Em confinamento, as crianças não andam a cumprir as tarefas? Eis como dar a volta

É um facto que os pais passam a vida a reclamar dos quartos desarrumados dos filhos, mas nesta pandemia, sem desportos, sem eventos, sem viagens e sem educação fora de casa, as simples tarefas domésticas não deveriam ser isso mesmo: simples?

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Katie Emslie/Unsplash

Desde o início da pandemia que os quartos dos meus filhos parecem uma residência universitária. Mas, em vez de latas de cerveja e caixas de pizza vazias, os meus filhos têm dez garrafas de água e bocados de sanduíches de manteiga de amendoim com geleia espalhados por todo o lado. Dois dos meus três filhos, de 12 e 15 anos (estes últimos são gémeos), consideram que é um desafio ser organizado, mas, neste momento, passarem mais tempo em casa tornou-se uma guerra.

É um facto que os pais passam a vida a reclamar dos quartos desarrumados dos filhos, mas nesta pandemia, sem desportos, sem eventos, sem viagens e sem educação fora de casa, as simples tarefas domésticas não deveriam ser isso mesmo, simples?

Já percebemos que nada que diga respeito a viver durante esta pandemia é simples... Os especialistas dizem que o mundo não estruturado e não organizado em que as crianças vivem neste momento é um bom argumento para tornar mais difícil a concretização das tarefas que elas fariam antes, mesmo com relutância.

“Quando se fazem as actividades e se vai para a escola, as tarefas têm um limite de tempo. Quando se está em casa, há alguma coisa para fazer, parece que não tem fim. E, ao mesmo tempo, parece inútil. Por que razão estou a fazer isto agora se estarei a fazê-lo novamente daqui a uma hora. É como um ciclo sem fim”, descreve Sonya Belletti, assistente social clínica em Coral Springs, Florida.

O medo e a incerteza persistente causados ​​pela pandemia também podem exacerbar um problema que impede as crianças de fazerem as suas tarefas nos melhores momentos, diz Belletti, que pensa que quando as crianças evitam as tarefas, isso pode estar relacionado com a tentativa de sentirem que são elas que têm o controlo. “As crianças não têm muitos momentos de empoderamento”, constata.

Então, como podemos ajudar as crianças que estão a passar por estes momentos difíceis? 

Pense na mensagem que está a transmitir

“Como adultos, crescemos a acreditar que as tarefas eram pesadas. Sentimo-nos oprimidos pela quantidade de tempo que gastamos e, por isso, estamos ressentidos, como adultos, como pais, de quanto trabalho tudo isso dá”, começa por dizer Laura Markham, psicóloga clínica e autora do livro Peaceful Parent, Happy Kids: How to Stop Yelling and Start Connecting (2012). E se transmitirmos esse ressentimento aos nossos filhos, continua a especialista, não podemos esperar que eles se sintam bem com a realizaçãode tarefas domésticas.

Em vez disso, explique-lhes por que as tarefas são importantes. Alyse Bone, conselheira clínica de saúde mental da Dandelion Family Counseling em Charlotte, N.C., sugere que os pais expliquem que quando, por exemplo, o quarto está organizado é mais fácil encontrar as coisas e a pessoa sente-se menos frustrada. “Quando as coisas estão limpas, sentimo-nos bem por dentro.” Markham sugere que explique que as tarefas domésticas são importantes porque é assim que mostramos respeito e contribuimos par ao bem-estar familiar.

Deixe as crianças darem opinião

As reuniões de família podem ser um momento para discutir quais as tarefas domésticas que precisam de ser feitas, quem fará cada uma, por que as tarefas são importantes e quais são as expectativas de cada elemento do agregado familiar. “Quando permite que o seu filho escolha uma tarefa, ele sente que foi tido em conta, que foi respeitado, que pode decidir o que fazer”, explica Bone.

Concentre-se no tempo, não nas tarefas

Yuzu Sasaki Byrne, uma especialista em hiperactiva de Chicago, recomenda a técnica Pomodoro, ou seja, tornar a tarefa limitada no tempo em vez de os pais se focarem na conclusão da tarefa. “Experimente passar cinco minutos limpando a sua mesa e veja o quanto pode fazer nesse período de tempo”, diz. Para as crianças, os pais podem usar um cronómetro para que saibam que estão a limpar o quarto há uma hora, explica Bone. Isso pode ajudá-los a sentirem-se menos sobrecarregados.

Estar presente

Linda Anderson, terapeuta de crianças com défice de atenção e hiperactividade, defende que a presença dos pais pode servir como uma âncora física para a criança distraída, bem como uma fonte de calma quando ela executa uma tarefa. “A sua presença ajuda-os concentrar-se”, diz Sasaki Byrne.

Façam as tarefas juntos

Quando os pais fazem tarefas domésticas com os filhos, eles podem criar um sentido de comunidade enquanto aprendem a ter comportamentos responsáveis. “Quando criamos uma equipa de família, as crianças sentem orgulho por contribuírem”, diz Markham, que recomenda os pais a terem uma atitude positiva, criarem uma conversa divertida sobre como tudo está limpo ou arrumado e como eles fizeram parte e contribuíram. Se o seu filho com problemas para manter o quarto limpo, ofereça-se para ser seu assistente. “Isso anula a luta pelo poder. Se a sua casa estiver uma confusão, não gostaria que alguém entrasse e dissesse: ‘Faz isto, faz aquilo’. É preferível ouvir: ‘Queres que eu seja teu assistente por uma hora?’”

Deixe claras as suas expectativas 

Bone diz que uma das razões pelas quais as crianças podem ter dificuldades com as tarefas domésticas é que os pais podem não lhes ter mostrado exactamente como fazer bem essas tarefas. “Limpar o quarto” pode parecer uma tarefa óbvia, mas já explicou ao seu filho qual é a sua definição de “limpar”? “Na cabeça deles, todas as roupas no chão e tudo o que está espalhado por toda parte está limpo e organizado para eles. Porque eles sabem onde está tudo”, justifica.

A falta de clareza — e as falhas inevitáveis ​​que os pais encontram nos resultados — podem tornar as crianças menos dispostas a fazer o trabalho com medo do fracasso, diz Markham. “Às vezes, as crianças acham que é difícil fazer um trabalho bom o suficiente ou que não vão agradar aos pais”, comenta.

Não desista. Por mais que seja mais fácil tirar o lixo sozinho ou colocar a louça suja na máquina, os pais não estão a fazer nenhum favor aos filhos. “Acho que as tarefas são super importantes. É uma oportunidade para as crianças aprenderem competências para a vida e promover o seu sentido de comunidade. A família é a primeira experiência de comunidade”, conclui Sasaki Byrne.

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