Hospital de São João usa pulseiras para prevenir fuga de doentes

Dispositivo destina-se a pessoas com quadros de demência, ou outras, que apresentem um risco de fuga. Medidas relacionadas com a covid-19, que impedem o acompanhamento dos doentes, contribuíram para o processo.

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Manuel Roberto

Os doentes que apresentem risco de fuga por terem demência, entre outras características, recebem agora no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, uma pulseira que emite sinais luminosos e sonoros de alerta.

O “Alerta São João” está a ser testado há cerca de três semanas e “não visa prender ninguém”, mas “proteger os doentes que podem colocar em risco a sua integridade física” por insistirem em sair do espaço do serviço de Urgência durante o período de tratamento, descreveu aos jornalistas o director da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Hospital de São João, Nelson Pereira.

Em causa estão doentes com quadros demenciais, bem como todos os doentes em que existam dúvidas quanto a eventual risco de fuga ou com incapacidade de perceber a real necessidade de intervenção clínica de urgência. Somam-se doentes conduzidos por agentes da autoridade, com mandado de condução para internamento compulsivo, pessoas identificadas após tentativas de suicídio e doentes agitados ou com quadros de alteração comportamental de características psicóticas.

“Na triagem, ou em qualquer momento, se identificado o risco [de fuga] é colocada uma pulseira ergonómica que fica no pulso do doente e o acompanha em todo o percurso”, descreveu Nelson Pereira.

A directora do serviço de Urgência, Cristina Marujo, garantiu que se trata de “algo confortável, até porque muitos doentes permanecem um período considerável no serviço, mas algo que o próprio não é capaz de retirar”.

A somar à colocação da pulseira - processo que é explicado ao acompanhante do utente no processo de triagem -- o projecto conta com sensores magnéticos colocados junto às portas do serviço de Urgência, que disparam sinais sonoros e luminosos se o doente identificado se aproximar de forma indevida.

“Os nossos vigilantes reconhecem os sinais e conduzem a pessoa ao espaço onde deve estar”, acrescentou Nelson Pereira, admitindo que o problema, “identificado no passado”, se tornou mais actual com a impossibilidade dos acompanhantes permanecerem o tempo todo com o doente devido a regras associadas à pandemia da covid-19.

Lembrando que o Hospital de São João tem uma urgência metropolitana de psiquiatria e que “todos os hospitais sofrem” com este tipo de fugas, Nelson Pereira apontou que, ainda que “não tenha sido registado um aumento de situações”, esta “solução tecnológica e organizativa permite lidar melhor com o dia-a-dia”. “Estamos com maior pressão, maior dispersão dos profissionais de saúde porque temos várias áreas novas para dar resposta. [O projecto] não foi criado devido à covid-19, mas ajuda naturalmente”, referiu o médico.

Cristina Marujo acrescentou que os acompanhantes se sentem “mais seguros”, porque “uma das maiores angústias que demonstram é deixar doentes demenciados no serviço”, receando que os mesmos “não saibam explicar e/ou depois que desapareçam sem ninguém dar conta”. “Para os familiares é uma forma de estarem mais seguros e tranquilos”, frisou.

Numa urgência pela qual passaram cerca de 250 doentes por dia nas últimas três semanas - um número que reflecte já uma diminuição explicada pelo confinamento uma vez que as médias pré-covid apontam 462 doentes/dia - foram colocados entre 15 a 20 pulseiras “Alerta São João” por dia.

As braceletes, inspiradas no sistema dos serviços de neonatologia em que os bebés são protegidos por risco de rapto, são cortadas após cada uso e o dispositivo higienizado.

No total foram adquiridos 50 dispositivos electrónicos. A pulseira é removida por alta do doente ou por razões clínicas para a não utilização.

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