Todos os casos suspeitos de vacinação abusiva “serão investigados” e serão “retiradas consequências”, diz ministra da Saúde

Cerca de 70 mil pessoas em Portugal já estão completamente imunizadas contra a covid-19. Ministérios da Defesa Nacional e da Saúde confirmam que Portugal aceita a ajuda oferecida pela Alemanha. Primeiro apoio chega esta quarta-feira.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

A ministra da Saúde garantiu esta segunda-feira que todos os casos suspeitos de vacinação indevida contra a covid serão investigados e deles tiradas as devidas consequências. Em conferência de imprensa, Marta Temido revelou que 70 mil pessoas em Portugal já estão completamente imunizadas contra a covid-19 e que cerca de 270 mil já fizeram a primeira toma. Em comunicado, os ministérios da Defesa Nacional e da Saúde confirmam que Portugal aceita a ajuda oferecida pela Alemanha. O primeiro apoio chega esta quarta-feira.

“Aquilo que foram circunstâncias de incumprimento de vacinação merecem o nosso repúdio mais veemente possível e, portanto, o Ministério da Saúde e todas as suas entidades estão empenhadas que esses casos não se voltem a repetir”, afirmou Marta Temido, após ter feito um balanço das pessoas vacinadas até ao momento e ter dado conta da nova fase do plano. O tema continuou em destaque, ao ser questionada sobre se o presidente do INEM mantém a sua confiança, após ter sido noticiada a vacinação de pessoas não prioritárias no instituto e de na delegação do Porto ter ocorrido a vacinação de profissionais de uma pastelaria. Ambos os casos estão a ser investigados pela Procuradoria-Geral da República.

“Todas as situações que tenham sido reportadas como desvio às regras serão investigadas por quem de direito e retiradas as consequências que sejam as recomendadas após a investigação. “Desde a semana passada que a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde está a auditar estas situações e semanalmente será feito um relatório desse processo”, reforçou a ministra, que voltou a não clarificar em que quadro legal as situações abusivas podem recair. Disse apenas que este “está previamente definido”.

A este ponto, antecedeu-se um balanço da vacinação. Até ao momento, Portugal já recebeu 387.270 vacinas da Pfizer e 19.200 da Moderna e ainda este mês estão previstas mais cinco entregas entre as duas companhias farmacêuticas. A expectativa é a de que a estas se juntem também duas entregas por parte da Astrazeneca, cuja vacina recebeu uma autorização condicional no final da semana passada por parte da Agência Europeia do Medicamento. Será preciso ainda confirmar a informação, mas prevê-se que as entregas deste terceiro laboratório ocorram a 9 e 19 deste mês. “Serão cerca de 200 mil doses de um total de 6,8 milhões de doses” contratualizadas com Portugal.

Até às 13 horas desta segunda-feira já estavam inoculadas cerca de 340 mil pessoas, das quais 270 mil com a primeira dose e 70 mil com as duas doses. Prossegue também a vacinação de profissionais de saúde dos sectores privado, social e ainda das unidades públicas identificados como prioritários, dos lares, das estruturas similares e unidades da rede de cuidados continuados cujos surtos já foram dados como concluídos – e que tinham impedido que a vacinação ocorresse antes – e vai estar em curso a vacinação das pessoas com mais de 80 anos e dos que têm entre 50 e 79 anos com pelo menos uma das quatro doenças de risco associadas à hospitalização ou morte quando infectados com covid (doença coronária, insuficiência cardíaca, insuficiência renal e doença pulmonar obstrutiva crónica).

Convocatória é feita por SMS

Estes dois últimos grupos, referiu a ministra da Saúde, representam “um universo de cerca de 900 mil pessoas que irão agora ser contactadas para a vacinação”. Um processo que é mais complexo, já que não é o SNS que se desloca para fazer a vacinação – como aconteceu nos lares e hospitais -, mas são as pessoas que terão de se deslocar aos serviços.

O presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), Luís Goes Pinheiro, explicou que a convocatória será feita “preferencialmente” por SMS para o número que está registado nos centros de saúde. Já decorrem projectos-piloto nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e no Norte, que começaram na quinta-feira passada e no fim-de-semana, respectivamente. Também na região Centro e no Algarve estão a ser feitos os primeiros testes.

“Será feito o envio de uma SMS para o número de telemóvel registado no sistema com uma mensagem muito directa em que diz que o agendamento da vacinação está feito para o dia tal, às tantas horas e em determinado local e só tem de responder sim ou não. Se responder sim, o agendamento fica confirmado. Se responder não ou não responder dentro do prazo determinado, será enviado uma nova SMS com nova data. Se responder não ou se houver silêncio no prazo determinado, será entendido como uma rejeição e será identificado para tratamento posterior por parte do centro de saúde”, explicou Goes Pinheiro.

Nestes casos, referiu, o centro de saúde poderá repetir o envio da SMS, fazer directamente um contacto telefónico para aquele ou para outro número que esteja registado no sistema e em última instância será enviada uma carta, que é gerada automaticamente pelo sistema, para casa do utente. Quanto às pessoas que confirmarem a intenção de fazerem a vacinação na data agendada, na véspera voltam a receber uma nova SMS para que não se esqueçam de comparecer no centro de saúde ou no local indicado para a realização da vacina.

Ajuda alemã chega quarta-feira

Na conferência de imprensa, a ministra da Saúde foi questionada sobre o silêncio do Governo relativo à ajuda alemã, anunciada pela ministra da Defesa daquele país nas redes sociais. “Foram feitos vários contactos com países que demonstraram a sua disponibilidade, outros com quem temos relações de trabalho – a nossa ‘vizinha’ Espanha – com quem fomos construindo soluções que sirvam os portugueses. Optámos por não transmitir publicamente uma informação que não estava confirmada, neste momento estamos mais próximos que se possa concretizar uma colaboração com a Alemanha, como foi transmitido pela ministra da Defesa alemã.”

“Quando tivermos a certeza total do número de profissionais, quando chegam e como vão trabalhar, daremos conta a toda a população”, disse Marta Temido, referindo que é do entendimento dos profissionais portugueses que ainda há capacidade para alargar a oferta de cuidados intensivos nacionais e que essa será a principal aposta.

Mas essa certeza quanto à ajuda alemã já tinha sido dada pelo governo germânico nas redes sociais quando anunciou que esta quarta-feira seriam enviados para Portugal 26 profissionais, assim como ventiladores e camas. Perante essa questão, Marta Temido remeteu dados mais actualizados para um comunicado conjunto dos ministérios da Saúde e da Defesa, que chegou cerca de uma hora depois às redacções.

“Na sequência de diversos contactos bilaterais, Portugal aceitou a proposta de colaboração do Governo Alemão para reforço da resposta à covid -19. Face ao trabalho técnico realizado, até ao momento, estima-se a chegada a Portugal, quarta-feira, dia 3 de Fevereiro, de uma equipa de profissionais de saúde militares com competências ao nível da Medicina Intensiva e ainda a cedência de material clínico (ventiladores, bombas e seringas de infusão). Estes profissionais permanecerão em Portugal durante um período de três semanas, estando prevista a sua substituição a cada 21 dias, até ao final de Março, caso seja necessário”, esclarece a nota dos dois ministérios.

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