Presença da variante do Reino Unido é estimada em cerca de 60% em Lisboa

Estima-se que a prevalência em todo o país seja à volta de 40%.

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O novo coronavírus SARS-CoV-2 (a rosa) Svenja Ulferts/Universidade de Freiburg/Spencer Phillips/EMBL-EBI

Qual é a prevalência da variante do Reino Unido (a linhagem B.1.1.7) em Portugal? Estima-se que esta variante já represente à volta de 40% dos casos em todo o país e cerca de 60% em Lisboa, segundo os dados desta semana a nível global até esta sexta-feira​.  

A prevalência desta variante no país tem a contribuição de uma ferramenta em tempo real, que foi desenvolvida numa colaboração entre o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) e ao Unilabs – Portugal (um laboratório de análises clínicas). Para se saber a prevalência, faz-se o cálculo entre amostras do vírus associadas à variante dentro de um conjunto de amostras positivas do SARS-CoV-2 recolhidas pelo Unilabs. Depois, extrapola-se esse valor para todos os casos positivos do país.

Na semana passada (a 29 de Janeiro), numa audição conjunta com outros especialistas na Comissão Eventual para o Acompanhamento da Aplicação das Medidas de Resposta à Pandemia e do Processo de Recuperação Económica e Social, no Parlamento, João Paulo Gomes (investigador no Insa) afirmou que a variante estava em “crescimento exponencial” em Portugal”, citado pela agência Lusa. Na altura, estimava-se que entre 35% e 40% dos casos totais de covid-19 em Portugal já fossem causados pela variante. A B.1.1.7 é entre 40 a 70% mais transmissível do que outras variantes em circulação e já foi detectada em mais de 70 países.

De acordo com os dados desta semana a nível global, estima-se que a prevalência já seja de 42% do total nacional, segundo disse esta sexta-feira ao PÚBLICO uma fonte ligada ao processo. Particularizando os valores por distrito (onde o número de amostras é maior), em Braga a prevalência é de 19%, no Porto de 28%, em Coimbra de 48%, em Lisboa de 58,4% e em Setúbal de 52%. Noutros distritos do país em que o número de amostras é pequeno – segundo a mesma fonte –, deve-se assim olhar para o total nacional, os tais 42%, e não apenas para as percentagens dos distritos com poucas amostras. 

O desenvolvimento da ferramenta que leva à determinação da prevalência foi possível porque, através da sequenciação genómica, há uma correlação forte entre uma falha na detecção de um gene do coronavírus e a presença da variante. Como se viu? Muitos laboratórios usam um teste de diagnóstico que detecta o vírus simultaneamente através de três porções do SARS-CoV-2 e uma delas é o gene S. Acabou por verificar-se que havia uma grande percentagem de amostras cujos testes falhavam esse gene, sendo uma indicação da existência da variante – o que levou ao desenvolvimento da ferramenta.

Num artigo publicado no site Virological, em que se usou essa ferramenta, determinou-se a prevalência da variante em dados analisados até 20 de Janeiro. Com esses dados e com a dinâmica de infecção de então, viu-se que havia um aumento da frequência relativa da variante a uma taxa de 70% por semana. Assim, previu-se que na primeira semana de Fevereiro (esta semana em que estamos) a variante poderia representar cerca de 60% dos casos de covid-19 em Portugal.

Já na semana passada, João Paulo Gomes indicava na Comissão Eventual que se calculava que a taxa de crescimento semanal atingisse os 90%. “Estimamos também que dentro de três semanas cerca de 65% de todos os casos de covid-19 em Portugal sejam causados pela variante do Reino Unido”, afirmou.

Mas, se se previa que esta semana a variante já representasse 60% dos casos no país e se estima que o valor seja menor – cerca de 40% , será que houve um abrandamento da expansão da variante no país? Se tal se comprovar, deveu-se isso já às medidas de confinamento? 

Elisabete Ramos (professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) diz que não conhece a metodologia usada para se chegar a estes números e que não sabe qual o motivo da diferença. No fundo, diz que podem existir diferentes hipóteses: a situação estar a melhorar e poder haver uma evolução mais lenta da variante; o modelo inicial poder ter sido mais impreciso; ou a fonte das amostras poder ter variado nos diferentes sítios, enumera a também presidente da Associação Portuguesa de Epidemiologia.

Paulo Santos, investigador do Cintesis (Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde), faz questão de realçar que estamos a falar de estimativas: “Temos de ter cuidado nos modelos preditivos, porque nunca têm em conta todas as variáveis.” Já Carla Nunes sublinha que o peso da variante pode ter diminuído de forma proporcional, ou seja, perdeu importância na transmissão, embora haja mais casos. “As novas variantes [com características mais preocupantes] trazem sempre novos desafios sobre as medidas”, refere a directora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, acrescentando que aquilo que se pensa é que as medidas, entre elas o confinamento, já usadas para outras variantes do vírus sejam eficazes também na B.1.1.7.

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