Diane von Furstenberg: “A moda é decidida pela rua, pelas necessidades, pelas pessoas”

A designer nascida na Bélgica, muitas vezes referida simplesmente pelas suas iniciais, presidiu o Conselho de Designers de Moda da América de 2006 a 2019. Aos 74 anos publicou um novo livro com conselhos de A a Z.

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“Carácter é a única coisa sobre a qual temos controlo total" Reuters/Andrew Kelly

Quando a pandemia começou, Diane von Furstenberg estava a trabalhar no seu novo livro Own It: The Secret to Life. De repente, as palavras de sabedoria e os conselhos da designer pareciam mais urgentes do que nunca. “É um momento muito difícil, mas é por isso que, já que não temos escolha, temos de procurar controlá-lo”, resume von Furstenberg, 74 anos, que fundou sua marca epónima, com sede em Nova Iorque em 1972. “Quer se goste ou não, temos apenas de aceitar e fazer o melhor que pudermos com isto.”

No seu livro, von Furstenberg convida os leitores a fazer uma caminhada de A a Z, por conselhos que vai dando. “Vamos pegar no ‘C’, as palavras são carácter, clareza, compaixão, cerimónia, criatividade, coerência, coragem, compromisso, confiança”, exemplifica. “Carácter é a única coisa sobre a qual temos controlo total — podemos perder a nossa saúde, riqueza, beleza, família ou liberdade, mas nunca perdemos o carácter. O nosso carácter é a nossa força, a casa dentro de nós.”

A designer nascida na Bélgica, muitas vezes referida simplesmente pelas suas iniciais (DVF), presidiu o Conselho de Designers de Moda da América de 2006 a 2019; chegou ao National Women"s Hall of Fame, a organização que reconhece mulheres que se destacam nas suas áreas e que mudaram o curso da história, em 2019. Em entrevista à Reuters fala sobre os seus segredos para o sucesso, bem como será a moda do futuro. 

O que aprendeu com esta pandemia?
A pandemia fez-me perceber melhor quem sou eu mesma e compreender que tenho de estar no comando e ser quem sou. No que diz respeito ao negócio, fui muito rápida a reagir. Percebi que o nosso negócio, o negócio da moda, assim como o sistema e modo de estar na moda estava muito desactualizado. Já o vinha a fizer há muito, que a moda não estava a acompanhar o ritmo do resto do mundo dos negócios. Mudei isso, fiquei mais digital do que nunca. Tivemos de entrar no mundo virtual e acelerar rapidamente.

No seu livro, fala sobre a importância de transformar vulnerabilidades em pontos fortes. Tem algum conselho sobre como aplicar essa estratégia na pandemia?
No minuto em que reconhecer as suas vulnerabilidades e imperfeições, elas devem tornar-se num activo. Isso aplica-se a tudo e a todos, até mesmo às crianças. É uma questão de estar ciente e dizer saber que tenho de tirar o melhor proveito de tudo o que está a acontecer. É uma questão de saber que a única coisa sobre a qual temos controlo é sobre nós mesmos.

O que aprendeu com o seu primeiro trabalho?
Trabalhei para um agente de fotógrafos e aprendi o lado do negócio da moda focado nas imagens — fotógrafos, modelos, revistas. No começo eu não sabia nada, mas depois aprendi tudo. Foi assim que descobri o mundo da moda.

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Reuters

Quando a pandemia acabar, como serão as roupas de trabalho?
Esse é o mistério da moda! As pessoas pensam que a moda é decidida pelos designers, mas a moda é decidida pela rua, pelas necessidades, pelas pessoas. Estamos neste momento a projectar e acho que as pessoas vão preocupar-se mais com a qualidade. No nosso caso, foi muito útil voltar ao âmago do que é DVF — usar o nosso banco de cores, a nossa biblioteca de imagens, silhuetas que parecem fáceis mas que têm todos os detalhes de uma costura à moda antiga, roupas que trazem confiança a quem as enverga.

No que diz respeito ao trabalho, que conselho costuma dar?
Se quiser que o seu chefe repare em sim, seja o primeiro a chegar e o último a sair. Isso mostra compromisso.

Tem um novo hábito de trabalho em 2020?
Estou no campo, então faço uma caminhada muito, muito longa diariamente. Caminhar inspira-me. Foi um ano em que tivemos a oportunidade de pensar. Tive uma vida óptima, plena e colorida. Então, como posso usar a minha voz, a minha experiência e o meu conhecimento para ajudar outras mulheres a terem uma vida plena e maravilhosa?

Para onde quer ir quando o mundo se abrir novamente?
Tenho viajado muito e continuarei a fazê-lo, mas o que mais aprendi este ano é o quanto amo estar em casa.

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