Biden acusa Trump de “comportamento errático” e recomenda que não tenha acesso a informação secreta

Presidente dos Estados Unidos teme que Donald Trump partilhe informação confidencial. A confirmar-se, será o primeiro ex-presidente norte-americano a deixar de receber relatórios com informação confidencial dos serviços secretos.

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Joe Biden denunciou o "comportamento errático" de Donald Trump Reuters/JOSHUA ROBERTS

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu que o seu antecessor na Casa Branca, Donald Trump, não deve receber mais relatórios dos serviços secretos norte-americanos, justificando a sua posição com o “comportamento errático” do antigo chefe de Estado.

Tradicionalmente, depois de um Presidente sair da Casa Branca, continua a receber relatórios com informação confidencial sobre questões sensíveis da política norte-americana. Actualmente, estes briefings dos serviços secretos são transmitidos aos ex-presidentes Barack Obama, George W. Bush, Bill Clinton e Jimmy Carter.

Se a tradição se mantivesse, Donald Trump juntar-se-ia à lista, no entanto, Joe Biden manifestou enormes reservas quanto a essa possibilidade, denunciando o “comportamento errático” de Trump em relação à “insurreição” no Capitólio, quando milhares de apoiantes do ex-presidente invadiram o Congresso, resultando em cenas de violência e vandalismo que terminaram com cinco mortos.

“Prefiro não especular em voz alta. Apenas acho que não há necessidade de [Trump] ter esses briefings. Que valor é que lhes dá? Que impacto têm nele?”, afirmou Biden, numa entrevista à CBS News, manifestando a sua preocupação com a possibilidade de o ex-presidente “escorregar” e revelar informação confidencial, como já aconteceu no passado.

A forma como Donald Trump lidou com informação confidencial foi uma preocupação constante durante o seu mandato, tendo um dos casos mais críticos ocorrido em Maio de 2017. Na altura, o The Washington Post noticiou que o então Presidente norte-americano partilhou informação “altamente secreta” sobre o Daesh com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, e com o embaixador de Moscovo em Washington, Serguei Kisliak.

Noutro caso, em 2019, Trump publicou na sua conta na rede social Twitter imagens aéreas de uma base iraniana onde houve uma explosão durante o lançamento de um satélite, uma fotografia que continha informação confidencial dos serviços secretos.

Além disso, conforme realçou a imprensa norte-americana ao longo dos últimos quatro anos, Trump era conhecido por não ler com atenção os relatórios com informação confidencial que chegavam à sua secretária.

A preocupação quanto ao risco de Trump continuar a receber informação confidencial foi levantada no passado mês de Janeiro, com Susan Gordon, que foi vice-directora dos serviços secretos norte-americanos até 2019, a escrever um artigo de opinião no Washington Post a alertar para vulnerabilidade do ex-presidente e para a sua relação com negócios no estrangeiro.

“O seu ‘perfil de segurança’, como os profissionais gostam de lhe chamar, é inquietante. Qualquer ex-presidente é, por definição, um alvo e apresenta alguns riscos. Mas um ex-presidente Trump, mesmo antes dos acontecimentos da semana passada [invasão do Capitólio] pode ser excepcionalmente vulnerável a agentes negativos com más intenções”, escreveu Susan Gordon.

Até Joe Biden assumir a presidência, limitar o acesso destas informações a um ex-presidente nunca tinha sido colocada. Mas, perante o historial de Donald Trump e as acusações contra o ex-presidente pela sua responsabilidade na invasão do Capitólio, pela primeira vez na história, um ex-chefe de Estado pode ser excluído dos tradicionais briefings dos serviços secretos.

“Não acho que haja qualquer necessidade de [Trump] continuar a receber os briefings de inteligência”, reiterou Biden na entrevista à CBS News. Até ao momento, a Casa Branca ainda não esclareceu se as afirmações do Presidente são oficiais ou se representam apenas a sua opinião.

Na próxima terça-feira, Donald Trump, o primeiro Presidente da história dos EUA a ser por duas vezes alvo de um processo de destituição (impeachment), começa a ser julgado no Senado pela acusação de “incitamento à insurreição”. Para Trump ser condenado, são necessários os votos favoráveis de dois terços dos senadores, pelo que os 50 senadores democratas precisam de convencer pelo menos 17 republicanos a votarem ao seu lado.

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