Covid-19: no final de Janeiro, havia duas crianças/jovens em cuidados intensivos no país

No último dia de Janeiro, e segundo dados da DGS, havia 15 crianças até aos 9 anos em enfermaria e uma em cuidados intensivos. Dos 10 aos 19 anos, eram 16 em enfermaria e uma em cuidados intensivos.

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Registaram-se três óbitos entre até aos 19 Miguel Manso/Arquivo

A 31 de Janeiro, havia, em todo o país, registo de dois internamentos em cuidados intensivos, dos 0 aos 19 anos, por SARS-CoV-2/covid-19. O total de internamentos naquela faixa etária era de 33.

Os dados enviados ao PÚBLICO pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), sobre os internamentos nos diferentes grupos etários, mostram que, naquele dia, havia, a nível nacional, 15 crianças dos 0 aos 9 anos em enfermarias e uma em cuidados intensivos; dos 10 aos 19 anos, havia 16 em enfermaria e uma em cuidados intensivos.

“Se há mais crianças infectadas, há, mas há na população em geral, houve um aumento global, porque aumentou a circulação do vírus. As idades que apanhavam menos apanham mais. Se é mais grave a doença, não. Se há mais número de doentes com critérios de gravidade, sim. Porque aumentou o número absoluto”, explica Gonçalo Cordeiro Ferreira, director da área de pediatria do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, do qual faz parte o Hospital de Dona Estefânia, insistindo que, “em termos absolutos, há mais casos”, não porque “a doença esteja mais grave entre as crianças”, mas “apenas porque o número absoluto aumentou”. Ainda assim, ressalva: “Isto é assim até agora.”

Recuando um pouco, a 30 de Novembro, e ainda segundo os dados da DGS, havia 12 internamentos no total daquela faixa etária no país e nenhum em cuidados intensivos: dos 0 aos 9, estavam internadas oito crianças em enfermaria e dos 10 aos 19 eram quatro. Ou seja, havia de facto menos crianças e jovens internados.

O médico pede “muita atenção quando se analisa o número de crianças internadas em “camas covid-19”, uma vez que algumas o foram por outras doenças, mas, como tiveram um resultado positivo num teste para detectar SARS-CoV-2, tiveram de ficar numa cama dedicada à doença e num quarto de isolamento. “Mas não têm doença covid-19”, nota.

Quais são, então, os números mais recentes no que respeita a internamentos, registados como sendo por SARS-CoV-2/covid-19, no Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa? Dados enviados pelo gabinete de comunicação ao PÚBLICO, a 1 de Fevereiro, referiam nove internamentos (quatro, dos 0 aos 9, e outros quatro, dos 10 aos 19, em enfermaria; e um em cuidados intensivos, entre os 10 e os 17). Nesta terça-feira de manhã, 2 de Fevereiro, havia 10 internamentos em enfermaria, mantendo-se um em cuidados intensivos: “Destes 11, sete têm quadro de doença covid-19 [incluindo o dos cuidados intensivos], e nos outros quatro as doenças que justificam internamento não têm nada a ver com covid-19, mas fizeram um teste e tiveram resultado positivo. Isso significa muito concretamente que haver muitos internados com SARS-CoV-2 não quer dizer que seja uma manifestação da doença covid-19, é mais uma relação de casualidade do que causalidade”, diz Gonçalo Cordeiro Ferreira.

Um internamento nos cuidados intensivos no Pediátrico dos CHUC

Também no Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) havia, a 2 de Fevereiro, duas crianças internadas em camas dedicadas à covid-19 que tiveram um resultado positivo em teste de detecção do SARS-CoV-2, mas nenhum dos casos tinha ainda desenvolvido a doença, estando assintomáticos. Um tem 12 anos e foi internado em enfermaria por outra doença; outro tem dois dias e foi internado, não pela gravidade da doença, mas por ter menos de sete dias, sendo que, nesses casos, a política do hospital é da que fique em cuidados intensivos neonatais.

