Vídeo mostra polícia a usar gás-pimenta contra menina de nove anos algemada

Chefe da polícia admite que acção de neutralização possa ter sido exagerada. Departamento de Rochester, em Nova Iorque, tinha sido responsável por asfixiar até à morte homem com perturbações mentais, em Março de 2020.

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Frame do vídeo da polícia de Rochester que mostra o momento em que jovem é atingida Reuters/ROCHESTER PD

O departamento da polícia de Rochester, cidade no estado de Nova Iorque, divulgou imagens que mostram uma menina de nove anos a ser atingida com um spray de gás-pimenta enquanto estava algemada no banco de trás de um veículo policial.

Os agentes tinham sido chamados a um incidente de desordem familiar, durante a tarde da passada sexta-feira. Um agente encontrou a menina na rua, questionando-a sobre o que se tinha passado. “A minha mãe esfaqueou o meu pai”, respondeu a criança a soluçar. Ao lado do polícia, a mãe contrariava a versão da menina: “O sangue era o meu, do meu lábio. Tu vês que ele todos os dias me bate...”

Depois de uma troca de palavras acesas com a mãe — com a adulta a tentar bater na criança — a menina de nove anos fica assustada e pede a presença do pai, enquanto os agentes lhe colocavam algemas: “Quero o meu pai, por favor! A minha mãe está grávida. Quero o meu pai!”

Após ser manietada pela polícia, ouve-se um polícia a pedir à criança que se sente no carro-patrulha. Após uma primeira recusa, a criança é colocada no banco traseiro de um veículo do departamento de polícia de Rochester. Uma agente pede à criança que se acalme, mas a menina não se acalma. Com a porta do carro aberta, um colega lança a ordem que causou polémica: “A esta altura, mais vale usares o gás-pimenta”.

A jovem foi atingida com esta substância, gritando de dor enquanto os agentes fecham as portas do carro e se reúnem. “Inacreditável”, desabafou um dos agentes que pediu à jovem para se acalmar.

As imagens da acção policial foram publicadas 48 horas após o incidente e causaram revolta. Em conferência de imprensa, o responsável pelo departamento, Andre Anderson, disse que os agentes tinham sido informados de que a jovem se queria se suicidar e magoar a mãe. Contudo, o responsável admite, com base no vídeo divulgado, que a criança não estaria a ameaçar a integridade dos agentes.

“Não parecia que ela estava a resistir aos agentes. Ela estava a tentar não ser dominada [pela polícia] para ir ao hospital. Enquanto os agentes fizeram inúmeras tentativas para que ela entrasse no carro, um agente atingiu a jovem com gás-pimenta para que ela entrasse”, afirmou o responsável pelo departamento citado pelo The Guardian

A chefe da polícia de Rochester, Cynthia Herriot-Sullivan, não esconde que a táctica usada contra a criança pode ter sido exagerada: “Não vou estar aqui a dizer que atirar gás-pimenta a uma criança de nove anos é aceitável. Vamos fazer o trabalho para garantir que estes tipos de coisas não aconteçam”, finalizou.

A única voz oficial de defesa dos polícias surgiu do líder sindical deste departamento: Mike Mazzeo defendeu que o uso de gás-pimenta não teve consequências graves para a jovem, considerando que seria pior se os agentes tivessem usado maior força física. “[O agente] tomou a decisão que pensou ser a melhor. Não resultou em lesões para a criança. Se eles tivessem insistido, e usado mais força, há uma grande probabilidade de que a jovem se tivesse magoado”, afirmou Mike Mazzeo.

Este incidente volta a puxar os holofotes mediáticos para o departamento de Rochester, que já tinha estado sob escrutínio após a morte de Daniel Prude, em Março de 2020. O cidadão negro de 41 anos, com problemas mentais, foi asfixiado até à morte por agentes da polícia. Prude estava a correr pelas ruas da cidade sem roupa, com o próprio irmão a relatar a ocorrência à polícia de Rochester, alertando os agentes para os problemas mentais de que o irmão sofria.

Os vídeos recolhidos pelos polícias mostram o homem a obedecer às ordens, colocando as mãos atrás das costas para ser algemado. Depois de ser neutralizado, os agentes puseram-lhe um capuz especial na cabeça, usado para evitar que os detidos cuspam e mordam, conhecido por “spit hood”. Prude pediu que lhe retirassem o capuz, mas um dos agentes atirou-o ao chão, pressionando a cabeça do homem contra o pavimento. Um terceiro agente estava ajoelhado nas costas de Prude. Dois minutos depois, deixou de se mexer. Foi transportado para o hospital, morrendo sete dias depois.

O caso motivou protestos nas ruas e originou a demissão dos líderes da polícia de Rochester e a suspensão dos agentes envolvidos

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