Duarte Cordeiro apoia Pedro Nuno Santos

Duarte Cordeiro revê-se no texto de Pedro Nuno Santos. Mas o silêncio, mesmo na ala esquerda, é grande. Defender uma estratégia diferente de Costa não é popular por estes dias.

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Pedro Nuno Santos LUSA/MIGUEL A. LOPES

“Revejo-me no artigo”. Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, não quis comentar, para além destas três palavras, o texto que o ministro Pedro Nuno Santos publicou na edição de domingo do PÚBLICO. Mas deixou expresso o seu apoio à tese de recusa liminar de um PS “centrista” tal como foi defendida por Pedro Nuno Santos – afinal, Duarte Cordeiro é desde há muito compagnon de route do ministro das Infra-estruturas e assinou com ele a moção sectorial ao último congresso do PS que, ao quase “entronizar” Pedro Nuno como o líder da nova geração, levou Costa a pronunciar a famosa frase “aviso já que não meti os papéis para a reforma”.

O texto em que Pedro Nuno Santos afirma que a ausência do PS do combate das Presidenciais acabou a favorecer Ventura (“ao ter optado por não marcar presença no debate político das presidenciais, o PS contribuiu involuntariamente para a afirmação do candidato da extrema-direita”) surgiu, segundo alguns sectores do partido, num “mau timing”, com prejuízo da unidade do Governo, que está a viver os piores momentos da gestão da pandemia. Mesmo entre alguns apoiantes de Pedro Nuno existe a ideia de que a oportunidade não foi a melhor – mas, na verdade, se as presidenciais não foram adiadas, haveria pouco a fazer para quem queria debater a política das presidenciais.

Sobre a questão de o PS dever ter enfrentado nas presidenciais André Ventura, Francisco Assis já tinha alinhado pelo mesmo diapasão, durante um comício da campanha de Ana Gomes (que tanto Assis, da ala centrista, como Pedro Nuno, da ala esquerda, apoiaram). “A esquerda democrática não podia fugir ao combate nestas presidenciais (…). Em cada momento temos que perceber qual é o extremismo que constitui uma verdadeira ameaça. O extremismo que ameaça o consenso constitucional existente no nosso país é o extremismo de extrema-direita”. E o PS deveria ter estado presente, para Assis, que classificou André Ventura como “proto-fascista”. “Esse candidato está a construir uma personagem proto-fascista. Não estamos perante um simples fenómeno de populismo como já existe em todo o mundo”, disse Assis, no comício.

Ao recusar o PS centrista – onde de facto ele está actualmente, principalmente desde a implosão da “geringonça” –, Pedro Nuno Santos entra (mais uma vez) em conflito com António Costa e com a ala mais centrista do PS. Nessa ala, apontam-se os exemplos do falhanço de Jeremy Corbyn que virou à esquerda o Partido Trabalhista britânico e há pouco mais de um ano deixou o Labour com 32,1% e uma maioria absoluta dos conservadores.

Congresso na Primavera?

No início de Janeiro de 2020, o XXIII Congresso dos socialistas foi marcado para 30 e 31 de Maio, em Portimão. Entretanto, veio a covid e o congresso foi adiado sine die. A possibilidade de se realizar depois da Primavera – se a situação pandémica melhorar, o que é previsível – numa fórmula mais minimal e adaptada ao “novo normal” está em cima da mesa. A Renascença noticiava nesta segunda-feira que, para a direcção, o ideal é que se realize “o mais longe possível deste planalto covid e o mais antes possível das autárquicas”.

Agora, falta saber se Pedro Nuno Santos volta a apresentar uma moção sectorial ao Congresso – como a que o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, também subscreveu – e volta a protagonizar uma linha política diferente daquela que é seguida por António Costa. Mesmo que não opte por apresentar qualquer moção, nesta altura do campeonato nenhum socialista duvida de que não ficará nem calado nem sossegado.

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