Através do gabinete de comunicação, a directora do departamento pediátrico dos CHUC, Guiomar Oliveira, informou ainda o seguinte: “Tivemos um aumento de casos internados e de casos com maior gravidade, mas ainda sem necessidade de expansão para outros níveis no plano de contingência. Ou seja, na área pediátrica na região centro não tem havido necessidade de expansão do número de vagas para além das acauteladas no primeiro nível do plano de contingência, apesar de o Hospital Pediátrico do CHUC ser o único hospital de referência para covid-19 na região centro do país.”

Gonçalo Cordeiro Ferreira defende “uma postura calma e tranquila” na análise da situação, no que se refere aos mais novos: “Há mais infecção, sem dúvida, nos grupos etários mais pequenos e em todos. O vírus está mais prevalente a circular. Que há mais doentes que precisam de ser internados, há, porque, se há mais doentes, há mais também que precisam de ser internados. Se é por causa da nova variante, talvez, ainda é cedo para conclusões definitivas.”

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No Hospital de Dona Estefânia, “desde o início da pandemia, em Março, houve 245 internamentos” e “um óbito, uma criança com uma malformação cardíaca grave”, começa por dizer o médico.

No total do país, desde o início da pandemia, registaram-se, de acordo com dados da DGS, três óbitos entre os 0 e os 19 anos. Gonçalo Cordeiro Ferreira faz ainda outras contas: subtrai os 31 internamentos verificados em Janeiro ao total até à data e divide-o por 10 meses, o que significa que terá havido em média cerca de 21 internamentos por mês em 2020. “Há uma ligeira subida, há. Mas não diria que é tão alta quanto isso”, nota, insistindo que, apesar de os números terem subido, “a gravidade não se alterou substancialmente”.

Qual a gravidade no que respeita aos actuais internamentos na Estefânia? O “quadro grave é o dos cuidados intensivos”, os restantes podem ser considerados moderados a graves: “Há dois graus de gravidade, se estão internadas é porque precisam de estar no hospital, é doença moderada a grave. Mas, com critérios de muita gravidade, em risco de vida, são os que estão nos cuidados intensivos. Os outros não estão necessariamente a correr risco de vida, embora precisem de cuidados hospitalares”. Gonçalo Cordeiro Ferreira acrescenta ainda: “Se estão internados, precisam de cuidado hospitalar, por isso podemos considerar que são doenças graves, mas nem sempre por covid-19, podem ser outras doenças e que, por acaso, tinham teste positivo. Agora isso não pode permitir a extrapolação de que são todos internados por covid-19 grave.”

Este responsável explica que existe, no Hospital de Dona Estefânia, “além dos cuidados intensivos, uma enfermaria predominantemente dedicada à covid-19, que é de infecciologia, com 12 camas para covid-19 e duas não covid, porque também há outras doenças que precisam de quartos de isolamento com pressão negativa, para tuberculose ou varicela, por exemplo”. Porém, frisa, que “um hospital como a Estefânia, que é um hospital central, e que recebe outros doentes, não podia ficar só com estas camas”: “Por isso, temos outra unidade adicionada que é uma enfermaria que foi adaptada para receber doentes covid-19/SARS-CoV-2 positivos com baixa infecciosidade, que são poucos infecciosos, mas também tem quatros de isolamento, e que serve de apoio a esta enfermaria, mas não está cheia.” Actualmente, prossegue, “tem uma ocupação residual”: “Temos de gerir as camas em função das doenças. Temos a outra enfermaria disponível, que pode ir até 20 camas para covid-19, essa enfermaria está preparada, pontualmente pode ter lá um doente, mas por organização de camas e não por sobrelotação.”

Neste momento, este médico está preocupado com o confinamento das crianças: “Vamos ter de enfrentar o problema do tempo em que estas crianças e pais estão confinados em casa. Esse, sim, é um problema. Ter crianças enfiadas em casa é muito complicado, mesmo em termos de saúde mental. Não podemos ter políticas de pára-arranca, faz mal e não resolve o problema. Neste momento, olhando retrospectivamente, o que é mais fácil, seria preferível medidas mais drásticas num curto espaço de tempo do que menos drásticas num tempo mais prolongado”.

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