Um conto feliz da tradição judaica

José ganhou uma manta assim que nasceu. Feita à mão pelo avô, que era alfaiate, a coberta vai acompanhá-lo por muito tempo.

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Raquel Catalina
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Capa do livro “A Manta do José”, editado pela Bruaá Raquel Catalina

O autor português da adaptação de A Manta do José, Miguel Gouveia, encontrou uma versão deste texto há cerca de dez anos, no livro Joseph Had a Little Overcoat, de Simms Taback. “Esse texto usa uma estrutura semelhante, mas começa com um sobretudo, em vez da manta, e o Joseph é um adulto”, conta ao PÚBLICO, via email. E acrescenta: “Esta é uma das muitas versões que existem. Se não estou em erro, também existe uma canção por aí.”

Nesta, um alfaiate faz uma bonita manta à mão para o berço do seu primeiro neto, José. Como a manta não cresce com ele, à medida que o calendário avança, o avô arranja sempre novas soluções para que o tecido não se perca. Nem a ligação e afecto entre ele e o neto.

Um casaco, primeiro (“sabes, José, acho que ainda temos aqui material suficiente para te fazer um casaco”); um colete, depois (“sabes, José, acho que ainda temos aqui material suficiente para te fazer um colete”), um lenço, mais adiante (“sabes, José, acho que ainda temos aqui material suficiente para te fazer um lenço”); um botão forrado, por último (“sabes, José, por incrível que pareça, acho que ainda temos aqui material suficiente para te forrar um botão”). Por último ou talvez não…

O calendário também avançou para Miguel Gouveia: “Entretanto, o tempo passou e foi quando comecei a pesquisar repertório para sessões de narração oral, prática na qual tenho estado cada vez mais envolvido, que me deparei com esta história uma vez mais em algumas antologias”, recorda. “A partir daí, comecei a construir e a contar uma versão, que ao longo do tempo foi evoluindo e acabou por se plasmar na versão que sai no livro”, conclui o ex-professor, com mestrado em Livros e Literatura Infanto-Juvenil, pela Universidade Autónoma de Barcelona.

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Igualmente editor da Bruaá, coube-lhe escolher quem ilustraria as suas palavras: “Foi mero acaso. Tínhamos descoberto o trabalho dela [Raquel Catalina] mais ou menos quando achei que o texto estava ‘fechado’ e achámos que seria a ilustradora mais indicada. Ficámos muito contentes com o resultado final.” Quando fala no plural, refere-se à designer Cláudia Lopes, sua “cara-metade”, com quem fundou a editora em 2008.

Diz ainda: “Temos recebido um retorno muito positivo e a prova disso é que o livro chegou já à 2.ª edição e foi traduzido para polaco, coreano e inglês.”

O prazer de ilustrar textos bons

A ilustradora, Raquel Catalina, também aceitou contar-nos como foi ilustrar esta história feliz da tradição judaica: “Desde logo, o tema do conto pareceu-me tão intrínseco ao ser humano, tão universal, que não quis ser muito concreta quanto a uma época ou lugar em que este se passa. A pouca informação dada a esse respeito é deliberada.”

Disse ainda: “Por outro lado, só existem três personagens: o José, o avô e a mãe. Eu reduzi-as a duas, o José e o avô, para me focar na sua relação. Então, acabei por ter muito poucos elementos num conto que joga com a repetição. Essa foi sem dúvida a maior dificuldade que encontrei.”

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Quisemos saber se tinha gostado deste trabalho: “Gostei muito de ilustrar esta história por duas razões: uma é a adaptação maravilhosa do Miguel Gouveia. O passar do tempo, o envelhecer, a perda… é impossível não nos sentirmos tocados pelo tema, que está contado de uma forma muito bonita. A outra é que a Bruaá é uma editora que trabalha os seus livros com muito carinho e tem um catálogo cheio de verdadeiras pérolas. Senti-me muito honrada por quererem trabalhar comigo.”

A ilustradora, madrilena a viver em Valência (onde fez mestrado em Ilustração), diz que lê e relê os textos antes de desenhar. “Então, em algum momento do processo, deixo-os em ‘quarentena’, para depois a eles regressar.” E afirma: “Trabalhar com textos bons é um prazer.”

Nas primeiras leituras, explica, vai “delineando algumas imagens que o texto sugere, guiada sobretudo pela intuição”. Vai também sublinhando palavras que se lhe afiguram evocativas. “Depressa decido sobre o que incluir no meu storyboard”, conta. Para concluir: “O livro é, na sua essência, uma sequência de imagens e texto e tem de funcionar como um todo.”

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Já quanto à técnica, revela: “Neste livro, usei guache, lápis, lápis de cor, colagens e Photoshop. Tenho tendência para misturar materiais.” O processo de escolha das cores foi assim: “Fiz bastantes provas e custou-me muito a decidir. A verdade é que o resultado tem muito que ver com a minha paleta pessoal.” Funcionou bem.

Para descobrir a última ideia do avô do José no perpetuar da manta, já que o botão forrado desapareceu, terá de ler o livro. Vai gostar.

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