Birmânia: centenas de deputados em prisão domiciliária e Suu Kyi em parte incerta

Cerca de 400 deputados estão confinados num edifício governamental desde o golpe militar de segunda-feira. Líder do país asiático está de “boa saúde”, mas o seu paradeiro é desconhecido.

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Militares bloquearam a estrada que leva ao Parlamento birmanês MAUNG LONGLAN/EPA

Centenas de deputados birmaneses estão retidos numa residência governamental na capital, Naypyidaw, um dia depois de o Exército ter levado a cabo um golpe militar e detido os principais responsáveis políticos do país. O paradeiro de Aung San Suu Kyi, líder de facto da Birmânia, é, no entanto desconhecido, apesar das informações recolhidas pelo seu partido de que estará de “boa saúde”.

“Não há planos para transferirem a Sra. Aung San Suu Kyi e o Dr. Myo Aung. Soubemos que se encontram de boa saúde”, revelou Kyi Toe, dirigente político da Liga Nacional para a Democracia (NLD), numa mensagem partilhada esta terça-feira no Facebook, que faz também referência a um dos aliados da vencedora do Prémio Nobel da Paz de 1991, igualmente detido.

Suu Kyi, o Presidente Win Myint, os governadores estaduais e vários membros do NLD estarão em prisão domiciliária.

Num regime semelhante, mas nos edifícios estatais de Naypidaw, estão cerca de 400 deputados, impedidos de sair, noticia a Associated Press. Um dos deputados disse à agência noticiosa que o edifício está cercado por militares e que há polícias dentro das instalações.

Segundo o parlamentar, que teme pela sua segurança e pediu o anonimato, os políticos – a maioria da NLD – passaram a noite sem conseguir dormir, com medo de serem presos. “Tivemos de ficar acordados e alerta”, contou.

“Temos alimentos, mas não podemos sair das instalações, por causa dos soldados”, disse outra deputada à AFP.

As detenções e o golpe militar ocorreram no dia em que o Parlamento eleito nas legislativas que deram maioria absoluta à NLD se preparava para iniciar a sua primeira sessão.

O partido de Aung San Suu Kyi voltou a exigir nesta terça-feira a sua libertação imediata, bem como dos restantes políticos detidos, denunciando “uma mancha na história do Estado e do Tatmadaw”, o Exército birmanês.

Golpe militar

As Forças Armadas da Birmânia, que governaram o país com mão de ferro entre 1962 e 2011 – e que continuam a ter um papel central na sua governação, muito por causa dos privilégios que consagraram na Constituição de 2008, por si redigida – retomaram o controlo de todo o aparelho de Estado na segunda-feira.

Para além de terem decretado estado de emergência durante um ano, prenderam ou afastaram os principais dirigentes políticos, nomearam novos ministros, cortaram as comunicações e a Internet e fecharam fronteiras e o espaço aéreo.

Para justificar o golpe, condenado pela comunidade internacional ocidental, os militares asseguraram que as eleições legislativas de Novembro do ano passado foram marcadas por “enormes irregularidades” – algo que a Comissão Eleitoral nega e que o Supremo Tribunal ainda está a analisar.

O partido de Aung San Suu Kyi, que está no poder desde as eleições de 2015, venceu por larga maioria as eleições.

A vitória da NLD confirmou a grande popularidade que líder birmanesa tem no país, apesar da má reputação internacional pelas políticas contra a minoria étnica rohingya, a quem é negada a cidadania e o voto, entre outros direitos, e que, segundo as Nações Unidas, foi alvo de genocídio, levado a cabo pelas autoridades do país.

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