Ainda os colunistas

As tomadas de posição, por vezes apaixonadas, destes leitores podem contribuir para a reflexão que a Direcção Editorial do PÚBLICO está a fazer sobre a questão dos colunistas que também são políticos no activo.

Os protestos formulados por leitores a propósito da presença regular, nas páginas do PÚBLICO, de colunistas que também são políticos no activo, bem como a ponderação dessa matéria pelo director do jornal (coluna do provedor de 23 de Janeiro), originaram cartas de outros leitores. Alguns a favor da continuação da presença desses comentadores; outros contra.

Com uma “vida profissional que é maioritariamente passada entre Portugal e Espanha”, o leitor Pedro Cera, de Lisboa, considera que cobre “todo o espectro de notícias e opinião relevantes” no nosso país lendo o PÚBLICO e o Expresso. Em contrapartida, em Espanha, vê-se “sistematicamente obrigado a ler o El País e o El Mundo para obter uma visão contrastada da mesma realidade, e termino a leitura sem garantias de o ter conseguido”.

Mas, segundo o leitor, “o que verdadeiramente importa nas opiniões de facção expressas num mesmo jornal não se esgota no assegurar de uma pluralidade de visões. Requer-se pertinência, clareza e inteligência, naquilo que se escreve. Assim, mais do que preocupar-me se determinado comentador político, militante activo de um partido, está a ser isento e puro nas suas proclamações, interessa-me avaliar se aquilo que advoga é feito com clareza e inteligência, de modo a que eu, enquanto leitor, possa reflectir sobre as suas ideias.”

“Ora, se à primeira qualquer cai, à segunda e às seguintes só cai quem quer, pelo que ninguém é obrigado a ler sistematicamente as colunas de opinião de um determinado comentador político, se lhe parecerem que pouco ou nada acrescentam à sua vida, não obstante a clareza e inteligência do discurso. Não importa, pois, tanto a qualidade em que intervém o comentarista, senão a qualidade com que o faz, isto é, a relevância e inteligência das ideias expressas na sua análise.”

Nestes dois domínios, escreve o leitor, os textos que mais pecam por falta das referidas qualidades “são os do vosso comentador residente, João Miguel Tavares”. (…) Num momento em que se suscita a discussão sobre a pertinência do comentário político dos políticos, senti-me na obrigação moral de vos escrever, para dar-vos conta da minha preocupação enquanto leitor, de que os alvos podem estar errados, nesta reflexão que indicam que vão levar a cabo”.

A propósito das opiniões que condenam a presença regular desses colunistas no PÚBLICO, o leitor João Carvalho considera que elas propõem, “descaradamente”, um “saneamento” que parece ter o “acolhimento” do director do jornal. “Estamos pois”, continua o leitor, “a caminho de mais uma etapa no percurso do PÚBLICO. De órgão oficioso do PS, onde pontifica a direcção e quase toda a redacção, passa a órgão oficial do governo e do PS”.

Trata-se de algo “completamente lamentável”, acrescenta o leitor, que interroga: “Ao convidar este tipo de comentadores, o PÚBLICO estava à espera de quê? Que eles fossem oposição aos seus próprios partidos e que só falassem dos assuntos da actualidade de uma maneira almofadada, asséptica, tendo previamente desinfectado a sua inteligência crítica de qualquer vestígio de oposição ao governo?”

A continuação desses colunistas é defendida igualmente pelo leitor Francisco Pinto de Almeida, que argumenta: “Gosto de ter acesso a várias correntes de opinião e, explicita ou implicitamente, todos os leitores regulares do PÚBLICO sabem bem quais as inclinações políticas dos vários articulistas; se me fizerem ‘urticária’, o que não é o caso em relação a nenhum, passaria à frente! Ponderar, sequer, em tornar o PÚBLICO num jornal pseudo-asséptico, só o desprestigia e afastará inevitavelmente leitores/assinantes”.

