Aos 22 anos, Joe pode ser o primeiro caso de um transplante de rosto e mãos bem sucedido

Um acidente de carro deixou o jovem quase sem dedos e com o rosto desfigurado. Uma operação simultânea reconstruiu-lhe as partes do corpo que ficaram irreconhecíveis.

Foto
O antes e depois das mãos e rosto de Joe DiMeo Reuters/NYU Langone Health

Aos 22 anos, Joe DiMeo está a redescobrir uma série de sensações nas mãos e rosto: já consegue sentir calor, ou frio, ou o toque de outra pessoa. Mas o jovem ainda se está a habituar a tudo isto. Tanto o rosto como as mãos são “novos”, tem-nos há menos de seis meses. São o produto de uma cirurgia revolucionária realizada depois de um acidente que deixou Joe quase sem dedos e com a cara severamente desfigurada.

“É mesmo surpreendente quando algo novo me toca ou eu toco em algo novo e posso senti-lo pela primeira vez”, disse o jovem numa entrevista.

O desejo de voltar para casa dos pais, em Nova Jérsia, nos Estados Unidos, dá-lhe motivação para enfrentar as longas horas de reabilitação diárias, mas o objectivo final é outro. “Conduzir é o que mais quero neste momento”, disse.

Foi a conduzir que o pesadelo começou. Estava a voltar para casa de um turno nocturno numa empresa de produtos farmacêuticos quando adormeceu ao volante. Perdeu o controlo do carro, que capotou e explodiu, deixando Joe com queimaduras de terceiro grau em 80% do corpo.

Seguiram-se quatro meses — parte destes em coma induzido — na unidade de queimados do Centro Médico Saint Barnabas, em Livingston, Nova Jérsia. Teve de ser submetido a mais de 20 cirurgias reconstrutivas que o deixaram com um uso limitado das mãos e rosto.

Chegou ao departamento de cirurgia plástica do Centro Médico NYU Langone, onde já se tinham realizado três transplantes de rosto com sucesso, meses depois do acidente. Em Agosto de 2020, foi finalmente operado por uma equipa de mais de 140 cirurgiões, enfermeiros e auxiliares num procedimento de 23 horas que lhe deu um novo rosto e um novo par de mãos.

“Queríamos fazer não só uma operação que o deixasse com uma aparência melhor, mas também que funcionasse correctamente, especialmente as mãos”, disse Eduardo Rodriguez, cirurgião que coordenou operação. 

A recuperação de Joe ainda demorará muitos meses: terá de continuar a fazer até cinco horas de reabilitação por dia e vai precisar de medicação ao longo da vida para impedir que o corpo rejeite os transplantes. Mas Rodriguez diz que o paciente está a sair-se muito bem e que é um dos “mais motivados” que já conheceu.

Joe diz que agora é capaz de fazer coisas banais, como preparar o pequeno-almoço ou fazer treinos físicos sozinho. “Já me consigo ver. Este já sou eu”, disse.

De acordo com a Rede Unida de Partilha de Órgãos, que supervisiona o sistema de transplantes dos Estados Unidos, foram feitos 18 transplantes faciais nos Estados Unidos e 35 de mãos. Contudo, transplantes simultâneos de rosto e mãos são extremamente raros e só ocorreram duas vezes no mundo antes de Joe DiMeo.

A primeira tentativa desta operação ocorreu em 2009, em Paris (França), mas o paciente acabou por morrer pouco mais de um mês depois por complicações relacionadas com a intervenção. Dois anos depois, uma equipa médica de Boston tentou repetir o procedimento numa mulher que tinha sido atacada por um chimpanzé, mas o transplante de mãos acabou por ser removido poucos dias depois.

Sugerir correcção
Comentar