Após um ano de atritos, Villas-Boas rompeu a corda em Marselha

O treinador anunciou nesta terça-feira a intenção de demitir-se. Os marselheses responderam com um processo disciplinar por “acções e atitudes que prejudicam gravemente” o clube.

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André Villas-Boas Reuters

Um ano e oito meses depois de chegar a Marselha, período durante o qual foi eleito o “melhor treinador da época 2019-20” da Liga francesa pelos leitores do L'Equipe, André Villas-Boas deixou o comando técnico dos marselheses. O treinador português rompeu nesta terça-feira a corda ao apresentar a sua demissão por não concordar “com a política desportiva” do clube do Sul de França, mas os atritos entre Villas-Boas e o presidente do Marselha remontam ao início do ano, quando Jacques-Henri Eyraud contratou Paul Aldridge como consultor no mercado.

A história é longa e teve vários capítulos, mas o divórcio entre Villas-Boas e o Marselha estava anunciado. No passado sábado, com o clube a atravessar uma crise de resultados – quatro derrotas consecutivas -, o treinador admitiu que não havia contactos para renovar o seu contrato que termina no final da época e, por isso, não pensava ficar em Marselha.

Para agravar a actual momento dos marselheses, no dia seguinte cerca de três centenas de adeptos do clube invadiram o centro de treinos do vice-campeão francês, protestando de forma violenta contra a direcção de Jacques-Henri Eyraud.

Com o clube em pé de guerra, Villas-Boas lançou mais uma bomba. O português apresentou-se nesta terça-feira no auditório do centro de estágio dos marselheses para fazer a antevisão do jogo de quarta-feira, em Lens, mas a partida da “Ligue 1” rapidamente deixou de ter interesse: “Apresentei a minha demissão. Não concordo com a política desportiva. Não quero nada do Marselha, nem dinheiro. Só quero ir-me embora.”

Na origem das palavras de Villas-Boas está, segundo o treinador, a contratação no fecho do mercado de Inverno do médio Olivier Ntacham, um jogador que Villas-Boas disse não querer. “Não é a primeira vez que um jogador que não é escolha do treinador chega a um clube, mas essa não é a minha maneira de trabalhar. Soube esta manhã pela imprensa.”

Um par de horas depois chegou a resposta do Marselha. Num comunicado, o clube referiu que os “comentários feitos durante a conferência de imprensa foram inaceitáveis” e, por esse motivo, foi aberto um processo disciplinar a Villas-Boas por “acções e atitudes que prejudicam gravemente” o Marselha.

A saída pouco amistosa de Villas-Boas da equipa marselhesa é o epílogo de um diferendo entre treinador e presidente que se arrasta há um ano. Em Janeiro de 2020, Jacques-Henri Eyraud anunciou a chegada ao clube de Paul Aldridge, para desempenhar as funções de consultor no mercado. A contratação do inglês fragilizou a posição de Andoni Zubizarreta, na altura director desportivo do Marselha e responsável pela chegada de Villas-Boas ao clube.

No seu estilo acutilante, o português reagiu de imediato à chegada de Aldridge sem disfarçar o incómodo: “Deixei a China, onde me pagavam 12 milhões de euros, para ir para o Dakar. Estava mais perto de ir para o México ou para a Argentina do que voltar à Europa e assinar pelo Marselha. Vim pela minha relação com o Zubizarreta. Se levarem isso em conta, já têm a vossa resposta.”

Quatro meses depois, Zubizarreta acordou com Eyraud a sua saída, provocando danos irreparáveis na relação entre Vilas-Boas com os dirigentes marselheses, o que resultou agora na tumultuosa saída do treinador, num diferendo que deverá seguir para as vias judiciais.

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