Presidente Mattarella convida Mario Draghi para formar Governo em Itália

Presidente italiano pede equipa de tecnocratas e diz que se esta tentativa fracassar terá que haver eleições. Alertou para a incerteza que delas pode resultar devido à pandemia, à crise económica e ao panorama político – a Liga de Matteo Salvini está na frente das sondagens.

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Mario Draghi Ralph Orlowski/Reuters

O chefe de Estado italiano convidou o antigo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, para formar um Governo de unidade em Itália. Sergio Mattarella optou por escolher uma figura de prestígio no país como solução possível para uma crise política que se sobrepôs às crises económica e de saúde pública.

Draghi vai reunir-se com o Presidente italiano nesta quarta-feira. Em declarações feitas na noite desta terça-feira, citadas pelo jornal La Stampa, Mattarella confirmou que espera de Draghi um Governo de “elevado perfil, adequado para enfrentar as graves crises em curso: sanitárias, sociais, económicas, financeiras”. “Não podemos perder esta oportunidade que é crucial para o nosso futuro”, advertiu. 

Mattarella optou por esta solução de choque, como lhe chama o Financial Times, depois de as conversações para reconstruir a coligação no Governo chefiado por Giuseppe Conte terem fracassado. 

Depois de ser conhecido o falhanço das negociações entre os partidos – o anti-sistema 5 Estrelas, o Partido Democrático, de centro-esquerda, e o Itália Viva –, e antes de anunciada a solução Draghi, Mattarella disse que se esta nova tentativa fracassar terão que ser convocadas eleições antecipadas, e alertou para a incerteza que delas pode resultar – a Liga de Matteo Salvini (extrema-direita) continua na frente das sondagens e a votação teria que ser feita em plena crise da covid-19. Na Itália, já morreram 88 mil pessoas da doença provocada pelo coronavírus.

“Tenho o dever de enfatizar que o longo período de campanha eleitoral, assim como a redução da actividade governativa, seria coincidente com um momento crucial para o destino de Itália”, disse o Presidente. 

Conte demitiu-se a 26 de Janeiro, depois de Matteo Renzi, líder do Itália Viva, ter retirado os seus ministros do executivo devido a divergências com o primeiro-ministro sobre os planos para a gestão dos 200 mil milhões de euros da Comissão Europeia para financiar a recuperação económica depois da pandemia. 

Na semana passada, Mattarella incumbiu o presidente da câmara baixa do Parlamento, Roberto Fico, de averiguar se havia condições entre os partidos da coligação para assegurarem uma nova maioria. Não houve.

Segundo o La Stampa, Renzi e Fico conversaram e o líder da Itália Viva “agradece-lhe o seu empenho”, mas disse que não havia acordo. Para o Partido Democrata, “Renzi fez exigências sobre a estrutura do [novo] Governo antes mesmo de Conte ser de novo convocado: a ruptura é inexplicável”.

Apesar de ter apenas entre 2% e 3% nas sondagens, Renzi – que há muito entrou em rota de colisão com Conte – tornou-se o pivot da queda do segundo Governo Conte e da solução para um novo Governo – fontes da Itália Viva disseram à Reuters no domingo que o partido via com bons olhos a “solução Draghi”. 

Draghi saiu do BCE em 2019, depois de gerir a chamada “crise da zona euro”, quando a moeda única atravessou a maior crise financeira da sua história.

A opção de Mattarella de formar um Governo de unidade composto por tecnocratas foi já criticada pelos partidos de direita na oposição, que exigiam a realização de eleições desde a demissão de Giuseppe Conte.

Giorgia Meloni, líder dos Irmão de Itália, disse que este Governo “nascido num laboratório” não vai resolver os problemas de saúde, económicos e sociais do país. “Numa democracia avançada”, disse, “os cidadãos são senhores do seu destino através do seu voto”.

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