Linha de alta velocidade entre Lisboa e o Porto vai “encolher” o país

Aproximar as duas capitais à distância de 1h15 tem implicações noutras cidades, que ficarão também mais próximas de Lisboa e do Porto.

Foto
Nelson Garrido

A opção pela linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto ser construída em bitola ibérica permite uma maior integração na rede ferroviária nacional, ao possibilitar que comboios com outras origens e destinos utilizem este corredor para encurtar tempos de percurso. Uma linha em bitola europeia, pelo contrário, seria uma infra-estrutura isolada, que dificultaria essa integração.

É desta forma que, por exemplo, Guarda vai poupar 36 e 53 minutos, respectivamente, no tempo de viagem entre Lisboa e o Porto, ou que Santarém vai ficar a menos 43 minutos do Porto e que de Abrantes se possa chegar a Campanhã em menos 49 minutos. Já Figueira da Foz ganha 47 minutos na viagem de comboio para o Porto face aos tempos actuais.

António Laranjo, presidente da Infra-estruturas de Portugal (IP), abordou esta questão ao apresentar o Programa Nacional de Investimento 2030 na Conferência da Plataforma Ferroviária Portuguesa, que decorre esta terça e quarta-feira em formato online e que conta com 1500 inscritos e um painel de oradores com representantes de vários países europeus.

A explicação para este “encolher” do país, que se vai reflectir numa aproximação do interior Centro e Norte ao litoral, deve-se à possibilidade de os comboios poderem usar as linhas convencionais e entrarem na de alta velocidade – que será uma espécie de “auto-estrada ferroviária” –, diminuindo assim os tempos de viagem.

O administrador reconheceu que os investimentos em curso no Ferrovia 2020 foram pensados sobretudo para as mercadorias e, perante perguntas da assistência, admitiu também que as supostas modernizações das linhas do Oeste e do Algarve não passam de electrificações com instalação de sinalização electrónica, sem grandes repercussões no aumento de velocidades.

Em contrapartida, a IP promete agora uma mudança de paradigma no PNI 2030 com investimentos mais focados no serviço de passageiros e linhas que permitam circular com comboios mais rápidos. Uma nova abordagem que tem em conta aquilo que a comissária europeia dos Transportes, Aldina Valean, tinha afirmado no início da conferência – a Europa precisa de manter uma rede ferroviária densa tal como está consignado no Livro Branco dos Transportes.

Uma rede densa significa que deve possuir redundâncias e alternativas, o que não acontece em Portugal,depois de se terem fechado 1200 quilómetros de vias-férreas nos últimos 35 anos.

Uma Autoeuropa ferroviária

O presidente da CP, Nuno Freitas, divulgou uma extensa lista daquilo que foi feito no último ano em termos de recuperação de material circulante para poder estabilizar uma oferta que se caracterizava pelas frequentes supressões de comboios por falta de material.

Utilizar carruagens e locomotivas antigas será a solução para o curto e médio prazo, mas o administrador diz que a CP precisa de mais 250 comboios para os próximos dez anos, “só para poder manter a oferta actual”. E tendo em conta as aquisições de material circulante previstas (22 composições em concurso e 129 no âmbito do PNI 2030), voltou a insistir na ideia de Portugal poder também produzir comboios, até porque, com a “bazuca europeia”, outros países vão também fazer grandes encomendas e a indústria actual terá dificuldades de capacidade.

O centro de competências da ferrovia que a CP, em conjunto com outros parceiros, pretende criar em Guifões poderá ser o embrião da indústria ferroviária nacional do futuro. Ali se pretende juntar um centro tecnológico, uma escola ferroviária e uma incubadora de empresas, num projecto que deverá ter uma elevada componente privada.

Nuno Freitas disse que há condições para Portugal receber uma multinacional da indústria ferroviária e recordou que Guifões está muito próxima de Leixões – ligada por via-férrea –, pelo que é fácil escoar e exportar a produção.

António Costa e Silva, que moderou o debate, referiu precisamente a necessidade de juntar todos os intervenientes no sector para se poder criar uma “Autoeuropa ferroviária”.

A automotora que ficou sem gasóleo

À mesma hora em que o presidente da CP falava na Portugal Railway Summit 2021, uma velha automotora espanhola, alugada pela empresa à Renfe, ficava parada na Estação de Torres Vedras por... falta de gasóleo.

Tratava-se do comboio regional que tinha saído de Meleças às 9h27 e que se destinava às Caldas da Rainha, aonde deveria chegar às 11h11, mas que não passou de Torres Vedras porque os depósitos de combustível ficaram vazios.

Uma outra automotora teve de ir em marcha especial das Caldas da Rainha para resgatar a sua “irmã”, trazendo-a para as Caldas a fim de a abastecer. Por esse motivo, todo o tráfego da Linha do Oeste ficou alterado durante o dia, com atrasos que somaram várias horas. Fonte oficial da CP disse ao PÚBLICO que a falta de gasóleo “decorreu de um lapso de comunicação e execução” nos serviços internos da empresa”.

Já em Abril do ano passado tinha sido suprimido um comboio por falta de gasóleo na Linha do Vouga.

Sugerir correcção
Ler 11 comentários