – desde Março, quando as imagens de corpos nas ruas de Guayaquil correram mundo, morreram 15 mil pessoas. Só nos três primeiros meses depois da chegada do novo coranavírus ao país, calcula-se que mais de dois milhões de pessoas tenham caído abaixo do limiar da pobreza.

"Cuidar” dos votos

Muitos apoiantes de Pérez juntaram-se no exterior do centro que reúne as contagens de todo o país, respondendo ao apelo do candidato para “cuidar” dos votos. “O que ganharmos nas urnas não nos vão tirar na mesa. Estaremos vigilantes. Somos a segunda força política no Equador”, afirmou numa conferência de imprensa o ex-presidente da confederação de povos indígenas e governador da província de Azuay, que alcançou projecção nacional na liderança dos protestos de Outubro de 2019, contra o fim de subsídios e o aumento do preço dos combustíveis. “Ganhou a candidatura da ecologia, da defesa, da água”, disse ainda.

“As minhas felicitações ao povo equatoriano, que por mais de 65% disse não ao modelo totalitário e populista que pretende voltar”, dissera Lasso, numa conferência de imprensa depois dos primeiros anúncios do Conselho Nacional Eleitoral. “Com absoluta frontalidade vos digo, nós respeitamos a lei e reconheceremos os resultados quando estiverem contados 100% dos boletins”, afirmou. O candidato da direita diz que uma recontagem vai mostrar que foi ele a passar à segunda volta.

Mais cedo e seguro tinha falado Arauz. “Estou pronto a trabalhar para o país depois deste triunfo contundente”, disse. “A nossa margem será muito mais ampla”, antecipou o protegido de Corra, que prometeu fazer transferências directas de mil dólares (mais de 830 euros) para um milhão de famílias.

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