Há cerca de 4000 variantes do SARS-CoV-2 no mundo, refere ministro britânico

Em entrevista, o ministro britânico Nadhim Zahawi sublinhou que o Reino Unido tem a maior indústria de sequenciação de genomas do mundo e que está a ficar com uma “biblioteca” de todas as variantes para se poder responder a qualquer desafio que o vírus possa lançar.

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Representação de partículas do coronavírus SARS-CoV-2 NIAID

Há cerca de 4000 variantes do coronavírus SARS-CoV-2, disse esta quinta-feira Nadhim Zahawi, ministro britânico responsável pela distribuição das vacinas, em entrevista ao canal de televisão britânico Sky News. Ao longo da mesma entrevista, o responsável britânico referiu ainda que é “muito improvável” que as actuais vacinas não funcionem contra as novas variantes do vírus.

“Temos [no Reino Unido] a maior indústria de sequenciação de genomas – temos cerca de 50% da indústria de sequenciação genética – e estamos a ficar com uma biblioteca de todas as variantes para que estejamos prontos para responder, seja no Outono ou depois, a qualquer desafio que o vírus possa apresentar”, afirmou Nadhim Zahawi.

Em meados de Dezembro, o Reino Unido lançou um alerta para o mundo de havia uma nova variante (a B.1.1.7) mais transmissível do SARS-CoV-2 do que outras em circulação. Essa variante tem cerca de 20 mutações, incluindo oito na proteína da espícula, que é responsável pela entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas. Já se sabia que a mutação N501Y, que aumentará a força da ligação entre a proteína da espícula e o receptor das células estava presente na variante.

Esta semana, ficámos a saber também que foi detectada na B.1.1.7 a mutação E484K, que dizem estar associada a uma menor interacção com os anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2. “Um número limitado de genomas da variante B.1.1.7 com a mutação E484K foram detectados”, revelou um relatório técnico da Public Health England (agência de saúde pública britânica), citado pela agência Reuters. Até agora, estão identificados só alguns casos da variante a mutação: 11 em 215.159 amostras testadas, referiu a BBC.

Na entrevista, Nadhim Zahawi não se mostrou preocupado com o impacto da variante nas vacinas. “É muito improvável que a actual vacina não seja eficaz nas variantes seja na de Kent [onde começou por ser detectada em Setembro] ou noutras variantes, sobretudo quando se trata de doença grave ou de hospitalizações”, adiantou. “Todos os fabricantes, a Pfizer-BioNTech, a Moderna, a Oxford-AstraZeneca ou outros, estão à procura de formas de conseguir melhorar as suas vacinas para se ter a certeza de que estão prontas para qualquer variante – há cerca de 4000 variantes no mundo agora”.

Pode haver milhares de variantes do SARS-CoV-2 – faz parte do processo de evolução do vírus –, mas apenas algumas o alterarão suficientemente para que possa influenciar a sua função ou patogenicidade. Além da B.1.1.7, há sobretudo duas outras que têm preocupado: uma detectada na África do Sul (a B.1.351) e uma outra identificada no Brasil (a P.1). Ambas têm as mutações N501Y e E484K. Até agora, já foram identificadas em Portugal as variantes detectadas no Reino Unido e na África do Sul.

As novas linhagens na África do Sul

A propósito da variante (ou linhagem) da África do Sul, foi publicado esta semana um artigo científico na revista Nature Medicine sobre uma análise a 1365 genomas quase completos do SARS-CoV-2 da África do Sul correspondentes a um período de Março a Agosto de 2020. Nesse artigo revela-se que foram encontradas 16 novas linhagens do vírus durante esse período.

“Na maioria dessas linhagens havia mutações únicas e que não tinham sido identificadas noutros lugares”, lê-se num resumo do trabalho. A equipa coordenada por Tulio de Oliveira (director da Plataforma de Investigação em Sequenciação e Inovação da Universidade do KwaZulu-Natal) verificou que três dessas linhagens (a B.1.1.54, a B.1.1.56 e a C.1) expandiram-se amplamente na África do Sul durante a primeira vaga. Essas variantes correspondem a 42% das infecções no país nessa altura. No final de Agosto, a C.1 era a que estava mais espalhada pelo território da África do Sul.

Esta equipa – que identificou depois a nova variante da África do Sul – concluiu que este tipo de vigilância genómica pode ser usado em larga escala em África para identificar novas linhagens do SARS-CoV-2 e servir de base para controlar a disseminação do vírus. “Esta vigilância genómica foi crucial na identificação da variante 501Y.V2 [também conhecida como B.1.351) na África do Sul em Dezembro de 2020”, refere-se no resumo do trabalho.

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