Visões Úteis cede recursos de produção para apoiar distribuição de alimentos em Campanhã

Depois de ver canceladas as apresentações da sua nova criação, a companhia de teatro portuense disponibilizou à Junta de Freguesia de Campanhã uma equipa de três pessoas e uma carrinha para ajudar na distribuição de alimentos aos moradores mais carenciados.

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A companhia cedeu a carrinha à Junta de Freguesia de Campanhã Visões Úteis/DR

A Visões Úteis, companhia de teatro portuense sediada na Rua Justino Teixeira, em Campanhã, colocou os recursos humanos e logísticos, concretamente uma equipa de três pessoas e uma viatura de carga, à disposição da Junta de Freguesia de Campanhã para “apoio à distribuição de alimentos aos moradores mais carenciados”, revelou esta sexta-feira Carlos Costa, director artístico, em publicação do Facebook. O PÚBLICO confirmou a informação junto do encenador da estrutura, que viu canceladas as apresentações, presencial e online, da sua mais recente criação Diziam que do outro lado havia um caminho que cortava o tempo da demanda em dois no Teatro Nacional de São João (TNSJ) face às medidas restritivas de combate à pandemia anunciadas pelo Governo.

O espectáculo, uma co-produção da Visões Úteis com o TNSJ e o Teatro Municipal de Vila Real, deveria ter subido ao palco no Porto esta quarta-feira, mas o agravamento da crise sanitária e o novo encerramento dos teatros atiraram toda a programação do TNSJ para o plano virtual. Recentemente, também a transmissão online da peça foi cancelada por “não estarem reunidas as condições para fazer, sequer, a montagem no início da semana”, explica Carlos Costa. Confrontada com esta “situação limite” e a decorrente inutilização de “uma série de recursos humanos e logísticos pensados para andar de um lado para o outro”, a companhia não quis ficar de braços cruzados.

Então, telefonaram a José António Pinto, assistente social na Junta de Campanhã, para oferecer uma série de meios que, de outra forma, ficariam encostados durante o período de vigência do confinamento geral. “Dissemos-lhe que teríamos todo o gosto em sair para realizar acções de solidariedade na freguesia”, relata Carlos Costa. A par dos recursos humanos e logísticos, frisa o director artístico, a Visões Úteis tem “uma grande capacidade de organização que pode ser útil neste momento de emergência”.

Desde o início da pandemia, as estruturas artísticas e culturais foram obrigadas a reconfigurar a sua programação e a pensá-la cada vez mais para as plataformas digitais para mitigar o impacto das salas vazias. Também a Visões Úteis tem vindo a reestruturar a sua actividade, concebendo, escrevendo e alinhando projectos para os próximos anos. Contudo, sublinha Carlos Costa, “por muita imaginação que se tenha, a impossibilidade de produzir [trabalho] nos termos habituais não permite usar alguns recursos existentes”. 

O também dramaturgo refere, ainda, que este gesto de solidariedade só foi possível devido à “posição privilegiada” que a companhia tem, neste momento, face a outras estruturas, já que está abrangida pelos apoios da Direcção-Geral das Artes (DGArtes). “A maior parte dos colegas do sector nem sequer consegue pensar nisto”, remata.

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