Cientistas da OMS que investigam origens da covid-19 em Wuhan mantidos longe dos jornalistas

Mais de um ano passado desde que foi conhecido o primeiro caso do novo coronavírus e depois de muita negociação política morosa, os 13 especialistas começam a recolher as suas primeiras informações. Mas este sábado à tarde foram visitar museus.

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A equipa de cientistas depois de visitarem uma exposição sobre como a China combateu a pandemia THOMAS PETER/Reuters

A delegação de 13 especialistas internacionais da Organização Mundial de Saúde (OMS) cumpriu este sábado o segundo dia do programa de recolha de informação para estabelecer a origem da pandemia de covid-19. Esta é a primeira vez que as autoridades chinesas permitem que cientistas estrangeiros recolham informação in loco na cidade onde se terá dado a primeira transmissão do vírus a um ser humano.

A missão da OMS visitou uma das primeiras unidades de saúde de Wuhan, o Hospital Jinyintan, que tratou pacientes com covid-19, onde os cientistas tiveram “a importante oportunidade de falar directamente [com] médicos que estavam no terreno naquele momento crítico a combater o covid”, escreveu no Twitter Peter Daszak, especialista em ecologia das doenças e presidente da EcoHealth Alliance.

Para o cientista norte-americano, em declarações à NBC News, “se for permitida à ciência falar, isso ajudará a curar esta ferida e ajudar-nos-á a seguir em frente”, uma formulação curiosa que deixa subentendida nas entrelinhas que pode não haver essa permissão para que seja apenas a ciência a falar.

Esta foi uma visita difícil de garantir por parte da OMS, que envolveu muitas negociações com o Governo chinês, chegou a ser travada várias vezes e acontece mais de um ano depois, levantando muitas questões sobre a sua eficácia e se não chega demasiado tarde para que os cientistas possam descobrir onde e como tudo começou.

A tarde do segundo dia de visita foi passada a visitar museus, como refere o Global Times, jornal do Estado, citado pelo South China Morning Post, o que não deixa de levantar dúvidas sobre se o Governo chinês e o Presidente Xi Jinping estarão mesmo interessados que a verdade seja realmente conhecida. Como a possibilidade de confirmar a origem exacta do vírus, se foi mesmo transmitido ao ser humano por um animal, provavelmente um morcego, através de um hospedeiro.

“Todas as hipóteses estão em cima da mesa para a equipa que vai seguir a ciência no seu trabalho para perceber as origens do vírus #COVID19”, escreveu a OMS no Twitter. Os cientistas “vão falar com os primeiros que estiveram no terreno e com alguns dos primeiros pacientes de #COVID19”.

Sem falar com jornalistas

À saída do Hospital Jinyintan não foi permitido aos membros da delegação da OMS falarem com os jornalistas, mantidos à distância pelos serviços de segurança que rodeiam os cientistas nas várias etapas do seu programa.

A virologista holandesa Marion Koopmans, do Centro Médico da Universidade Erasmus, também recorreu ao Twitter: “Acabei de visitar o hospital Jinyintan, especializado em doenças infecciosas e que foi designado para o tratamento dos primeiros casos em Wuhan. As histórias são bastante parecidas às que ouvimos aos nossos médicos de UCI”.

A equipa de cientistas de dez países, entre especialistas em saúde pública, saúde animal e caçadores de vírus, chegou a 14 de Janeiro a Wuhan, mas só na quinta-feira terminou o período de quarentena obrigatória de 14 dias no hotel.

No Twitter da OMS, a organização lembrou: “Agora que os membros [da equipa] começam as suas visitas de campo esta sexta-feira, devem receber o apoio, o acesso e os dados que realmente precisam”.

A delegação da OMS discutiu o programa de visitas a hospitais, laboratórios e mercados na sexta-feira num encontro com cientistas chineses, onde se incluía Liang Wannian, membro da Comissão Nacional de Saúde que supervisionou a resposta chinesa ao vírus no ano passado.

De acordo com a OMS, entre os locais a visitar pelos cientistas estão o Instituto de Virologia de Wuhan, o mercado de produtos do mar de Wuhan e o laboratório do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças de Wuhan.

Este sábado, os 13 especialistas estiveram também no Hospital Provincial de Medicina Integrada Chinesa e Ocidental de Wuhan, onde trabalha Zhang Jixian, a quem as autoridades chinesas identificam como o primeiro médico a ter relatado aos seus superiores a existência de um vírus desconhecido no final de Dezembro de 2019.

Na sexta-feira, depois da visita a um hospital onde foram tratados alguns dos primeiros pacientes infectados com o SARS-CoV-2, Peter Daszak escreveu que a equipa tinha “conversado abertamente” com os clínicos e demais pessoal de outra unidade hospitalar de Wuhan que recebeu pacientes no princípio da pandemia: “São reuniões importantes para nos ajudar a compreender melhor o que aconteceu nos primeiros dias da covid-19”.

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