CDS-PP e PSD propõem que Forças Armadas coordenem plano de vacinação

Depois da demissão de Francisco Ramos, o PSD e CDS defendem que a coordenação do plano de vacinação deverá ser feita pelas Forças Armadas.

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Francisco Ramos apresentou o seu pedido de demissão na terça-feira Rui Gaudencio

O CDS-PP e o PSD defenderam esta quarta-feira que deverão ser as Forças Armadas a liderar a taskforce para o Plano de Vacinação contra a covid-19 depois de o coordenador designado, Francisco Ramos, ter apresentado a sua demissãona sequência de “irregularidades detectadas pelo próprio no processo de selecção de profissionais de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, do qual é presidente da comissão executiva”.

De acordo com o Ministério da Saúde, o funcionamento da taskforce "mantém-se assegurado pelos restantes membros do núcleo de coordenação”, composto por elementos do Ministério da Defesa Nacional, Ministério da Administração Interna, Direcção-Geral da Saúde e Autoridade Nacional do Medicamento.

Francisco Ramos diz as regras não foram seguidas

Francisco Ramos (ex-secretário de Estado em governos do PS e apoiante da candidatura presidencial de Marisa Matias) justificou a sua saída alegando que “as regras estipuladas no plano de vacinação não terão sido observadas e que, nesse contexto, apresentou a demissão”, uma vez que tal aconteceu “no próprio hospital onde é responsável”, disse ao PÚBLICO Francisco George, ex-director geral da Saúde e presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.

Numa declaração aos jornalistas na Assembleia da República, em Lisboa, a deputada centrista Ana Rita Bessa manifestou “estranheza dos motivos alegados para a demissão” e considerou “um bocadinho sui generis, no meio de tudo aquilo que se passa com o plano de vacinação, que a razão se prenda com uma outra função que Francisco Ramos exerce na Cruz Vermelha”.

Também o líder do PSD, Rui Rio, considera que “as coisas não estão a correr bem” e prefere olhar para a “oportunidade” criada com esta demissão. A partir do Parlamento, o líder social-democrata declarou que são necessárias “acima de tudo, de pessoas da área da logística que tenham capacidade de planear em grande escala”. Rui Rio criticou a velocidade de vacinação lembrando que a meta era ter 70% da população adulta vacinada no final de Junho. “Como já estamos atrasados, a média teria de ser aumentada para 70 a 90 mil doses diárias”, declarou o social-democrata, argumentando que “tem faltado planeamento, trabalho e capacidade de execução”.

Já a Iniciativa Liberal defendeu que Francisco Ramos “já sai tarde" e afirmou que a “incompetência e desfaçatez já deviam ter tido consequências”. “Francisco Ramos sai e já sai tarde. A incompetência e desfaçatez já deviam ter tido consequências. Não conseguir definir e controlar os critérios de vacinação no próprio Hospital a que preside é só mais uma evidência da sua desadequação ao cargo. Fica, aliás, por saber se tal fracasso não justifica, também, o seu afastamento do Hospital da Cruz Vermelha”, critica a Iniciativa Liberal numa posição oficial enviada à agência Lusa.

Para o partido representado no parlamento pelo deputado único, João Cotrim Figueiredo, “o importante é que o próximo coordenador da task force seja escolhido pela competência e não pelos serviços prestados ao PS ou pela tendência para se meter na vida política activa”. “O importante é que seja uma pessoa com capacidade técnica na saúde e de gestão logística, ambas fundamentais para o sucesso de um plano de vacinação”, aponta.

Na perspectiva dos liberais, “é inaceitável que o planeamento de distribuição das vacinas não inclua uma metodologia de gestão das sobras”, assegurando assim que não se desperdiçam doses não utilizadas e que “não há aproveitamentos oportunistas ligados a lógicas de proximidade profissional, pessoal, familiar ou partidária”.

CDS: “Não somos ingénuos"

“Vamos assumir que sim, que foi essa a razão que o levou a esta demissão, mas não somos ingénuos”, comentou Ana Rita Bessa, questionando se “não faria mais sentido demitir-se desse cargo na Cruz Vermelha também, ou para começar”. A deputada do CDS-PP destacou também que se exige da parte do Governo saber “é quem é que assume este barco agora”, e defendeu que essa resposta pode passar pelas Forças Armadas.

“Tendo em conta que na taskforce existem já elementos, por exemplo das Forças Armadas, capazes, capacitados de gerir operações desta natureza, operações logísticas de precisão e de processos com esta natureza, pois parece-me bem que, em vez de andarmos aqui a criar grupos de trabalho para inventar agora quem é que vai tomar conta deste assunto, que o entreguemos a quem sabe”, afirmou.

A democrata-cristã defendeu que, em vez de se iniciar “um novo processo de selecção de nomes”, a solução pode passar por “aproveitar o trabalho que essas pessoas já desenvolveram, aproveitar os expertise [a perícia] que têm no seu treino e na sua função regular e pôr em marcha e entregar-lhe confiadamente esta responsabilidade”.

Na declaração aos jornalistas, a deputada do CDS-PP identificou ainda que “um desacerto muito grande” entre Francisco Ramos e o Governo, por exemplo quanto a definição dos critérios de vacinação.

Também no que toca aos “alegados incumprimentos e alterações de critérios de prioridade na vacinação”, prosseguiu Ana Rita Bessa, o coordenador da taskforce para o plano de desvalorizou e fez “alguns comentários muito pouco apropriados de nível partidário para quem estava a assumir esta função de importância nacional”, tendo o primeiro-ministro, dias depois dito “com certeza que vão ser punidos estes comportamentos caso se verifiquem que são errados”.

Ana Rita Bessa sublinhou também que “hoje foi o dia em que o senhor primeiro-ministro anunciou” um “salto na vacinação”, e “não deixa de ser sui generis que nesse mesmo dia se demita a pessoa que coordena esta operação”.

A demissão ocorre numa altura em que são públicas diversas situações de vacinação indevida de várias pessoas em várias regiões do país e no dia em que arranca a vacinação em centros de saúde de idosos com 80 ou mais anos e de pessoas com mais de 50 anos com doenças associadas, numa fase que abrange cerca de 900 mil portugueses.

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