Sónia Gonçalves e as mutações que nos preocupam

Além das novas variantes do coronavírus SARS-CoV-2, falámos com a investigadora Sónia Gonçalves sobre como funcionava o aconselhamento dos cientistas aos políticos no Reino Unido.

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The Wistar Institute

Na mais recente edição do podcast quinzenal “Assim Fala a Ciência”, que ouve cientistas portugueses no mundo, um programa apoiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e co-organizado por mim e pelo bioquímico David Marçal, tive o gosto de conversar com Sónia Gonçalves, uma bióloga que, após ter feito o doutoramento na Universidade Nova de Lisboa, e de ter dirigido em Beja o Grupo de Investigação em Agrogenómica no Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo, obteve um lugar no Wellcome Sanger Institute, perto de Cambridge, no Reino Unido. Além de prosseguir os seus estudos na área da malária, passou a concentrar-se no vírus SARS-CoV-2 logo que ele apareceu na China. O Instituto onde trabalha fez 30% das sequenciações genómicas do novo coronavírus em todo o mundo, um trabalho essencial para a identificação de novas variantes, entre elas a já famosa “variante inglesa”.

Comecei por lhe perguntar em que consiste o seu trabalho no dia-a-dia: quais são os métodos que usa e quais são os objectivos? Falámos depois da variante identificada no Reino Unido. Quis saber quando foi descoberta e que consequências teve esse aparecimento. Sabendo que é mais transmissível do que as variantes que antes existiam, perguntei-lhe se percebíamos a razão de um tal poder de transmissão do ponto de vista da genómica e também se se confirmava o recente anúncio do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de que essa variante tem maior letalidade.

Em Portugal, o primeiro-ministro, António Costa, argumentou com a surpresa da variante do Reino Unido para justificar a decisão de fechar as escolas, invertendo uma decisão em sentido contrário tomada poucos dias antes. Perguntei-lhe que medidas de saúde pública, nas escolas e noutros lados, foram tomadas no Reino Unido para responder à nova variante. Tentei perceber como é que num país que é um dos mais avançados do mundo em genómica e noutras áreas de biomedicina, as estatísticas da doença continuavam tão más. O que é que Portugal pode aprender com as práticas e os resultados do Reino Unido? Em particular, interessou-me saber como funcionava o aconselhamento dos cientistas aos políticos num país onde existem mecanismos bem consolidados para essa interacção.

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Sónia Gonçalves DR

Além desta variante, cuja incidência nas novas infecções já é de 80% no Reino Unido, já se conhecem outras, como a da África do Sul e a do Brasil. Quis saber como é que elas se comparam em transmissibilidade e letalidade. Como enfrentar essas mutações que conferem vantagens a um vírus em multiplicação e, por isso, em mutação rápida? E o que fazer para actuar mais cedo em futuras pandemias?

Por último, falámos de genómica humana. No Reino Unido foram sequenciados os genomas de mais de cem mil utentes do Serviço Nacional de Saúde. Existirá alguma relação entre certas características genéticas nos humanos e um maior risco de doença grave em caso de infecção com o novo coronavírus?

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Este programa tem o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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