O leitor Filipe Alves Moreira, do Porto, também não pensa que “o PÚBLICO ou qualquer outro jornal ou órgão (de Imprensa) deva, por princípio, afastar das suas colunas de opinião conhecidos dirigentes ou militantes partidários, desde que a sua condição seja convenientemente assinalada, como tem sido. Percebo bem os riscos de que falam os leitores, basicamente o de transformar opiniões em propaganda ou agenda partidária. Entendo, porém, que a lógica [desses leitores] tem riscos e pode ser contraproducente. O risco, desde logo, de ser mais uma forma de descredibilização da política e dos políticos”, que são muitas vezes injustamente vistos como “uns inúteis e parasitas, interessados unicamente no seu bem-estar”.

“Banir políticos no activo, conhecidos militantes ou altos dirigentes partidários das colunas de opinião dos jornais será, a meu ver, um sinal que vai ao encontro desse perigoso, e não sei até que ponto já dominante discurso.” Tanto mais, afirma o leitor, que “Uma coisa é um jornal nunca ter tido colunas de opinião de dirigentes partidários; outra é, tendo-as tido, decidir eliminá-las”. “De resto, e para terminar, há uma excelente forma de lidarmos com o incómodo que nos possam provocar as colunas de dirigentes partidários: não as ler. (…) Evidentemente, não está aqui em causa discutir nomes. Mas, se tal interessar, posso dizer que quer Paulo Rangel, quer Pedro Filipe Soares são colunistas que habitualmente leio com gosto e interesse, concorde ou não com o que dizem, o que é secundário.”

Pelo teor de outras cartas enviadas ao provedor constata-se que o tema em debate divide marcadamente as opiniões dos leitores.

Mário Santos, um leitor de Águas Santas, começa por interrogar o provedor: “O Sr. também lê o jornal e pergunto: nunca lhe ocorreu – e este tema era por demais evidente – que alguns comentadores só escreviam para propagandear o seu próprio partido? (…) Deviam escolher pessoas credíveis que emitissem opiniões não balizadas de imediato por interesses partidários. Creio que esta situação se mantém há demasiado tempo, sem qualquer interesse, a não ser o dos próprios, e a bem dos leitores era bom que revissem a política [dos convites] a fazedores de opinião.”

Por seu turno, o leitor Manuel Rodrigues afirma que há uma “evidente discriminação ideológica no recrutamento [dos colunistas], em benefício de algumas correntes e em prejuízo de outras. (…) Chega-se ao ponto de ser distribuído espaço no jornal a activos membros de alguns partidos e não de outros. E alguns destes chegam a utilizar as suas colunas para dirimir questões internas das forças que representam – vejam-se recentes escritos de Francisco Mendes da Silva.” “É verdade que a situação não é exclusiva do PÚBLICO (…) Olhando de relance para o ambiente mediático português, fica-se com a ideia de que os jornalistas estão a ser expulsos das páginas dos jornais e das antenas das rádios e das televisões por uma vaga de formadores de opinião sem Carteira Profissional activa.”

O PÚBLICO irrita por vezes o leitor Manuel Barbosa: “Mas resisto à irritação ocasional comprando o PÚBLICO! Espero que outros façam o mesmo porque, apesar dos pecados, não há mais nada para ler (em português de Portugal). Vou-me refugiando no Le Monde e no New York Times. Esta pequena nota é escrita hoje apenas para pedir à direcção do jornal para, no arrazoado semanal do Dr. Paulo Rangel, acrescentarem ‘só para eleitores e cidadãos de direita’. Há limites para tudo! Por mim, dia de Paulo Rangel é dia para não comprar o PÚBLICO. Talvez o Povo Livre!”

O provedor considera que as tomadas de posição, por vezes apaixonadas, destes leitores podem contribuir para a reflexão que a Direcção Editorial do PÚBLICO está a fazer sobre a questão dos colunistas que também são políticos no activo.

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