Austrália acredita que Google pode ser substituído

Em Janeiro, a Google ameaçou sair da Austrália para evitar pagar pelos excertos das notícias que partilha. O primeiro-ministro australiano vê o motor de busca da Microsoft como um possível substituto da Google.

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A Austrália não é o primeiro país a tentar pôr o Google a pagar por notícias Dado Ruivic/Reuters

Com a Google a ameaçar suspender o seu motor de busca da Austrália, a Microsoft mostra-se preparada para ocupar o seu lugar com o motor de busca Bing. Esta semana, o presidente executivo da Microsoft, Satya Nadella, e o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, falaram por videoconferência para debater a possibilidade.

“A Microsoft está bastante confiante”, assegurou Morrison em declarações ao Clube de Imprensa Nacional da Austrália, esta segunda-feira, 1 de Fevereiro.

Em causa está a ameaça da Google deixar o país se a Austrália avançar com legislação para obrigar gigantes tecnológicas a pagar pelo conteúdo noticioso que usam. Há meses que o governo australiano está a tentar definir legislação, sob forma de um código, para obrigar as grandes empresas tecnológicas a pagar às organizações de comunicação social pelos excertos das notícias que apresentam. Isto inclui, por exemplo, as primeiras frases de uma notícia que se podem ler do motor de busca da Google.

O objectivo é permitir às organizações noticiosas na Austrália negociarem um pagamento justo pelo trabalho dos jornalistas que aparece na Internet.

Na primeira fase do código, porém, apenas o motor de busca da Google e o feed de notícias do Facebook seriam afectados. Insatisfeita com a possibilidade, em Janeiro a Google ameaçou suspender o seu motor de busca na Austrália. E o Facebook disse que iria remover notícias do feed do governo australiano.

Esta segunda-feira, Morrison avisou que as ameaças não vão surtir efeito, notando que “um ambiente de comunicação social sustentável” é “vital para o funcionamento das democracias.”

No entanto, embora o Bing (da Microsoft) seja o segundo motor de busca mais utilizado na Austrália, tem uma quota de mercado de 3,6%, de acordo com dados do serviço de estatística Statcounter. O Duck Duck Go Go, outra alternativa à Google que não recolhe nem partilha dados dos utilizadores, não chega a 1%. A Google tem 95%. 

A Microsoft confirma as conversas com o governo australiano, mas recusa-se a comentar a controvérsia. “A Microsoft não está directamente envolvida e não quer comentar esse processo”, lê-se num comunicado enviado à comunicação social. "Nós [na Microsoft] reconhecemos a importância de um sector de comunicação vibrante.”

O PÚBLICO tentou contactar a Google para mais informações sobre o ponto da situação na Austrália, mas não obteve resposta até à hora de publicação desta notícia. 

Pai da Internet diz que é “má ideia”

Nas últimas semanas, Tim Berners-Lee, o cientista britânico que criou a World Wide Web em 1989 (e é conhecido como “o pai da Internet”), manifestou a sua preocupação com a proposta australiana.

Num comunicado endereçado ao senado australiano, Berners-Lee nota que o código pode “quebrar” princípios fundamentais da Internet aberta. “Preocupa-me que o código corra o risco de violar um princípio fundamental da web ao exigir o pagamento pelas ligações entre determinados conteúdos”, escreveu Berners-Lee. “A capacidade de ligação livre — ou seja, sem limitações relativamente ao conteúdo e sem taxas monetárias — é fundamental para o modo de funcionamento da web.”

Até agora, nenhum país teve muito sucesso a obrigar a Google a pagar pelas notícias que usa. França, Alemanha e Espanha são alguns dos países que tentaram. 

Em Espanha, a Google decidiu fechar o Google News, levando a uma quebra de tráfego para os sites noticiosos. Na Alemanha, os órgãos noticiosos acabaram por desistir, receosos de perderem utilizadores. Já em França, para evitar pagar, a Google optou por mostrar menos elementos de cada notícia no seu motor de busca.

Embora o novo código australiano comece por restringir apenas a Google e o Facebook, o objectivo é que outras plataformas digitais e serviços possam ser adicionados no futuro.

A proposta de lei australiana encontra-se actualmente a ser debatida em Parlamento.

Editado: A Google ameaçou suspender apenas o motor de busca na Austrália.

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