Pequim não quer ouvir falar de política nas escolas de Hong Kong

O novo programa curricular para as escolas da região administrativa especial foi feito com base na nova lei de segurança nacional e impede os professores e os alunos de discutirem questões políticas. E as crianças da escola primária vão aprender desde os seis anos o que é a “subversão”.

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Estudantes dosecundário participam num protesto sentado em 2019, algo que deixaram de poder fazer com a nova lei da segurança nacional JEROME FAVRE/EPA

É de pequenino que se torce o destino e o novo programa curricular para as escolas de Hong Kong visa reeducar o povo de uma região administrativa especial que ousou ter veleidades democráticas e questionar o papel central do Partido Comunista Chinês no futuro da China e da cidade rebelde.

A partir de agora é proibido falar de política na escola e a ideia de exercer o direito de opinião é limitado à opinião única do partido. O novo plano distribuído pelo Ministério da Educação às escolas expurga dos currículos todas as matérias que possam pôr em causa a nova lei da segurança do Estado, aprovada o ano passado, e põe as crianças na escola primária desde os seis anos a aprender o que é “subversão”.

Os professores, a quem o regime chinês acusa de serem os fomentadores dos protestos pró-democracia que paralisaram o território e que puseram em causa o governo regional de Carrie Lam, são obrigados a abster-se de fomentar o livre exercício da opinião e a ensinar o que são ideias subversivas.

O novo currículo, divulgado na quinta-feira pelos responsáveis da Educação na região, é para ser aplicado a todas as escolas e a todos os alunos, incluindo os estrangeiros e as escolas internacionais.

Aos professores espera-se que garantam que todos os estudantes “adquirem o entendimento correcto e objectivo” dos princípios salvaguardados pela lei de segurança nacional.

“No que diz respeito à prevenção e educação, todas escolas (incluindo as escolas primárias, as escolas secundárias e os infantários) têm um papel significativo a desempenhar”, afirmou o Departamento de Educação de Hong Kong em comunicado.

Ting Fong-Chak, vice-presidente do Sindicato de Professores de Hong Kong, disse ao Financial Times que as directivas dadas aos professores são “extremamente meticulosas” e incluem a inspecções dos quadros de avisos nas salas de aula e a retirada das bibliotecas de todos os livros que possam “pôr em perigo a segurança nacional”.

“Estas medidas vão destruir o relacionamento professor estudante”, garantiu Tin Fong-Chak.

Pequim já tinha tentado introduzir, sem sucesso, este tipo de “educação patriótica” em 2012, mas agora está empenhada em garantir que o mesmo é aplicado estritamente em todas as escolas do território.

“Em termos de segurança nacional, não há espaço para debate ou compromisso”, afirma a mesma circular do Departamento de Educação.

De acordo com a CNN, os novos materiais escolares distribuídos aos professores incluem vídeos e livros ilustrados com soldados e polícias a ajudar estudantes a perceber as suas “responsabilidades” face à nova lei de segurança.

A ideia de disciplina e obediência deve ser ensinada ao longo de todas as matérias, que devem respeitar as directivas emanadas do Departamento de Educação. E não só os alunos devem aprender, como também os professores, os auxiliares educativos e todos os funcionários das escolas.

“Se for descoberto que um funcionário cometeu um acto de desrespeito ao país, a escola deve dar o apropriado conselho ou aviso e prestar atenção ao desempenho futuro do empregado tendo isso em conta”, especifica o programa distribuído às escolas.

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