Iémen: EUA deixam de designar houthis como organização terrorista

Administração de Joe Biden reverteu uma das últimas medidas tomadas por Donald Trump. As Nações Unidas descrevem o Iémen como a maior crise humanitária do mundo, com 80% dos seus 24 milhões de habitantes a precisarem de assistência para sobreviverem.

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Apoiantes dos houthi pedem fim da interevenção saudita no Iémen YAHYA ARHAB/EPA

Os Estados Unidos vão deixar de designar os houthis iemenitas como uma organização terrorista, uma resposta à crise humanitária no Iémen, revertendo uma das mais criticadas decisões de última hora da administração de Donald Trump.

A medida, confirmada por um funcionário do Departamento de Estado na sexta-feira, surge um dia depois de o Presidente Joe Biden declarar a suspensão do apoio dos Estados Unidos à campanha militar liderada pela Arábia Saudita no Iémen, que é amplamente vista como uma guerra por procuração entre a Arábia Saudita e o Irão.

“A nossa acção deve-se inteiramente às consequências humanitárias dessa designação de última hora da anterior Administração, que as Nações Unidas e organizações humanitárias deixaram claro que iria acelerar a pior crise humanitária do mundo”, disse uma fonte oficial norte-americana.

Mohammed Ali al-Houthi, chefe do Comité Revolucionário Supremo dos houthis, disse à Al Mayadeen TV que o grupo ouviu as recentes declarações do Governo norte-americano sobre o Iémen, mas que ainda não viu nada a acontecer.

As Nações Unidas descrevem o Iémen como a maior crise humanitária do mundo, com 80% dos seus 24 milhões de habitantes a precisarem de assistência para sobreviverem.

No mês passado, a ONU alertou que novas sanções levariam o Iémen a uma fome a uma escala nunca vista nos últimos 40 anos. A fome nunca foi declarada oficialmente, mas os indicadores deterioraram-se em todo o país.

“Congratulamo-nos com a intenção declarada pela Administração dos Estados Unidos em revogar a designação [dos houthi como grupo terrorista], uma vez que tal vai proporcionar um profundo alívio a milhões de iemenitas que dependem de assistência humanitária e de importações comerciais para garantir as suas necessidades básicas de sobrevivência”, afirmou Stephane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas.

O antigo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, pôs os houthi na lista negra no dia 19 de Janeiro, um dia antes de Joe Biden tomar posse.

Quando declarou os houthi como grupo terrorista, a Administração Trump isentou as Nações Unidas, a Cruz Vermelha e as exportações de mercadorias agrícolas, medicamentos e outros materiais médicos, mas os grupos de ajuda humanitária alertaram que a medida traria graves consequências para o país.

A reversão da medida foi, por isso, recebida com entusiasmo pelos grupos de ajuda humanitária que actuam no Iémen.

“É um suspiro de alívio e uma vitória para o povo iemenita, assim como uma forte mensagem por parte dos Estados Unidos, que estão a por os interesses dos iemenitas em primeiro lugar”, disse Mohamed Abdi, director do Conselho Norueguês para os Refugiados, pedindo à Administração Biden para fazer esforços para um cessar-fogo imediato em todo o país.

O Departamento de Estado norte-americano sublinhou que a sua decisão não reflecte a visão dos Estados Unidos em relação à “conduta repreensível” dos houthi, acusados de várias atrocidades contra civis durante a guerra civil que dura desde 2015. 

O senador Chris Murphy, da comissão de Relações Internacionais do Senado, congratulou-se com o anúncio do Departamento de Estado e recordou que a medida tomada por Donald Trump nos últimos dias do seu mandato “impediu que alimentos e outras ajudas essenciais chegassem ao Iémen”, realçando que a continuar a designar os houthi como uma organização terrorista iria “impedir uma negociação política eficaz”.

Uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita interveio no Iémen em 2015, em apoio das forças governamentais que combatiam os houthi, alinhados com o Irão. A guerra dos últimos seis anos já causou dezenas de milhares de mortos no país e milhões de deslocados.

As Nações Unidas têm tentado retomar as negociações de paz, enquanto o país também enfrenta uma profunda crise económica e a enormes dificuldades no combate à pandemia de covid-19.

No seu relatório anual, publicado no passado mês de Janeiro, a Human Rights Watch acusou os dois lados da em conflito no Iémen de violarem as leis da guerra e de atacarem áreas densamente povoadas por civis com morteiros e mísseis. 

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