Grupo ecológico contesta projecto de unificação do Parque da Pasteleira

O Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro (NDMALO) acusa a Câmara do Porto de “invadir” o espaço classificado como Zona Verde com um “projecto de atravessamento rodoviário injustificado”. Autora da obra original não foi consultada.

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Andre Rodrigues

O Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro – Grupo Ecológico  (NMDALO-GE) endereçou uma carta à Câmara Municipal do Porto no início da semana a expressar o seu “veemente protesto e discordância” relativos aos estudos preliminares que estão a ser conduzidos no âmbito do projecto de unificação do Parque da Pasteleira. A proposta prevê a eliminação da Rua Afonso de Paiva, arruamento que divide o parque em duas metades com três pontões, e o prolongamento da Alameda do Fluvial até à Rua de Bartolomeu Velho, intervenção que permitirá formar um “eixo de penetração desde a marginal fluvial até às imediações da Casa de Serralves”, como afirmou Pedro Baganha, vereador com os pelouros do Urbanismo, Espaço Público e Património, em reunião camarária privada de 25 de Janeiro onde apresentou o projecto.

Para o NMDALO-GE, associação que desde a sua fundação, em 1978, tem tido na defesa e preservação da Mata da Pasteleira, agora conhecida por Parque Urbano da Pasteleira, uma das suas grandes lutas, estão decisão é uma forma de “invadir” este espaço verde com “um projecto de atravessamento rodoviário injustificado e que levará a mais abates das já poucas árvores (pinheiros) existentes naquela zona do Parque”, lê-se na carta a que o PÚBLICO teve acesso. Belmiro Cunha, presidente da direcção, considera que a ligação das áreas norte e sul do parque é uma “boa medida”, que foi inclusive defendida pelo grupo no início do projecto da arquitecta Marisa Lavrador. “Na altura, pôs-se a escolha entre um viaduto [sugerido pela autora] ou os pontões, que foi a opção escolhida pela Câmara por ser mais barata”.

"Um projecto rodoviário"

No entender da associação, a unificação do Parque Urbano da Pasteleira deve avançar, mas sem “que sejam feitas novas vias rodoviárias”, afirma Belmiro Cunha, para quem “a obra em causa é completamente desnecessária”. A intervenção em causa, refere, poderá vir a ser mais uma de “sucessivas ocupações autorizadas” que foram acontecendo ao longo dos anos na zona do parque classificada como Área Verde no Plano Director Municipal (PDM), retirando-lhe cada vez mais arvoredo e vegetação. Face às pretensões da Câmara do Porto em implementar “um verdadeiro corredor ecológico” naquele local, o presidente do NMDALO-GE refere que “o corredor verde já está lá”. “Se se abrir o arruamento, a acção [da autarquia] vai no sentido inverso, porque vai desaparecer o verde onde passarem estas estradas”. O que já está previsto acontecer, também, “nas duas zonas arborizadas onde vão ser construídos novos edifícios para habitação acessível”.

Marisa Lavrador, autora do projecto original, afirma ao PÚBLICO que “soube [deste projecto] pelos jornais”. A arquitecta paisagista, que já defendia a unificação do parque aquando dos estudos prévios para o espaço, em 1993, acredita que a empreitada referida “não deveria ser designada pela unificação do parque, uma vez que é consequência de um projecto rodoviário e não o seu objectivo principal”. A questão ambiental, acredita, veio no seguimento do concurso público lançado para o novo projecto habitacional de arrendamento acessível no bairro, motor de uma reformulação urbana global no território envolvente. “Parece-me que o foco do projecto são os fogos habitacionais, depois vem a componente rodoviária e, então, a unificação do parque”, atira.

A arquitecta paisagista partilha da preocupação ambiental manifestada pelo NDMALO-GE, sobretudo devido à “escala da estrutura rodoviária que se está a pôr a nascente do parque”, que vai retirar ao parque uma “faixa de árvores com interesse do ponto de vista da flora, como sobreiros, carvalhos, pinheiros-bravos ou pinheiros-mansos”. “Não vejo necessidade de uma estrutura rodoviária com tanto impacto”, observa. “Até porque há duas vias paralelas para permitir a existência de um corredor verde no meio”.

Para Marisa Lavrador, “aquilo que existe consubstanciado no parque é mais parecido a um corredor ecológico”. À semelhança do que aconteceu com o Jardim de Sophia, na Praça da Galiza, de que também é autora, e que será desmantelado na sequência da construção da Linha Rosa da Metro do Porto, a arquitecta não foi chamada a intervir nesta reconfiguração paisagística. “Parece-me que a Câmara do Porto, como acontece noutros municípios, não tem em consideração o trabalho dos autores originais”, lamenta. Contactada pelo PÚBLICO, a autarquia escusou-se a fazer qualquer comentário sobre este assunto. 

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